Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 3 / 7 / 2018 - A 336
O
mais recente relatório do IBPT informa que o brasileiro trabalhou até o dia 02
de junho de 2018 somente para pagar tributos, os quais se manifestam de formas
variadas, mas com voracidade semelhante. Na década de 1970, as chibatadas
cessavam no dia 16 de março.
No
momento em que aufere rendimento, o contribuinte é atacado pela previdência e
pelo imposto de renda. Depois da mordida inicial, o dito contribuinte sofre um
arrastão de impostos, onde é agredido com sopapos e pontapés ao passar pelo
shopping. A Sefaz é a chefa da gangue e também a mais violenta; ela dá a
porrada mais seca com o seu pujante ICMS. De queixo quebrado, o contribuinte tenta
fugir, mas a Receita Federal lhe aplica três socos no estômago (Pis, Cofins,
IPI). Em seguida, a Prefeitura dá um chute de ISS nos rins. E pra completar o
linchamento, os galerosos continuam a aplicar IPTU, IPVA, ITCMD, ITBI, ITR; taxas
de limpeza pública, coleta de lixo, emissão de documentos etc, etc. Posteriormente,
a perícia do IML identifica no cadáver um total de 92 tributos desferidos.
Segundo
o relatório do IBPT, o contribuinte brasileiro destinou ano passado 41,80% dos
seus rendimentos para o pagamento de tributos. Em 1947, essa carga era de
13,80%. Em 1957, era de 16,70%; Em 1967, pulou para 20,50%; Em 1977, chegou a
25,60%; Em 1987, ficou em 23,80%; em 1997, avançou para 29,60% (Fonte: SRF e
BNDES).
O
aumento exponencial da carga tributária foi acompanhado pelo agigantamento da
máquina estatal, que hoje se transformou num oásis de prosperidade que não
conhece crise. Boa parte do funcionalismo vive num mundo paralelo, cheio de
carros oficiais, auxilio moradia, plano de saúde master platinum, massagista, licença
remunerada, ponto facultativo, prêmios diversos, super salários, privilégios
infinitos etc, etc. Esse pessoal desconhece as mazelas do brasileiro comum que
se mata de trabalhar para sustentar uma casta imperial semelhante às
sanguessugas da corte do rei Luís XV. O dito funcionalismo cresceu, ganhou
musculatura e agora afronta e ameaça o restante da população escravizada por um
sistema doentio. O mecanismo central dessa engrenagem macabra está num
intrincado sistema normativo blindado de placas titânicas que repelem qualquer
tipo de contestação. Os tais “direitos adquiridos” dos funcionários públicos
reinam soberanamente por cima de cadáveres esmagados pela impiedosa máquina
arrecadatória. E o pior de tudo é que esse monstro estatal cresce vigorosamente,
como um câncer a devorar seu hospedeiro. Diante dum quadro tão angustiante, resta
saber se o contribuinte vai ficar sentado no trono do seu apartamento com a
boca escancarada, cheia de dentes, esperando a morte chegar.
A
salvação do apocalipse institucional passa por uma ação incisiva e urgente. É
fundamental estabelecer a conexão entre inchaço do custeio público com a
monstruosa carga tributária. E para completar esse maléfico eixo tripartite, entra
em cena a praga da corrupção (uma coisa está visceralmente ligada à outra).
Portanto, faz-se necessário trabalhar estratégias de guerra que consiga
desconstruir cada conexão incestuosa, cada fundamento malicioso, cada argumento
demagógico, cada gasto desnecessário. É preciso desenhar um grande projeto que
contemple planos de ação sequenciados, de modo que se avance de fora para
dentro numa ação desengordurante até que se chegue ao indispensável para a
manutenção da gestão pública. Seria uma espécie de reengenharia escarnecedora.
Se
todo o corpo empresarial se unir, é possível promover uma grande pressão sobre o
sistema normativo para viabilizar o projeto acima descrito. Semelhante à
proposta legislativa das Dez Medidas Contra a Corrupção, esse Movimento poderia
obrigar o Congresso a acabar com todo tipo de privilégio, tais quais: carros
oficiais, planos de saúde etc.; o funcionalismo receberia unicamente o salário
e mais nada. Tal proposta legislativa poderia conter uma escala de remuneração,
onde, dependendo de critérios objetivos, o funcionário público jamais poderia
ultrapassar o teto da sua faixa de remuneração. Passo subsequente, seriam
extintas todas as aposentadorias especiais. Entra nessa lista de moralização da
gestão pública, o fim das coligações partidárias, a drástica redução de
assessores, implantação do voto facultativo, dissolução do STF etc.
Pode
parecer um delírio, achar que tudo isso venha a se concretizar, mas é bom
lembrar que o verdadeiro Poder está no dinheiro. E uma soma monumental de
dinheiro é capaz de financiar campanhas publicitárias grandiosas e de altíssimo
impacto psicológico. Tem que ser algo extremamente agressivo e sem meias
palavras, em todas as mídias; dia e noite, sem parar. Lembro aos céticos de
plantão que a mini reforma trabalhista já reduziu os pedidos de indenização por
insalubridade ou danos morais em 81,25%. Isso prova que o monstro burocrático
tem pés de barro. Basta agir com inteligência e disparar os mísseis no alvo
certo.
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