Publicado no Jornal do Commercio em 27/08/2009 – A24
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Uma grande edificação
precisa, obviamente, de um alicerce que suporte sua estrutura. Se lá pelas
tantas alguém decide acrescentar mais andares, as fundações deverão passar por
um processo de revisão e reforço. A imprudência de não fortalecer a base ao
acrescentar sobrepeso à construção resulta em uma série de efeitos colaterais
antes de um provável desastre final. Não adianta colocar uma coluna extra aqui
e revigorar outra viga ali. Ou seja, ir empurrando o problema com a barriga e
torcendo para que o prédio aguente até o dia que for possível fazer um trabalho
decente na sua base.
Alguns empreendimentos não conseguem sustentar seu próprio crescimento, sua própria estrutura. Negócios concebidos em um modesto formato que de uma hora para outra se veem violentamente alçados a um estrondoso sucesso, deixam seus dirigentes atordoados como se tivessem comido uma panela de feijoada de uma só vez. Assim, indispondo de tempo apropriado para digestão os diretores vão ficando empanzinados com tantos assuntos e problemas que se multiplicam como coelhos, sinalizando assim os limites das suas competências. Nesse caso, o modelo de gestão de um despretensioso negócio vai se mostrando cada vez mais incompatível com a realidade vivida na organização; tão contrastante como uma barata passeando numa fatia de pudim. Os esforços então são concentrados na dimensão estética com o propósito de camuflar as panelas sujas e amassadas da cozinha. Investe-se em instalações bonitas, limpas e confortáveis. Mas, seguindo um corredor meio que labiríntico chega-se a uma sala com computadores envolvidos em uma trama de fios dispostos em mesas bem diferentes das encontradas no hall de entrada da empresa. Acrescenta-se a isso uma parede quebrada, sala escurecida, rabiscos na parede, objetos espalhados pelo chão, pessoas com barba por fazer, e temos o Departamento de Tecnologia da Informação da empresa.
Algo semelhante acontece quando um cliente vai ao caixa para pagar um boleto ou solicitar informações sobre a troca de um produto. Nesse caso o atendente demonstra um ótimo aspecto e o ambiente é muito bonito - tem até cafezinho e água gelada. Até aí, tudo bem. O mingau encaroça quando um assunto relativamente simples se transforma num pandemônio. O funcionário responde de um jeito, depois muda de opinião; chama um supervisor, que liga para outro departamento etc., etc. Resumindo, a reluzente casca da fruta não condiz com a polpa azeda e indigesta.
Tudo tem uma ordem natural e seu tempo de desenvolvimento, mas a ânsia de querer aproveitar oportunidades a qualquer custo atropela o processo natural das coisas. Os árabes são mais prudentes nesse assunto. Eles iniciam um negócio, mantém seu formato por um tempo adequado e resistem às tentações de mudanças bruscas e intempestivas nas suas atividades. Preferem operar a mudança de dentro para fora, como acontece com o embrião no ovo da galinha que vai crescendo e se desenvolvendo. Quando a casca é rompida, surge uma outra realidade, só que mais bem estruturada, dinâmica e amadurecida. Deturpar esse processo é sempre uma manobra arriscada.
Se a realidade de uma empresa se apresenta de uma forma e uma série de fatores aponta para outra mais grandiosa, a prudência recomenda a revisão da estrutura funcional e adequações necessárias ao atendimento das novas demandas. O Planejamento é uma ferramenta de gestão que está aí, disponível para uso. É só usá-lo. Se faltar habilidade, basta procurar ajuda de profissionais especializados. Os serviços de consultoria trazem oxigênio e ajudam arejar a mente do empreendedor brilhante, o qual não deve ser presunçoso por achar que pode fazer tudo sozinho. Grandes homens cometem grandes erros e por isso é importante parar um pouco, respirar fundo e vez por outra dar uma olhada panorâmica no desenho da sua organização. Se tal desenho não existe, contrata-se então um desenhista (consultor organizacional) para fazê-lo.
A boa gestão é o núcleo de um negócio bem sucedido e na órbita do comandante do navio devem gravitar profissionais com mentalidade de gestores das suas respectivas áreas de responsabilidade. Tal conceito deve ser de domínio geral na organização, desde o encarregado do estacionamento até o diretor de recursos humanos. E todas as ações devem ser pautadas segundo um propósito que confira caráter e personalidade a entidade, e a torne respeitável perante a sociedade.
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