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segunda-feira, 17 de junho de 2019

MENTALIDADE EMPRESARIAL ANACRÔNICA



Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio  dia  18 / 6 / 2019 - A365

O operário alemão da fábrica Mercedes-Benz pode tranquilamente comprar um veículo Mercedes-Benz. Por outro lado, o operário brasileiro nem sequer cogita a possibilidade de comprar um automóvel tão caro. Isto é, nem condições de sonhar ele tem. A razão dessa gritante discrepância está na nossa brutal concentração de renda. No Brasil, 10% da população mais rica ganha 43 vezes mais do que os 10% mais pobres. Esse índice é de apenas 6 vezes nos países socialmente mais justos. O senso comum tupiniquim carrega o ranço do regime escravocrata, onde os serviçais eram classificados como animais domésticos. Ou seja, da mesma forma que alguém hoje considera esquisito enfeitar um cachorro, também era repugnante a ideia de ver um negro bem-sucedido na vida. Na realidade, era um verdadeiro sacrilégio. No Entanto e, lamentavelmente, o resquício anacrônico duma era de atrocidades vergonhosas se manifesta no comportamento das pessoas embriagadas pela soberba. No Brasil, a elite dominante luta fervorosamente para manter esse modelo colonial, onde o alvo do preconceito são os pobres, não importando a cor da pele.

Empresários estrangeiros de mentalidade evoluída querem andar de BMW, mas querem também que seu gerente seja dono de, no mínimo, um Corola novo e completo e ainda que morem numa bela casa própria. Enquanto isso, empresas brasileiras de porte gigantesco se mantém de pé graças à dedicação dum staff supercompetente, onde profissionais dedicados vivem uma vidinha medíocre – moram num apartamentinho fuleiro e dirigem um calhambeque porque o salário mal dá pra viver dignamente. Para tornar a coisa ainda mais bizarra, o patrão feliz com excelentes resultados conquistados pelo seu gerente, o leva para almoçar num restaurante caro onde o preço do vinho é maior do que o salário do condecorado.  É nesse momento que o tal gerente constata o quão deplorável é a sua vida e a vida dos seus colegas de trabalho.

Como desgraça pouca é bobagem, há casos de pessoas brilhantes que desenvolvem projetos grandiosos e ao mesmo tempo são responsáveis por guinadas acentuadas no posicionamento da empresa no mercado em que atua. Ou seja, pessoas que promovem verdadeiras revoluções na estrutura do negócio e que, depois de tudo pronto, o chefe dá um chute na bunda do coitado sem dó nem piedade. Ou então, quando não demite, o patão fica o tempo todo menosprezando o valor do empregado para humilhar a pessoa e ao mesmo tempo não deixar que ela crie asas e voe para o concorrente.

Na realidade, o que se observa no meio empresarial são ambientes tóxicos e doentios. Se você quiser decifrar a personalidade do dono, basta observar os funcionários. E como são diferentes os empregados das empresas!! Há uma grande livraria no centro da cidade onde se percebe claramente uma nuvem negra pairando na cabeça de cada funcionário. Os atendentes são esquisitos, ríspidos e assustados. Obviamente, que um ambiente tão agourento é resultado direto do comportamento tirano do dono do estabelecimento. Inclusive, quando o dono é doido, ele endoidece todo mundo. Quando o patrão é estúpido, os clientes também são tratados com estupidez pelos atendentes. Se os funcionários são despreparados para o serviço é porque o diretor é medíocre. Por isso é que alguns empreendimentos crescem num ritmo vertiginoso, como, por exemplo, uma grande rede de lojas de eletrodomésticos que conquistou o coração do manauara. Nessas lojas, tudo funciona como um relógio e os funcionários são dinâmicos e eficientes porque os donos são professores e estão antenados com o que de melhor existe no mundo. Mas a principal razão do sucesso está num programa intensivo e persistente de capacitação técnica. 

