Mostrando postagens com marcador Covid-19. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Covid-19. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

QUANDO O INCÊNDIO CHEGA À CASA-GRANDE


 
Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio  dia  26 / 1 / 2021 - A418
Artigos publicados

No dia 12/02/2020 o ministro Paulo Guedes, num rompante de sinceridade, disse que, com o dólar mais baixo até mesmo empregada doméstica estava viajando para a Disney. Essa declaração rancorosa despejou nos ouvidos do povo brasileiro uma incomensurável carga de preconceito represada nos sentimentos mais profundos da nossa pretensa elite social. O rico brasileiro trata o pobre como um cachorro que precisa de cuidados básicos. Ou seja, ele precisa comer, vestir e outras poucas coisas mais. Por isso é que o mesmo Paulo Guedes sugeriu inicialmente R$ 200 de auxílio emergencial, que é suficiente para comprar uns dois fardos de ração barata. O pobre pode muito bem dormir na chuva ou se espremer nos ônibus lotados. O pobre não precisa de luxo nem de atendimento médico; ele resolve tudo com beberagens caseiras. O pobre, portanto, nem é gente; é uma coisa indefinida. O pobre pode até possuir uma casa, desde que seja pequena e na periferia. Carro, só se for um calhambeque. E estudar, só em faculdade de R$ 199 mensal.

Essa mentalidade tortuosa explica o péssimo e eternamente incorrigível serviço público de saúde. Por décadas a fio presenciamos diariamente o noticiário cheio de gente morrendo nas portas dos hospitais públicos, mas tudo ficava somente no noticiário. Ninguém com poder de influência ou de decisão moveu uma palha para mudar esse quadro devastador. Nem os políticos, nem as pessoas ricas com poder de influenciar tais políticos se empenharam na solução do problema. E a razão é muito simples: esse pessoal endinheirado não usa serviço público de saúde. Portanto, o pobre que se arrombe. Essa sempre foi a posição do rico brasileiro. Por esse mesmo motivo, o sistema de transporte coletivo é o pior do mundo. Quem tem dinheiro não anda de ônibus e, portanto, o problema nunca vai ser resolvido porque nenhum pobre tem voz nem vez em canto nenhum do Brasil. O Metrô de São Paulo funciona relativamente bem porque transporta uma parte da elite.

Em abril do ano passado o primeiro-ministro britânico Boris Johnson foi internado no hospital público londrino St. Thomas para tratar um quadro grave de covid-19. Por aqui, nunca, e nem nos maiores delírios ensandecidos, alguém já pensou na possibilidade dum político graúdo ser internado na rede pública hospitalar. A mesma afirmativa vale para o particular abastado. Funcionários públicos graduados exigem Albert Einstein ou Sírio-Libanês, pagos, obviamente, com dinheiro dos impostos daqueles que recorrem ao SUS.

Pois é. Pela primeira vez os ricos brasileiros sentiram na carne o menosprezo dirigido aos pobres. A covid-19 veio mostrar que o dinheiro não compra tudo e que todo mundo morre com os pulmões afogados. O rico descobriu da pior forma o que é limitação de atendimento médico. E para piorar, a crise do oxigênio pegou todo mundo no contrapé. O morticínio acentuado dos últimos dias é consequência direta da péssima gestão pública de saúde que antes não prejudicava o rico. O pandemônio do momento mantém a empresa do rico fechada.

Não fosse a desastrosa e criminosa gestão da saúde pública, os problemas atuais seriam infinitamente menores. A questão é que os ricos nunca se interessaram em combater os diversos tipos de corrupção; muitos deles são beneficiários diretos dum sistema pervertido. Não fosse a corrupção sistêmica, haveria condições suficientes de amparo às pessoas físicas e jurídicas, como vem ocorrendo nos EUA e UK. O descaso dos ricos com as transgressões do poder público levou ao fechamento de empresas com impacto direto na perda de ricos patrimônios. A desgraça chegou para todas as classes sociais e não somente para o pobre, como sempre aconteceu.

Sacrifício patrimonial implica perdas doloridas e traumáticas. A covid-19 cobrou um alto preço de variados segmentos econômicos na forma de prejuízos irrecuperáveis. E muitos empregados perderam o sustento da família.  

