Publicado no Jornal do Commercio dia 28/08/2012 - A92
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Notoriamente,
o Estado é um péssimo administrador. Por isso temos visto vários candidatos no
horário eleitoral gratuito criticando a falta de gestão eficiente da coisa
pública. O candidato que pretender ocupar a presidência da Votorantim ou da
Gerdau deve ser dotado de qualidades sobre-humanas devido ao gigantismo e
complexidade de empresas desse porte. E não só o principal cargo executivo
possui um perfil rigorosamente exigente; todo o quadro de pessoal é composto
por profissionais que dedicaram muito tempo da sua vida se preparando
exaustivamente para a conquista de um emprego decente. No setor público a
realidade é bem diferente. Praticamente, qualquer um pode, de uma hora para
outra, assumir o comando de um município, de um estado e até do país. E depois
de empossado pode nomear quem quiser para cargos-chave da administração
pública. Agora, imagine se existe possibilidade mínima de um tapado qualquer
assumir a presidência da Gerdau. Obviamente, qualquer criatura de boa sanidade
mental sabe que isso é sinônimo de bancarrota. Por que então essas mesmas ditas
criaturas votantes não raciocinam de forma semelhante quando trocam a imagem da
Gerdau pela imagem da Prefeitura?
É
possível que no imaginário popular os órgãos públicos sejam falidos por
essência, como se fossem doentes terminais. A incompetência é o padrão, é o
paradigma. E assim nada de bom é esperado. O barulho que muitos fazem quando
reclamam do governo é apenas barulho para conseguir algum tipo de dividendo
político. Portanto, e ao que parece, a descrença no poder público já está gravada
no nosso código genético.
Não
era para ser assim. Os processos de seleção de pessoal via concurso público são
concebidos de modo a premiar somente os muito bem preparados. Dessa forma,
diversos órgãos públicos estão povoados por mentes brilhantes e profissionais detentores
de habilidades extraordinárias. O problema é que os chefes dessas pessoas não
precisam fazer concurso, o que é um contrassenso, visto que justamente eles é que
deveriam passar por um processo seletivo mais rigoroso. Isso lembra o boi que
tem um corpo forte, mas um cérebro atrofiado. E tem mais. Vale lembrar que
gente de primeira qualidade contrata gente de primeira; gente de segunda contrata
gente de terceira. Se esse quadro medonho não for mudado, todo e qualquer
projeto de melhoria do serviço público estará sumariamente condenado ao
fracasso.
O
fenômeno da dita crise de gestão é claramente observado na nossa secretaria de
fazenda estadual. É perceptível o crescente agravamento do problema em vista de
coisas que recorrentemente aparecem e somem na área de atendimento on-line dos
contribuintes. Isso, sem contar as imensas dificuldades de se tratar um assunto
fisco-tributário ou de se obter o esclarecimento de dúvidas relativas a
procedimentos fiscais. Esse estado de coisas não significa que todos os
funcionários são incompetentes. Existem funcionários excelentes, mas é preciso
fazer um exercício de garimpagem para encontrá-los. E também não se sabe se os
melhores estão sendo bem aproveitados, visto ser fato notório que vários
funcionários se esforçam para melhorar a qualidade do atendimento e até mesmo para
aumentar o nível da arrecadação de tributos. Como os altos cargos são
políticos, nunca serão as mentes mais brilhantes a ocupá-los e nunca as boas
ideias serão colocadas em prática. Os habitantes lá do topo não querem saber de
boas ideias; o único assunto que interessa é o poder.
Uma
das boas ideias é construir um núcleo de altos estudos fisco-tributários. Esse
departamento seria constituído por profissionais de altíssimo nível técnico, e
especializados em legislação tributária, engenharia, informática, gestão
pública, estratégia etc. O objetivo do grupo seria reunir competência suficiente
para identificar com precisão os mais sofisticados e complexos mecanismos de evasão
fiscal; e posteriormente reunir elementos jurídicos sólidos o bastante para
tipificar criminalmente as fraudes detectadas. Para viabilizar um empreendimento
dessa envergadura, seria preciso arquitetar um ambicioso projeto, que
envolveria a contratação de grandes nomes da gestão pública para a prestação de
consultoria especializada e também o envio de funcionários para renomados
centros de excelência do Brasil e até do exterior. Uma das funções desse grupo
de elite seria mapear os melhores casos de sucesso de gestão das fazendas
públicas e copiar o que fosse julgado adequado para a nossa região.
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