Um ambiente ruim acaba expulsando os profissionais brilhantes e ao mesmo tempo retendo os medíocres. Consequentemente, a empresa crescida por conta de fatores válidos num tempo que já passou, não consegue se adaptar aos novos tempos, onde a concorrência se adianta na correção de políticas empresariais antenadas com os paradigmas vigentes. Muitos fecham as portas porque se recusam a sair do século XIX ou então porque não aceitam o fato de seus funcionários também terem o direito de viver bem. Curta e siga @doutorimposto 



















quarta-feira, 18 de novembro de 2015

NÃO VOU PAGAR O PATO


Doutor Imposto
Publicado no Jornal Maskate dia 19/11/2015 - A018

O recente escândalo que explodiu na prefeitura de Iranduba ilustra com propriedade o câncer da corrupção já disseminado em todas as células do poder público brasileiro. Interessante, é que num município tão pequeno foi possível roubar mais de cinquenta milhões de reais. Imagine, então, uma Manaus da vida!! Ou uma São Paulo!! Ou uma Brasília!! Ultimamente, só se tem notícia de roubalheira na casa do milhão pra cima. Todos os dias somos atropelados com tantos milhões roubados aqui, outras dezenas de milhões surrupiados ali, ou então centenas de milhões de reais desviados acolá, como aconteceu no caso Barusco. A corrupção brasileira é sistêmica e entranhada até o osso do funcionalismo público. Os criminosos instalados no poder público são muito mais numerosos e perigosos do que todos os traficantes, ladrões e assassinos que estão dentro ou fora das prisões. Todo mundo passa o dia inteiro pensando em novas maneiras de roubar o erário. As reportagens do Fantástico aos domingos vem há tempos revelando uma infinidade de esquemas criminosos presentes nas repartições, nos processos licitatórios, nos desvios da merenda escolar etc., etc. É todo mundo roubando e roubando e roubando...

Ao mesmo tempo em que os ladrões do poder público fazem a festa, os órgãos de controle não controlam absolutamente nada. A polícia não prende ninguém, os juízes não condenam ninguém e a coisa segue num emaranhado de bandidos que se enroscam e se alimentam uns dos outros. Vez por outra assistimos na televisão a eventos espetaculosos de ações do Ministério Público que sacodem a população com muita polêmica e comentários nas redes sociais. Mas, infelizmente, todas as prisões ocorridas nos últimos tempos não chegam nem perto de 0,0001% do que deveria acontecer.

Se tomássemos alguns casos isolados e espetaculosos (como esse de Iranduba) para análise, concluiríamos sem muito esforço mental que o volume de dinheiro roubado na administração pública é uma coisa monstruosa, estrondosa, monumental. Tudo quanto é número apontado por estudos de desvios de recursos está errado. A coisa é duzentas vezes mais grave. É muito, muito dinheiro roubado. E toda essa dinheirama vem dos impostos pagos com o suor de quem trabalha diuturnamente para manter esse país de pé. Dói no fundo da alma assinar um cheque de milhares de reais de ICMS sabendo que ele será todo roubado pelos funcionários públicos. Dói saber que nunca haverá investigação. Dói saber que mesmo investigado, o juiz (também corrupto) não vai condenar ninguém. Dói saber que o esquema é todo orquestrado com várias instâncias e esferas do poder público – tudo combinadinho e todo mundo levando uma ponta.

O mais incrível de toda essa história escabrosa é que a cada dia que passa fica mais escancarada a prática da corrupção presente no poder público. O cidadão está tão bombardeado de escândalos que já não engole nenhum discurso demagógico. Mesmo assim, o governo insiste na CPMF para garantir a manutenção do status quo. Ou seja, insiste no modelo corrupto que sangra os cofres públicos. O cidadão tem que gritar bem alto: CHEGA DE TANTA ROUBALHEIRA!!! NÃO VOU PAGAR O PATO!!!