Reginaldo de Oliveira
Publicado ERRONEAMENTE no Jornal do Commercio em 06/08/2009 – Manaus/AM - Pag. A3
Publicado CORRETAMENTE no Jornal do Commercio em 07/08/2009 – A21
ARTIGOS PUBLICADOS
O cantor inglês Seal diz em uma de suas canções: “We're never gonna survive, unless we get a little crazy”. Está impregnada na alma do homem comum a noção muito clara do que ele deve e do que não deve fazer. Ou seja, quais ações são lesivas às outras pessoas e quais providências são necessárias para defender sua vida, sua família e suas posses. Não é necessário passar cinco anos numa faculdade de Direito para saber disso. No filme O Patriota, Mel Gibson mostra os extremos que um homem chega quando sua família é violentamente atacada. O que se segue é uma sequência de atrocidades e banhos de sangue - cenas chocantes que não condizem com o nosso modelo tradicional de civilidade. Só que no final o pai violentado ficou de alma lavada por ter feito o que sua natureza ardorosamente clamava. A suprema corte dos Estados Unidos da América reforçou o direito constitucional do cidadão americano de possuir uma arma. Lá, o direto à defesa da família e da propriedade é sagrado e que ninguém se atreva brincar com essas coisas.
O cliente pergunta para a vendedora se tem gravata ao que ela responde que sim, tem. Mas está faltando. Ou seja, não tem. O homem comum do nosso meio social não pode protagonizar atitudes semelhantes ao do personagem do Mel Gibson. Ninguém pode sair por aí fazendo justiça com as próprias mãos, visto que isso inviabilizaria a nossa estrutura social tal qual fomos moldados segundo seu conjunto de valores. Em vários momentos históricos e em várias culturas os valores sociais eram ou são pautados por práticas abomináveis, como por exemplo, a escravidão, o açoitamento em praça pública, a santa inquisição, o código draconiano etc. Os integrantes de tais culturas acabam convivendo com as práticas, mesmo que alguns discordem. Só muitas gerações à frente é que é avaliada a extensão das abominações cometidas. Nesse caso, o que será que o nosso tão avançado momento social está fazendo de tão terrível que somente os netos dos nossos netos dos nossos netos ficarão horrorizados? Será que o nosso fictício sistema judicial estará incluído em uma futura lista de horrores?
Foi arrancado do homem o seu natural direito de se defender ou de reagir às agressões advindas do seu semelhante, mas, na prática, nada foi colocado no seu lugar. Foi colocado no seu lugar um conceito, uma efêmera idéia, somente. Pelo menos para nós, brasileiros. Em alguns países o cidadão vive com a percepção de que o crime precede o castigo; ele confia na justiça e o criminoso sabe que vai ser punido. Nesse caso, o cidadão vive sob o conforto da lei. Aqui, a coisa é bem diferente. As pessoas rezam para que nunca venham a precisar da justiça, considerando-se que ela só funciona terrivelmente ruim para uma camada privilegiada; para os pobres, inexiste. Para os muito ricos e poderosos, esses tem suas próprias formas de fazer a justiça funcionar. O homem já com certa idade vê na televisão o assaltante que matou seu filho e sabe que o dito cujo está preso na 11DP. Ele vai lá com a intenção de encontrar um jeito de matar o bandido, mesmo que isso arruíne mais ainda a sua vida. Esse homem é absolutamente descrente de que o bandido ficará preso por muito tempo. Ele não está nem aí, só que aliviar um pouco a sua dor.
A impressão é que existe um velado sistema paralelo, uma espécie de rota alternativa. Aqueles que tentam se apegar fortemente aos valores formais são consumidos, injustiçados e massacrados pelo sistema oficial. Tem justiça, mas só no texto da lei, nas suntuosas instalações dos imponentes tribunais, nos rios de dinheiro que inunda o bolso dos mais espertos, nos discursos de falta de estrutura. Ou seja, não tem. O cidadão é obrigado a se conformar com as desculpas já tão esfarrapadas da ineficiência do estado de direito. Ele então é forçado a engolir seco tudo quanto é desaforo e na sua garganta é empurrada uma bucha até o estômago. O resultado é que todas essas coisas ficam fermentando na sua alma e produzindo terríveis amarguras. Esse homem é assaltado, é agredido, é mutilado e quando procura uma delegacia ou um defensor público ele é submetido a um longo e doloroso processo burocrático que o levará a esperar décadas até que nada aconteça.
Aquele homem que foi até a delegacia com a intenção de matar o assassino do seu filho sofrerá muito menos por absolutamente não confiar no sistema. Daí, que racionalizar tantas e tantas deformidades sociais sem perder de vez a sanidade é muito difícil. Seal tem razão. “Nós nunca sobreviveremos a não ser que fiquemos um pouco loucos”.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
NÓS NUNCA SOBREVIVEREMOS
Marcadores:
cidadania,
cinismo social,
insegurança
Sou Contador e Professor do Ensino Superior. Sou apaixonado pela desconstrução das interpretações do mundo.
Esse blog é dedicado aos meus artigos publicados no Jornal do Commercio e na Revista Editor Fiscal.
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