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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

O DESPERTAR

Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio AM em 20/12/2011
Artigos publicados

Elton John canta em uma das suas canções: “Churches and dictators, politics and papers, everything crumbles sooner or later…”

O desempregado Mohammed Bouazizi vendia frutas e legumes pelas ruas de uma cidade da Tunísia onde obtinha uma parca renda para ajudar sua família. As autoridades locais, alegando a inexistência de permissão para o comércio ambulante, confiscaram as mercadorias de Bouazizi. Testemunhas relataram a humilhação pública de uma funcionária da prefeitura que esbofeteou o ambulante e cuspiu nele, além de jogar fora as suas frutas. Desesperado pela perda da sua única fonte de sobrevivência o estapeado e despojado Bouazizi procurou as autoridades que se recusaram a ouvi-lo. Assim, o homem tomado pela absoluta desolação se encharcou de gasolina e colocou fogo em si mesmo na frente da sede regional do governo. Mohammed Bouazizi deixou uma mensagem para a mãe pedindo perdão por ter perdido a esperança em tudo.

A morte de Bouazizi foi o estopim que fez explodir uma onda de descontentamento que fermentava na alma do povo tunisiano, o qual saiu às ruas para se solidarizar com o legítimo protesto do seu mártir, cuja imolação inflamou os corações de tantos outros oprimidos. A coisa se expandiu de tal forma que em poucos dias fez cair os 23 anos da ditadura de Zine El Abidine Ben Ali. A onda revolucionária ultrapassou as fronteiras da Tunísia atingindo em cheio o Egito, que derrubou Hosni Mubarak, havia 30 anos no poder. Também, a Líbia e seu sanguinário Muamar Kadafi, que foi arrastado pelas ruas feito um cão sarnento. Ocorreram levantes na Argélia, Jordânia, Iêmen, Arábia Saudita, Líbano, Síria, Palestina, Omã, Mauritânia, Marrocos, Djibuti, Barein, Iraque e Kuwait. A imprensa internacional batizou esse movimento de Primavera Árabe em referência à Primavera dos Povos (1848). As pessoas de todas essas nações estavam mais do que saturadas das injustiças sociais, da corrupção e da opressão dos seus governos. O filósofo francês Jean-Paul Sartre disse que quando a liberdade eclode no espírito de um homem, dez não podem nada contra esse um.

2011 está sendo marcado como o ano das revoltas populares. Cansados do apetite insaciável dos ricos e do capitalismo desumanizador, os americanos ocuparam o templo sagrado de Wall Street, cujo índice da bolsa de valores tem que está sempre subindo não importando a quantidade de sangue que a massa de trabalhadores é obrigada a doar para garantir o contínuo crescimento do valor das ações ali negociadas. Russos, Europeus e até os chineses se rebelaram contra seus governos. De fato, pode-se considerar que algo inusitado e grandioso poderá ocorrer nos próximos meses ou anos. Elemento crucial nesse processo, o fenômeno global das redes sociais vem demonstrando uma força avassaladora que certamente já perturba o sono de tiranos e opressores dos mais diversos quadrantes. Será que testemunharemos o despertar da nação humana para o seu legítimo direito à liberdade e justiça social?

Conforme as palavras de Elton John, ditadores e políticos estão sucumbindo mais cedo do que muita gente imaginava. Já o couro das costas do brasileiro parece ser bastante grosso em vista da inércia frente à incansável atividade do chicote da corrupção e da injustiça social que assola o nosso país. Pelo jeito, a nossa primavera está longe de chegar. Estamos acabrunhados e imobilizados pelo inverno glacial que congelou o nosso espírito de luta. Já os nossos corruptos e algozes estão curtindo um belíssimo verão numa praia maravilhosa.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

GUERRA DO ARCO-ÍRIS

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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 13/08/2009 página A3 - A022

Era uma vez três reinos que ficavam assentados em três grandes nuvens: o reino vermelho, o reino amarelo e o reino azul. Os integrantes de uma localidade podiam avistar ao longe os dois vizinhos, mas não dispunham de tecnologia que permitisse o deslocamento de uma nação à outra. As pessoas estavam separadas por um profundo abismo. Cada cidadão era obrigado a contemplar, valorizar e defender a cor dominante do seu povo. No reino vermelho tudo era vermelho, as roupas, as joias, as paredes, os tapetes etc. Afinal de contas, o vermelho era lindo. No reino amarelo, da mesma forma. Os habitantes do reino azul eram ardorosamente fanáticos pela cor safira, sendo que, se alguém criasse um novo tom para o azul, logo se transformava numa celebridade instantânea.

