Publicado no Jornal do Commercio dia 21/08/2012 - A91
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O Brasil é um país marcado pela falta de investimento em pesquisa e qualificação de mão-de-obra, consequência do nosso combalido e equivocado sistema educacional. Por isso, às vezes temos a sensação de que a alma do nosso povo, a nossa quintessência parece ser mais rarefeita frente a nações produtoras de prêmios Nobel ou detentoras de tecnologia de ponta. É claramente perceptível a falta de tutano e consistência de muitos ocupantes de altos cargos na administração pública. Não à toa, algumas entidades governamentais costumam tomar emprestado um ou outro funcionário graduado de outras esferas do poder estatal. Dessa forma, pessoas do quadro da Receita Federal ocupam diretorias nas secretarias estaduais; auditores da fazenda estadual são emprestados às prefeituras etc. Fatos dessa natureza denunciam a ausência de opções no plantel de determinados órgãos públicos. Esse fenômeno da escassez da excelência profissional tem se agravado nos últimos tempos devido à monstruosa complexidade dos controles governamentais que se avoluma ano após ano.
Na
contramão da realidade mediana preponderante nos infindáveis departamentos e
gabinetes, segue firme a determinação do governo de implantar procedimentos
absolutamente impraticáveis. O resultado desse descompasso entre o desejável e
o possível é uma putrefata lama burocrática que só piora as nossas já
desajustadas relações institucionais, contribuindo para agravar mais ainda a
famigerada insegurança jurídica que paira sobre as nossas cabeças como um
espírito maligno. Na realidade, toda essa miscelânea escatológica retrata bem o
caminho que a sociedade brasileira resolveu trilhar. Assim, somos o país das
discrepâncias, dos contrastes, do salve-se quem puder. Um bom exemplo são as
escandalosas diferenças de remuneração de um professor, que ganha um salário
mínimo, e a remuneração de um juiz que pode chegar a cem mil reais. No meio do
caminho os cargos aspônicos estão na média dos vinte mil reais. Ou seja, não
faltam verbas para estratosféricos vencimentos aos aspones, mas nunca tem
dinheiro para dar um mínimo de dignidade a professores e pesquisadores. Por
isso falta capacitação, por isso falta gestão de qualidade aos órgãos públicos
onde prevalece o loteamento de cargos pelos partidos políticos.
Um
exemplo ilustrativo desse estado de coisas está nas secretarias da fazenda
pública, principalmente estaduais e municipais, que não estão conseguindo
digerir os rápidos e ultra-complexos sistemas de controle fiscal surgidos nos
últimos tempos. O problema é que essa nova realidade está exigindo algo não
muito comum na esfera pública, que é simplesmente uma gestão profissional e
eficiente da coisa pública. Assim, falta competência, falta gestão, falta
qualificação, onde funcionários e esclarecimentos se colidem e se divergem
sempre que os contribuintes fazem questionamentos bem estruturados. Encontrar
alguém nesses ambientes que possa tratar de forma sensata e ponderada uma
questão fisco tributária é um senhor desafio, visto que os cérebros pensantes e
sensatos estão enfiados em gabinetes que ficam dentro de gabinetes vigiados por
leões-de-chácara prontos para morder quem se aproxima.
Esses
novos modelos de controle fiscal tem intimidado e confundido as ações das
secretarias de fazenda, que perdidas e desorientadas pela turbulência de tantas
tecnologias e normas malucas, acabam direcionando suas miras para os pequenos e
médios contribuintes, que também possuem extremas deficiências técnicas nos
seus quadros operacionais. É como se fosse a cobra cega lutando contra o sapo
aleijado. Enquanto isso, e correndo por fora desse embate de incompetências, os
grandes e melhor equipados contribuintes dançam e sapateiam em volta do
borbulhante caldeirão de ignorâncias fiscais. A confusão da legislação e a
fragilidade técnica dos agentes fazendários tanto prejudica o pequeno quanto
favorece o grande contribuinte. O empresário desprovido de conexões
estratégicas e de assessoramento adequado sofre constantemente o peso esmagador
do fisco que gruda no seu cangote como carrapatos famintos. Já os grandes e
poderosos contribuintes incumbem seus lobistas e advogados de elaborar as mais
mirabolantes estratégias (legais ou não) para pagar pouco ou nenhum tributo. E
o mais curioso é que todos sabem dos esquemas, mas, inexplicavelmente, ninguém
se atreve a mexer com os grandes sonegadores. Por que será?
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