Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 26 / 5 / 2018 - A 331
A
onda de protestos contra os sucessivos aumentos dos combustíveis vem suscitando
diversos questionamentos relacionados ao nosso sistema tributário. Ao longo de
décadas, a Petrobras figurava sozinha no cadafalso como único alvo da ira dos
condutores de veículos automotores. Cansada dos ataques, a empresa informou que
fica com somente um terço do valor pago nas bombas; o restante é distribuído
entre atacadista, varejista e, principalmente, o governo, que devora metade de
tudo que é comercializado no país. A partir desse posicionamento da
petrolífera, os canais midiáticos começaram a voltar os olhos para a extorsiva
carga tributária que abocanha metade do tanque do carro. Ou seja, o cidadão
começou a perceber que paga um tanque cheio, mas sai do posto com somente meio
tanque. Isso, claro, cria uma profunda amargura no peito do motorista. A
sensação é igualzinha a da pessoa que acabou de ser assaltada. A sensação é de
perda patrimonial e de impotência diante dum sistema que arranca a boticão o
dinheirinho suado do trabalhador. Essa história dantesca adquire contornos
trágicos quando você lembra de que o imposto que acabou de pagar ao frentista
vai alimentar um vasto e ultra capilarizado esquema de corrupção. Você, que
pagou uma carga tributária de 100%, chega em casa e vê na televisão uma corja
de políticos mergulhada numa vida de luxo e extravagâncias pagos com o dinheiro
que você deixou no posto de gasolina. Você muda de canal e constata as imensas
e colossais dificuldades jurídicas para encarcerar o político ladrão. Você
observa todo o mundo jurídico formando uma blindagem titânica em torno da
bandidagem para ninguém ser preso. Você conclui que o Brasil é um caso perdido.
Pois
é. Tantos rebuliços tem forçado a mídia a promover investigações mais
aprofundadas sobre as reivindicações dos caminhoneiros. Agora, o que se vê a
todo momento, são gráficos ilustrativos sobre a composição de preços dos
combustíveis. O motorista está finalmente separando mentalmente uma coisa da
outra (produto do imposto). Essas indagações provocativas trazem à tona outros
perturbadores questionamentos, tais quais: Eu já entreguei 27,5% do meu salário
para o governo e depois entrego novamente metade do que sobra para o mesmo
governo quando compro produtos para minha família. Resultado final: eu fico com
somente um terço daquilo que meu patrão me paga. Por outro lado, o meu patrão
paga para o dito governo um terço do meu salário na forma de encargos. É bom
lembrar-se das infinitas taxas que perseguem o cidadão dia e noite. É bom
lembrar que ainda tem IPVA, IPTU, impostos financeiros etc. São somente 92
tributos que pesam sobre a cabeça do brasileiro. Por isso é que somos tão
empobrecidos. Por isso é que o brasileiro luta, luta e não constrói nada; acaba
morando mal, comendo mal, vivendo mal etc. Tudo culpa da ineficiência estatal,
dos impostos e da corrupção que devora metade da contribuição destinada ao
erário.
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