Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 4 / 9 / 2018 - A341
Mais
uma vez, a polêmica tributária dos dividendos ganha espaço na mídia nacional. O
presidenciável Ciro Gomes vem batendo nessa tecla. Anos atrás, o então ministro
Joaquim Levy atiçou gasolina numa chama que estava quase apagada, quando disse
que no Brasil se paga pouco imposto. Claro, óbvio, tal posicionamento causou
espanto em face do acachapante peso da carga tributária. Ele se referia à isenção
dos dividendos que faz a alegria dos magnatas tupiniquins, coisa que, além do
Brasil, só acontece na Estônia (países da OCDE).
Estudos
do IPEA em conjunto com a Receita Federal, apontam uma carga sobre rendas,
lucros e ganhos de capital na casa de 6,9% do total, contra 11,5% na média da
OCDE. A tributação total brasileira (empresa mais acionista) varia de 16,33% a
19,53% do faturamento no regime do lucro presumido, ou de 4,5% a 16,85% se
estiver no regime do Simples. Nos países da OCDE, a média taxativa total sobre
o lucro atinge 43,1%.
A
baixa tributação da renda brasileira é compensada na pesadíssima taxação do
consumo. Enquanto que nos Estados Unidos o percentual médio é de 4,5%, por
aqui, esse mesmo encargo passa de 900% em cigarros e produtos cosméticos, sendo
que, em média, metade do que consumimos é imposto. Até o modo de o brasileiro
ser informado da taxação traz consigo uma manha trapaceira. Isso acontece
porque o americano faz uma relação percentual entre produto e imposto (um,
separado do outro). Já, em terras tupiniquins, o consumidor faz uma relação da
parte com o todo (um, somado com o outro), que transmite a falsa informação de
que a média geral é de 50% quando na realidade é de 100%. Aliás, malandragem é
o nome daquele vírus instalado nas células nervosas do legislador brasileiro. Todos
os malandros dos morros cariocas seriam facilmente engolidos por qualquer
pessoa que trabalha na elaboração de normas fiscais.
Nossa
estrutura legislativa é abarrotada de políticos ricos e devedores de gratidão a
poderosos empresários. O Congresso tem uma histórica resistência para corrigir
as injustiças do nosso pervertido sistema tributário. O exemplo máximo está no
tal imposto sobre grandes fortunas, que há 30 anos aguarda regulamentação.
Outro exemplo da interferência dos ricos no poder legislativo está na
tributação de heranças, que na França pode chegar a 60% enquanto que no estado
do Amazonas é fixado em 2%.
Enquanto
o patrimônio e a renda dos milionários estão protegidos pela bondade oficial, a
dupla dinâmica Sefaz/RFB baixa o cacete na tributação da gasolina, da energia
elétrica, do telefone e de outros produtos consumidos pela população. 100% dos
esforços de todas as equipes legislativas são concentrados no consumo. Todo o
universo governamental desaba sobre o pobre do consumidor que já ganha uma
merreca e ainda por cima tem metade do seu parco rendimento confiscado pelos
agentes fazendários. Tantos despautérios normativos evidenciam a existência de
uma grave doença social que está matando o país por inteiro (ricos e pobres). A
vizinha Venezuela tem nos mostrado que quando o país quebra, a desgraceira não
poupa ninguém. O pior de tudo é que nós estamos na esteira dos desmandos
chavistas, com risco de acelerar esse processo com a vitória do Lula.
O
fato é que o conjunto da sociedade não pode deixar que o pior aconteça. Depois,
não adianta chorar o leite derramado, como aconteceu com o incêndio do Museu
Nacional. Aliás, essa tragédia histórica é uma gritante alegoria da nossa
realidade institucional. Mesmo porque, o povo brasileiro costuma fazer tudo
errado; ser negligente, alienado, irresponsável, imprudente e, depois que a
casa cai, começa a chorar e a se fazer de vítima no programa da Fátima
Bernardes. O que talvez esse povo precise, é de um incêndio social para
acordarmos todos da letargia e da estupidez.
Voltando
ao imbróglio tributário, qualquer modificação efetiva e substancial do nosso
sistema tributário só acontecerá mediante o esforço conjunto de toda a
sociedade, uma vez que o poder público jamais fará isso. A extinção da balbúrdia
tributária iria prejudicar a esfomeada e gigantesca máquina burocrática que
sustenta um vasto esquema de corrupção. Por trás de toda burocracia se esconde
uma bandidagem. E quanto mais confusa é uma norma, maior é a pilantragem do
órgão normatizador. Curta e siga @doutorimposto.
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