terça-feira, 9 de julho de 2013

Instituto de Altos Estudos Tributários


















Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 09/07/2013 - A130

Uma recente matéria do Jornal da Record mostrou um livro de sete toneladas exposto na cidade mineira de Contagem. A publicação de 45 mil páginas contém as normas tributárias dos últimos 21 anos. De acordo com a reportagem, o leitor entusiasmado que se dedicasse a algumas horas diárias de leitura levaria 35 anos para chegar à última página. Esse quadro dantesco retrata bem a miscelânea de quimera com belzebu que se tornou o nosso sistema (manicômio) tributário, fazendo-nos assim concluir que é simplesmente impossível cumprir plenamente as normas malucas impostas pelo governo. Essa desembestada insanidade do legislador que a cada duas horas cria uma regra nova acaba por transformar todo o terreno em areia movediça. Vivemos em estado permanente de alto risco e dessa forma ninguém consegue escapar de uma ação fiscal porque é impossível acompanhar ao pé da letra o que está escrito e tudo aquilo que jorra diariamente dos Diários Oficiais.

A legislação tributária brasileira é engenhosamente construída em prol do subjetivismo. São muitos pormenores, detalhes, sub-detalhes, exceções, vínculos, conexões, relacionamentos, bifurcações, trifurcações, repristinações etc. Tudo é feito para legitimar os rompantes de fiscais inescrupulosos que se valem da confusão legal para achacar contribuintes.  No final das contas ninguém consegue decifrar o monstrengo por inteiro. Quem gosta mesmo dessa confusão é a indústria dos pareceres que se alimenta da lama burocrática. As grandes empresas de auditoria e consultoria cobram verdadeiras fábulas somente para emitir uma opinião sobre determinado assunto. Sabe-se que para valorizar o trabalho esse pessoal enche muita linguiça e no frigir dos ovos aquilo que é realmente importante cabe num parágrafo. A coisa é tão séria que qualquer entidade de qualquer esfera governamental não possui nos seus quadros um único funcionário capaz de conhecer todo o arsenal normativo emitido pelo próprio órgão. Ou seja, ninguém conhece a legislação tributária. E o pior de tudo é que o ritmo de produção não diminui e os Diários Oficiais ficam mais volumosos a cada dia que passa. Claro, sabe-se que esse quadro esculhambatório só se mantém de pé porque alguém está lucrando com isso. E muito.

Era uma prática comum da classe empresarial se manter alheia a essas discussões normativas, visto que para tudo se dava um jeito. O problema é que o jeitinho acabou e isso fez muita gente encarar o bicho feio. E o bicho é tenebroso. As secretarias de fazenda vêm tirando proveito da ignorância do contribuinte através de extrapolação de competência e avanço acintoso com todas as características de autoritarismo. Daí, que somente há poucos anos os empresários começaram a discutir e questionar os abusos do poder constituído. O problema é a condição de desvantagem, consequência da falta de conhecimento de causa. Ou seja, muito se reclama, mas não se consegue equacionar o problema devido a dificuldades de se estabelecer um diálogo técnico o Fisco. Sem uma visão aprofundada e panorâmica das questões demandadas fica-se vulnerável às interpretações e conjecturas dos funcionários das entidades fazendárias.

Por conta de toda essa poeira levantada, é imperioso se armar com os instrumentos de combate que estão no paiol da própria legislação tributária que o Fisco usa contra o contribuinte. Se a lei é confusa, se a lei é subjetiva, então vamos interpretá-la a nosso favor; vamos fazer a lei trabalhar para o empresário e não para o governo.

Como muita coisa está em jogo e muito risco paira sobre tudo quanto é empreendimento econômico, seria oportuno que a classe empresarial se unisse em torno do projeto de construção do Instituto de Altos Estudos Tributários. A finalidade dessa entidade seria, a partir de levantamentos criteriosos e científicos, definir uma série de procedimentos fiscais relacionados a operações comerciais vivenciadas diariamente pelas empresas. Esse instituto também se voltaria para a produção de pareceres semelhantes aos das grandes consultorias, cujo objetivo seria estabelecer posicionamentos legais sobre temas polêmicos. Essa entidade se dedicaria ainda a estudos aprofundados da legislação, além do esforço voltado para a compilação das regras existentes. Com o passar do tempo o conhecimento técnico desenvolvido produziria uma força capaz de enfrentar os órgãos fazendários opressores. Como disse Sigmund Freud, só o conhecimento traz o poder. E como disse Nicolau Maquiavel, divide e reina. O Fisco gosta mais da última citação.



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