Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 05/08/2014 - A180
O
sociólogo alemão Max Weber conferiu um significado solene ao termo burocracia,
relacionando-a a uma estrutura organizacional pautada por regras claras, bem
desenhadas e impessoais. Mas foram os franceses que imprimiram o tom pejorativo
que estamos acostumados. O tecido usado para cobrir as escrivaninhas era
chamado de “bure”, de onde derivou a palavra “bureau”, que acabou servindo para
designar todo o escritório. Burocracia é resultado da junção de “bureau” com a
palavra grega “krátos”, significando assim o poder dos funcionários do
escritório. Nada mais apropriado para traduzir a realidade das repartições
públicas brasileiras, onde o sadismo é a marca mais evidente da personalidade de
alguns funcionários públicos. Para constatar essa afirmação, basta observar o
prazer estampado no semblante desse pessoal quando indefere uma solicitação. Tal
estado de glória é consequência direta dos efeitos inebriantes do poder do
escritório correndo nas veias.
Se
num lado da moeda acontece o esbaldamento e a esparramação da burocracia
desenfreada, no outro lado os efeitos colaterais desses excessos desabam sem dó
na cabeça do contribuinte, que lá debaixo dos escombros se debate com uma
infinidade de certidões, autenticações, formulários, carimbos, assinaturas,
petições, solicitações, procurações, filas, senhas, agendamentos, requerimentos
etc., etc. É a burocracia pela burocracia, que, claro, alimenta uma corja de
corruptos de tudo quanto é escalão. Ou seja, gestos negativos geralmente carregam
uma intenção maliciosa, como se esperasse ouvir a famosa frase: “Tem outro
jeito de se resolver isso?”.
O
período mais negro da Secretaria Municipal de Finanças (SEMEF) aconteceu na
gestão imediatamente anterior, onde, por conta do demoníaco iCad tudo quanto é
processo foi travado, levando contadores e empresários à loucura. A coisa ficou
tão desesperadora que grandes e tradicionais escritórios de contabilidade
simplesmente deixaram de prestar qualquer tipo de serviço de abertura de
empresas porque simplesmente ninguém conseguia absolutamente nada pelas vias
convencionais. Há casos de peregrinações semanais a SEMEF que consumiu seis
meses, onde a funcionária do órgão sempre dava a mesma justificativa de nunca haver
fiscal disponível para inspecionar o endereço do empreendimento e assim o
Alvará não era liberado (eu, Reginaldo, autor desse texto, passei por essa
traumatizante experiência). O prazer da negação da funcionária da SEMEF era
algo vibrante e acintoso. Essa relação entre a funcionária opressora e o
contribuinte oprimido lembra bem o filme “A morte e a donzela”, visto que a
atendente do órgão se revestia de um poder tão avassalador que podia fazer gato
e sapato do pobre do contribuinte, o qual não tinha meios nenhum de se defender
nem a quem reclamar. O próprio comandante do Implurb, Manoel Ribeiro, deixou o
auditório da prefeitura lotado de contadores a ver navios, onde não compareceu
para dar explicações sobre a balbúrdia que tinha tomado conta da prefeitura.
Depois
de tanto a SEMEF moer a carne e triturar os ossos do contribuinte parece que
finalmente a vantagem passou para o lado de quem utiliza os serviços do órgão. Seu
atual secretário teve a coragem e a ousadia de virar o jogo dessa conflitante
relação entre a prefeitura e a população manauara.
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