Até o presente momento, quem se sacrificou zero por cento durante a pandemia foram os funcionários públicos graduados. O Ministério Público, o Judiciário e o governador lutaram ferozmente pela extinção da fonte de renda de milhares de amazonenses que agora passam fome. As divindades públicas de salários astronômicos estão absolutamente indiferentes aos famintos e desgraçados. Não houve empenho por nenhuma medida compensatória efetiva. Trocando em miúdos, uma canetada fechou o comércio da noite pro dia, mas a lengalenga do auxílio emergencial local vai durar meses com previsão de não sair. Afinal de contas, a vida é mais importante; a fome pode esperar. O ente público de bucho cheio não tem motivo algum pra pensar em fome alheia. Pois é. Todo esse teatro das divindades locais evidencia um solene desprezo à população pobre sem trabalho. Os bonitões passam o dia em casa tomando champanhe e ligados na Netflix. E como fica o pobre? O pobre amazonense que se arrombe. Curta e siga @doutorimposto

 
































terça-feira, 30 de junho de 2020

LIÇÕES DA PANDEMIA



Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio  dia  30 / 06 / 2020 - A404

A pandemia da Covid19 chegou como um tsunami avassalador. Sua força destrutiva revirou o cotidiano de muita gente, atingindo em cheio os trabalhadores da iniciativa privada, especialmente autônomos informais e pessoas do mundo artístico. O fato é que uma minoria de negócios está passando incólume por essa realidade perturbadora, mas até esse pequeno estrato econômico não escapou das preocupações que assombram o mundo atual. Ou seja, paira uma nuvem pesada sobre mentes angustiadas quanto ao dia de amanhã; mesmo porque, grandes perdas já desencadearam revisões de prioridades e ajustamentos de padrões sociais para versões mais modestas. Basta observar o semblante abatido dos transeuntes apressados que tentam agir normalmente em meio ao noticiário frenético e desolador. Mesmo assim, os guerreiros continuam lutando bravamente pela sobrevivência, matando um leão por dia para garantir o sustendo da família. Esse, é um lado da moeda.

No outro lado, há um contingente de cidadãos alheio ao fenômeno pandêmico da Covid19, que são os funcionários públicos. Esse pessoal, aparentemente segue imune ao martírio dos particulares, já que seus gordos rendimentos são garantidos em qualquer situação, mesmo que chova canivete ou que desabe uma hecatombe nuclear. Estamos descobrindo que absolutamente nada é capaz de abalar o setor público brasileiro, mesmo em face duma acentuada queda na arrecadação de impostos. Se falta dinheiro, recorre-se ao endividamento crescente e infinito, mas cortar na própria carne; isso, nunca. A face mais nojenta e sombria do setor público está no descaramento de gastos escandalosamente acintosos, como é o caso dos deputados do Distrito Federal que, nesses dias, mesmo confinados em casa, consumiram gasolina suficiente para dar 40 voltas ao redor do globo terrestre.

Além da pornográfica patifaria dos funcionários públicos incendiários do dinheiro dos impostos, estamos sendo solapados por uma chuva torrencial de proporções homéricas, causada pela dispensa de licitações na compra de respiradores, máscaras, insumos hospitalares etc. É uma farra nunca vista na história desse país eternamente saqueado pelos agentes públicos de todas as esferas ou graduações; concursados ou nomeados ou terceirizados etc. A roubalheira é sistêmica e cancerígena. 

A chuva de desgraças sobre os pagadores de impostos vem dissolvendo a inércia tão característica da sociedade brasileira. Principalmente, quando esses impostos são quase que totalmente consumidos pelo salário do funcionalismo. Parece que o povão escravizado está acordando para a sua condição miserável e servil. Devemos tudo isso à Covid19 que acentuou um quadro que muitos tentavam esconder. Agora, os olhos da população estão voltados para o setor público e suas perucas cacheadas e suas caras cheias de pó-de-arroz. Parece que vivemos uma era imediatamente anterior à Queda da Bastilha. É bom lembrar que a Revolução Francesa explodiu devido ao peso esmagador do Estado sobre uma oprimida classe obrigada a financiar o luxo e a depravação dos “agentes públicos” da época.

Um brilhante artigo publicado na Revista Crusoé pelo colunista Leandro Narloch nos lembra que o cerco da Lava Jato ao esquema do Petrolão impactou profundamente a certeza da impunidade que envolvia o financiamento das campanhas políticas. Foi a partir desse fenômeno jurídico que surgiu no Brasil o inimaginável conceito de punição efetiva a figuras de grosso calibre. Pois bem. O senhor Narloch afirma que o escândalo das “rachadinhas” do gabinete de Flávio Bolsonaro deu ao país a oportunidade de uma nova mudança institucional. Isto é, a oportunidade de acabar de vez com a farra das verbas de gabinetes de vereadores, deputados e senadores; de deixarmos de ser tolerantes com essa corrupção presente em todo parlamento brasileiro. O artigo faz um comparativo chocante entre o estado americano de Nova York com o estado do Rio de Janeiro. O custo do parlamento nova-iorquino é bem menor e o PIB estadual deles é dez vezes maior que o PIB fluminense. De modo grosseiro, poderíamos concluir que gastamos dez vezes mais com o nosso funcionalismo. Ou seja, tem caroço nesse angu. Curta e siga @doutorimposto