terça-feira, 29 de maio de 2018

CALCANHAR DE AQUILES (GESTÃO FISCAL)



Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio  dia  29 / 5 / 2018 - A 332

A ululante obviedade administrativa nos diz que os assuntos fiscais estão pautando todas as ações das empresas. Isto é, qualquer decisão de investimento, expansão, manutenção, parceria etc, precisa contemplar o elemento fiscal como fator determinante para o sucesso de qualquer empreitada. Não há mais espaço para aventuras nem para modelos gerenciais ultrapassados – o tempo do amadorismo acabou.

O Calcanhar de Aquiles dos eminentes e arrojados empreendedores está justamente na inobservância da gestão fiscal. E é justamente por essa fenda na armadura que a lança da Sefaz acerta o coração do guerreiro. Na prática, testemunhamos diariamente muitos acontecimentos lamentáveis envolvendo diligências, autuações, perseguições e perturbações fiscais de toda ordem que acabam matando negócios, empregos e geração de riqueza. Tantos e insistentes embaraços burocráticos sufocam o espírito do empresário, que acaba sendo obrigado a direcionar suas energias para essas questões secundárias, em vez de se dedicar ao mercado, concorrência e aprimoramento dos serviços oferecidos ao cliente. Tais dissabores podem ser drasticamente mitigados por força duma gestão fiscal eficiente.

Pra início de conversa, todo administrador precisa adquirir conhecimentos sobre o universo fisco tributário. Ou seja, o raciocínio estratégico deve ser atrelado a esses assuntos, visto que, do contrário, o produto final das ações administrativas chega ao mercado faltando um braço ou uma perna. E, de cadeira de rodas ou de muletas, ninguém consegue ir muito longe. Aqui, mesmo, na nossa cidade de Manaus, temos um grande e ostensivo exemplo de sucesso empresarial derivado de muito investimento na profissionalização de toda a estrutura administrativa. O presidente dessa grande rede de eletrodomésticos é um profundo conhecedor de tributos e de outros assuntos administrativos. Algumas pessoas podem acreditar que a burocratização dos controles internos gera um custo insustentável. Mas a loja mais admirada pelos manauaras prova o contrário. A cidade de Belém possui outro exemplo de altíssima eficiência empresarial, que é a Festa Color. O seu proprietário apostou muito alto em tecnologia de ponta e investimentos pesados na capacitação dos seus colaboradores para manter um nível de crescimento permanente. A principal chave desse sucesso está no pleno domínio contábil, tributário e do ERP Sankhya. Tanto o dono quanto sua contadora de 20 anos de casa, conhecem em profundidade, os minuciosos e complexos mecanismos do seu ERP, como também, estão antenados com a legislação contábil/tributária.

Portanto, não há como ignorar o óbvio. Não adianta insistir na ideia de enxergar o departamento fisco/contábil como um apêndice meio que desconectado do negócio. Esses centros operacionais são gêmeos xifópagos do departamento comercial.

O grave erro decisório está na manutenção de profissionais pouco qualificados em cargos estratégicos, sem investir na capacitação de pessoas esforçadas que cumprem suas tarefas utilizando ferramentas inadequadas ou ultrapassadas. Em outras palavras, o que prevalece em vários ambientes corporativos é um modelo de trabalho da época em que a empresa era bem pequena. Ou seja, o tempo passou, a estrutura se agigantou, mas o sistema de trabalho ficou lá, no passado. O resultado mais ostensivo desse descompasso está na chuva de multas fiscais ou nos rebuliços administrativos oriundos de tentativas ineficientes de cumprimento de obrigações acessórias. Na prática, o que se vê, é um monte de gente batendo cabeça sem produzir soluções consistentes ou eficazes.

Cabe, portanto, ao comandante do navio tomar as providências necessárias para não adernar ou até mesmo afundar de vez. A decisão é sempre administrativa. Ou seja, tudo deve partir do topo da pirâmide. Brilhantes iniciativas dos níveis gerenciais em nada adianta se as propostas não forem compreendidas nem apoiadas pela alta gestão. É bom lembrar que tudo deve ser feito em prol da saúde do negócio.

Parafraseando o genial Caetano Veloso, “E aquilo que nesse momento se revelará aos povos, surpreenderá a todos não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto quando terá sido o óbvio”.





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