Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 7 / 2 / 2018 - A 324
No
final da década de 60 um grupo de psicólogos americanos desenvolveu uma
instigante experiência. Eles deixaram um automóvel abandonado num bairro pobre
e outro veículo semelhante num bairro rico. Como esperado, o carro da periferia
foi depredado enquanto seu similar permaneceu intacto. Mas os estudiosos continuaram
o trabalho de investigação para comprovar uma suspeita conceitual. Dessa vez,
quebraram a janela do carro abandonado noutro bairro rico. Foi então que os
acontecimentos se deram de modo semelhante ao ocorrido no bairro pobre. Ou
seja, o veículo foi totalmente depenado. Os professores americanos James Wilson
e George Kelling explicam que, se a vidraça quebrada dum prédio não for
consertada de imediato, a tendência é que vândalos sigam quebrando as outras
janelas para ocupar ou destruir a edificação. Os pesquisadores concluíram que o
comportamento degradante é fruto de relações sociais doentias. Em outras
palavras, desordem gera desordem. E também: comportamentos antissociais não
reprimidos dão origem a delitos mais graves.
Numa
empresa privada, por maior que seja, há sempre um clima de ordem hierárquica;
as pessoas sabem que alguém está de olho nos custos, nos processos e na
sustentabilidade do negócio. Ou seja, o ambiente de trabalho não é um cabaré
bagunçado ou uma terra de ninguém, onde todo mundo pode fazer o que bem quiser
ou então roubar à vontade. Claro, obvio, fraudes são cometidas por empregados,
mas isso não é fato sistemático nem epidêmico. Já, as ações do funcionalismo
fogem desse paradigma.
No
universo público, as leis da física quântica se manifestam de modo contrário ao
do setor privado. Por exemplo, o preço dos planos de saúde concedidos aos
funcionários públicos é quatro vezes mais caro do que o suportado pelas
empresas que amparam seus empregados. As remunerações e aposentadorias do setor
público são infinitamente maiores do que as praticadas no setor privado. As
diferenças são gritantes também na jornada de trabalho, nas licenças para
afastamento, nos carros oficiais com motorista para autoridades divinizadas e
outras coisas mais. Muito raramente, um diretor industrial que ganha 30 mil de
salário, tem a sua remuneração amplificada por força duma lista de
penduricalhos que multiplica esse valor por 10 ou 20 vezes, como é muito comum
no setor público, principalmente, no poder judiciário. No setor privado, o
empregado não chega de manhã, bate o ponto e depois volta para seus assuntos
particulares, como acontece com médicos contratados pelas prefeituras. As
empresas não iniciam a construção monstruosa dum prédio e depois abandonam a
obra até ela se deteriorar completamente. A diretoria dum grupo econômico não
torra bilhões de reais num projeto recreativo e também não fica engolindo
roubalheira de empregado sem fazer nada. A polêmica futura ministra do trabalho
jamais seria nomeada para comandar um conglomerado empresarial porque é patente
o despreparo.
O
setor público brasileiro é um grande lixão.
Vamos
imaginar que houve um tempo em que a honestidade e a limpeza eram
preponderantes no poder público. Vamos supor que lá, pelas tantas, alguém
quebrou os vidros da janela ou espalhou sujeira pelo chão. Os colegas presenciaram
a atitude desordeira, mas ficaram quietos. Por conseguinte, aqueles que tinham
um caráter pervertido se acharam no direito de também fazer o mesmo ou fazer pior.
Daí, pra frente, a balbúrdia foi se expandindo numa escala geométrica até que
todo mundo entrou no esquema predatório. O setor público é um terreno baldio,
sem dono, onde qualquer um pode despejar entulhos ou imundícies variadas. No
setor público, todo mundo pode roubar porque o dinheiro não tem dono. Na
realidade, formalmente, há inúmeros mecanismos que supostamente conferem organização
e probidade à gestão da coisa pública, mas tudo não passa de pantomima. Isto é,
os organismos de controle acabam por fim se aliando com seus controlados em prol
da manutenção de privilégios e da corrupção. Na prática, é cada um por si e
Deus por todos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua mensagem será publicada assim que for liberada. Grato.