Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 20 / 6 / 2017 - A298
Artigos publicados
Eis
que o cliente pergunta ao garçom: – O que temos pra hoje? A resposta deixa o
estômago assustado. – Nosso cardápio especial contempla jiló empanado na banha
de caititu, sopa de rapadura defumada, chibé acebolado, maniçoba flambada no
corote e salada de urtiga agridoce. Para sobremesa, você pode saborear o nosso
delicioso picolé de chuchu diet ou experimentar a maravilhosa gelatina de quiabo.
Pois, pois... É esse o exótico cardápio político apresentado ao povo
amazonense, o qual terá a enfadonha missão de escolher o próximo governador nas
eleições suplementares que se avizinha. O tempo passa, os escândalos pipocam na
mídia, delatores rasgam a barriga do submundo político, milhões de protestos
fervilham nas redes sociais, mas o caquético e anacrônico jogo político se
mantém inabalável. É possível até que determinado candidato seja uma
excentricidade, por fugir do centro vicioso. Mas, infelizmente, falta clareza
do tino à grande massa de votantes, o que nos leva a permanecer estacionados no
vergonhoso atraso civilizatório da corrupção, da incompetência e do descaso. Gerações
vêm e vão enquanto o porto de lenhas reforça a máxima de que nunca será
Liverpool. Os políticos amarram o progresso.
Nada
de novo sob o sol.
Carrancas
deslavadas, vernáculo desconstruído pelo cinismo, gestos mancos, teatralismo
desconcertante e justificativas embaraçosas. Esses são os elementos-chave que
estão pautando a largada da campanha para ocupar o posto máximo do governo
estadual. Impressiona o fato de ninguém trazer uma proposta inovadora – tudo é
muito surrado e puído pela mesmice. Mas um detalhe sutil pode ser observado
pelo espectador mais atento: Trata-se duma persistente expressão de
constrangimento estampada no semblante dos oradores. Isso é um indicativo do
poder das redes sociais. Significa que boa parte dos eleitores já consegue
enxergar além da máscara. Pena que a maioria continua mergulhada no pântano da
ignorância. Tragicamente, é esse povo sem discernimento que define os rumos da
nação amazonense. É pra eles que o político fala.
A
razão do dito constrangimento está na completa demolição do sistema político.
Os ocupantes dos cargos públicos superiores vivem dias sombrios e cheios de
incertezas quanto ao modelo estabelecido. Isto é, não se sabe o que virá depois
do terremoto precedido pelo dilúvio de acusações represadas numa muralha
prestes a desabar. A operação Lava-Jato estabeleceu o paradigma da culpabilidade,
que antes era uma peça de ficção científica. É bom lembrar que até pouco tempo
atrás, o corrupto tinha plena e absoluta certeza da impunidade. A moda agora é
prender corruptos e corruptores. E, claro, como é público e notório, toda
gestão é cheia de pecados cabeludos porque o sistema inteiro foi moldado pelas
mãos da corrupção. Se a condenação alcançar tudo quanto é ladrão do dinheiro
público, será preciso decuplicar a oferta de vagas nas penitenciárias.
A
roubalheira brasileira é um fenômeno sem precedente na história humana. É muito
ladrão, ladrão, ladrão, ladrão, ladrão na gestão pública. Parece que toda ação
pública está vinculada a algum tipo de esquema criminoso. Os antropólogos já
podem estudar essa nova espécie: o “homo corruptus”.
O
tal “homem da mala” flagrado pela Polícia Federal roubando 500 mil reais já
teve sua imagem massacrada ao extremo pelo linchamento incessante dos canais
midiáticos. A pergunta que se faz é a seguinte: Como a família desse político
está administrando toda essa situação? Mãe, pai, irmãos, tios, sobrinhos,
primos, cunhados, amigos; como esse povo todo está tocando suas vidas? Como
fugir dos olhares, das perguntas e das censuras? Será que a família encara tudo
isso como algo normal, tipo, ossos do ofício? Ou será que os parentes são tão
bandidos quanto o tal protagonista midiático? Será que a professora do filho do
corrupto é também bandida? Ou será que ninguém tem vergonha na cara?
Na
prática, ser parente de político é pior do que ser parente de pistoleiro ou de
traficante. O estrago que a politicada faz é 200 vezes pior do que a soma de
todos os crimes pavorosos de latrocínio, tráfico, explosão de banco etc. Por
isso, a corrupção deveria ser legalmente classificada como o mais hediondo dos
crimes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua mensagem será publicada assim que for liberada. Grato.