Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 17 / 9 / 2019 - A375
A
bola da vez é a reforma tributária. A profusão de especialistas no assunto
explode nos canais midiáticos, com análises técnicas jorrando aos borbotões em
eventos, congressos, reuniões etc. Em meio a tantas explicações sobre as
propostas tramitando no congresso nacional pode-se observar muito claramente que
a intenção latente nos bastidores é de puro aumento da carga tributária. Outra característica
pulsante que se destaca nas discussões está no esforço titânico para proteger a
renda e o patrimônio dos ricos. Ou seja, tudo converge para a intensificação da
regressividade e para o aumento da nossa burocracia que hoje já é a pior do
mundo.
A
PEC45, por exemplo, ignorou descaradamente qualquer menção ao imposto de renda;
seu grande objetivo é majorar a taxação dos serviços em 400%. Ou seja, o autor
da proposta, Bernard Appy, quer aumentar o ISS de 5% para 25%. E também quer
transformar o ISS num tributo não-cumulativo. Sabemos todos nós que o sistema da
não cumulatividade brasileira é uma desgraça satânica que fomenta a sonegação e
a corrupção de agentes públicos, bem como tudo quanto é tipo de artimanha para fugir
da tributação. Isso acontece porque nossa legislação é uma promotora de desvios
de conduta por conter os ingredientes perfeitos que impulsiona a indústria do
contencioso fiscal ou então a sonegação pura e simples. Por outro lado, na visão
do poder executivo, reforma tributária é simplesmente ressuscitação da CPMF. Só
isso.
Para
piorar o nosso ambiente burocrático, a PEC45 estabelece um período de dez anos para
a transição dum modelo para o outro, significando assim que a burocracia vai
aumentar em vez de diminuir, porque teremos que administrar dois sistemas que
caminharão em paralelo. A PEC45 estipula 50 anos para a completa transição do
imposto para o destino. Obviamente, que tudo isso é de uma insanidade sem
tamanho. Quem hoje vai se sacrificar para colher os frutos daqui a 50 anos? É
melhor plantar tâmaras, que precisam de 20 anos para gerar frutos. Tem mais uma.
Como disse John Keynes, a longo prazo estaremos todos mortos.
Curiosamente,
ninguém propõe um escalonamento de cortes nas normas burocráticas. Essa
desburocratização poderia acontecer pela convergência de regras num único
dispositivo para evitar que o contribuinte tenha que pesquisar um assunto em
legislações dispersas nos diários oficiais em décadas de publicações. Ninguém
pensa ou pondera o fato de que não é preciso tanto detalhamento normativo.
Ninguém lembra que o entulho normativo engessa o país e afugenta os
investimentos. Ninguém enxerga o ambiente perverso e delituoso que resulta
desse caldo de abominações. Na realidade, tá tudo claro pra todo mundo, mas
ninguém se mexe.
Outro
aspecto das proposições e dos debates que acaba passando incólume diz respeito
às regulamentações posteriores daquilo que for aprovado ao final de tudo. Observamos
claramente que as discussões são sempre em nível macro, onde a todo momento
ouvimos alguém dizer que isso ou aquilo será objeto de regulamentação em dispositivos
infralegais. Trocando em miúdos, isso significa que quem efetivamente irá fazer
a verdadeira reforma tributária serão os técnicos burocráticos do governo. São
eles que transformarão a lei aprovada numa maçaroca 50 vezes maior, que são os
detalhamentos operacionais. Sendo assim, é possível que a aprovação da PEC45
traga zilhões de páginas normativas feitas por pessoas que não têm mandato; que
não foram eleitas. Essa bomba vai cair no colo dos contadores e a conta vai para
o bolso do empresário e do consumidor.
Lamentavelmente,
a maioria do empresariado não está acompanhando nem estudando com profundidade o
assunto reforma tributária. Parece que o povaréu se colocou na condição de puro
espectador que vai engolir o que vier. Mesmo assim, algumas categorias patronais
resolveram partir para a ofensiva. As empresas de streaming estão lutando
bravamente contra os 400% de majoração tributária proposta pela PEC45. Mas
ainda é muito pouco. O Brasil inteiro deveria se unir nessa luta porque, se a
nação inteira pressionasse o governo, o que iria acontecer de fato era uma
reforma administrativa que reduzisse o tamanho da máquina estatal. Curta e siga
@doutorimposto
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