Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 23 / 8 / 2016 - A264
A
Secretaria de Fazenda do Estado de Goiás deflagrou no último dia 16 a Operação
Arrebatamento, que teve como objetivo principal recuperar aos cofres públicos
uma cifra superior a 129 milhões de reais. Cerca de 100 policiais civis, 60
militares e 40 auditores saíram a campo para cumprir 19 Mandados de Busca e
Apreensão em supermercados, postos de gasolina, lojas de conveniência etc. A ação
coordenada por diversos entes públicos envolveu o cumprimento de quatro
mandados de prisão temporária e buscas nas residências dos investigados. Houve
também conduções coercitivas que levaram o contador do grupo empresarial
investigado para a delegacia. Os auditores fiscais descobriram um volume de 70
milhões de reais em vendas através de cartões de crédito/débito por empresas
suspensas na SEFAZ, mas que utilizavam um esquema de blindagem patrimonial
composto por pessoas interpostas e documentos falsificados. Todo esse rebuliço
aconteceu nas cidades de Luiziânia, Vaparaíso, Cidade Ocidental e Formosa,
todas vizinhas do Distrito Federal. O sucesso dessa investigação em muito se
deve ao trabalho de inteligência fiscal do órgão fazendário que vem se valendo dos
cruzamentos de dados extraídos do sistema público de escrituração digital
(SPED).
É
importante ressaltar que, nesse caso, o grupo empresarial se valeu de
artimanhas jurídicas para acobertar operações ilegais ou escapar de punições
mais graves. Mas todo esse aparato foi desbaratado pela Delegacia Estadual de
Repressão a Crimes Contra a Ordem Tributária, Secretaria de Estado da Fazenda e
Batalhão Fazendário da Polícia Militar, com apoio de um grupo especializado da
Polícia Civil (FT-3). O trabalho de investigação foi minucioso porque o esquema
montado pelos sonegadores era de uma aparente legalidade. O esforço das
autoridades para garantir o sucesso do empreendimento investigativo tinha
também uma intenção educativa. Ou seja, a ideia era passar um aviso claro aos
contribuintes goianos de que tenham mais cuidado na sua gestão tributária.
É
fato conhecido de todos que a Receita Federal vem investindo pesado em
avançadas tecnologias de controle fiscal, visando o aumento da arrecadação.
Ainda mais nesses tempos bicudos em que vive as administrações públicas. Os
moderníssimos instrumentos de cerco fiscal, desenvolvidos e permanentemente
aprimorados pelo governo, estão levando o Fisco a mergulhar fundo nas operações
das empresas. Dessa forma, os erros e as inconsistências de informações
tributárias ficam cada vez mais ostensivas, diante dos olhares esbugalhados do
SPED. O pior de tudo é que não adianta arquitetar um sistema coerente de dados
manipulados, uma vez que a delação vem das partes relacionadas, como fornecedores,
bancos, clientes etc. Inclusive, é bom lembrar que prováveis mecanismos
garimpadores do SPED não são de conhecimento público. Isso significa que meio
mundo de gente pode está se enrolando numa teia sem saber.
O
relatório “Plano Anual da Fiscalização 2016” publicado pela Receita Federal
aponta uma série de fragilidades administrativas das empresas. Um bom exemplo
dessa vulnerabilidade está no fato de que 93% dos processos de fiscalização
resultam em autuação e que 99% dos lançamentos realizados pelos auditores são
mantidos pelas instâncias judiciais. Outro número preocupante mostra que 28%
das ações fiscais resultam em Representação Fiscal para Fins Penais, que podem
levar diretores a responder criminalmente por atos praticados nos escalões gerenciais.
Tantos
desafios e tantos perigos só estão ficando mais próximos da realidade
empresarial porque o SPED não pára de evoluir. E não adianta fechar os olhos
para esse novo e perturbador ambiente de tecnologias fiscais avançadas. O lado
perverso dessa realidade que nos assombra se revela num sistema normativo
conflituoso e cheio de obscuridades. Se o governo quer partir para a guerra
contra o empresariado, é natural que haja justiça nas regras do jogo. Portanto,
o momento é de exigir racionalidade do poder público. Por exemplo, cada tributo
deveria ter um código unificado, onde tudo quanto é regra ficasse restrita a um
único dispositivo normativo. O nosso Regulamento do ICMS segue nessa linha, mas
nem todas as regras do imposto estão nele. Por outro lado, a legislação do PIS
Cofins é uma loucura sem tamanho, pela dispersão de normas perdidas num
mundaréu de atos legais e infra legais. Resumindo, se a coisa é séria, então
vamos todos trabalhar seriamente.
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