Numa bela manhã de outono o cientista mais famoso do reino amarelo criou um revolucionário equipamento de transporte aéreo. Então, logo em seguida ele resolveu fazer um teste: viajou no protótipo até o reino vermelho. Chegando lá, encontrou uma bela mulher de lábios saborosamente vermelhos que, obviamente, vestia um magnífico vestido vermelho. Os dois se apaixonaram de imediato e começaram a namorar. Uma denúncia anônima levou os agentes da lei a perseguir o casal até que foram apanhados em flagrante. A mulher foi presa, mas o homem fugiu para o reino amarelo levando consigo uma rosa vermelha que recebeu da sua amada. Estando de volta à sua terra natal, o inventor apresentou sua criação às autoridades que de imediato prepararam uma grande cerimônia para comemorar tão importante conquista. Eis que ao receber a premiação o homem exibiu a rosa vermelha para um grande público. O gesto chocou a todos. Por causa de tamanha heresia o inventor foi do céu ao inferno em poucos minutos, sendo recolhido de pronto a uma penitenciária de segurança máxima.

Com a tecnologia de transporte dominada, um imenso contingente de soldados amarelos partiu para a conquista do reino vermelho. Mal sabiam eles que o reino azul estava fazendo a mesma coisa. Ou seja, o reino vermelho estava sendo simultaneamente atacado pelos dois vizinhos. Cada grupamento desembarcou no terreno inimigo armado até os dentes com pincéis e latas de tinta. O objetivo era mudar a cor de tudo que fosse encontrado pela frente. Os bravos soldados vermelhos resistiram heroicamente. Em meio a tantos jatos de tinta aconteceu um fenômeno inusitado, que foi a explosão de belíssimas outras cores desconhecidas dos presentes até então. Por isso, todos pararam e ficaram encantados com o que viram. Os combatentes nunca poderiam imaginar que o trabalho conjunto poderia resultar em possibilidades tão diversificadas. Ou seja, em vez de passar a vida inteira presos numa vida monocromática, eles agora poderiam interagir e trocar experiências para conferir mais alegria e enriquecimento às suas atividades diárias. Desse dia em diante os reinos passaram a ser multicoloridos.

Essa história, que fez sucesso na forma de vídeo, mostra como as pessoas tendem a se fechar em grupos herméticos. Nas empresas, constroem os famosos setores estanque, onde proliferam rivalidades e hostilidades entre colegas de trabalho. Até a comunicação entre indivíduos de grupos rivais tende ser meramente protocolar e limitada, concorrendo assim para o isolamento dos funcionários. Cada grupo faz um imenso esforço para ser mais importante do que o vizinho. Nessa disputa, diversas armas são usadas e cada conquista é comemorada, gerando ciúme e desavença nos demais. A rivalidade mais comum acontece entre o pessoal da administração e o da produção. Geralmente, os funcionários da administração são os queridinhos da diretoria enquanto que os empregados da produção ficam meio que esquecidos em galpões imensos, quentes e barulhentos.

Do seu posto de trabalho numa linha de produção o operário levanta o olhar e observa através de uma janela ao longe a ocorrência de uma festinha de aniversário da secretária do chefe. Ele vê pessoas sorrindo e se regalando com salgadinhos, tortas e refrigerantes numa sala aconchegante. De repente seu supervisor dá um grito e manda se concentrar no serviço. Com a atenção de volta ao seu trabalho o operário reflete sobre sua condição de cidadão de segunda classe, que nunca terá o mesmo tratamento do pessoal da administração.


A rivalidade entre setores só enfraquece a empresa e, de alguma forma ou em algum momento, todos são prejudicados. A maioria desconhece as infinitas possibilidades de crescimento profissional e de melhoria do ambiente de trabalho caso resolvessem se comportar como um único grande grupo que pudesse compartilhar experiências e cerrar fileiras numa batalha em prol do bem comum.