Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 24 / 7 / 2018 - A 337
Dias
atrás, grande parte da mídia propagou uma série de notícias escandalosas sobre
gastos públicos. O Congresso se debruçou sobre projetos que impactam
negativamente o Tesouro em mais de R$ 100 bilhões nas contas públicas pelos próximos
anos. Isso, sem contar a espantosa autorização legal para registro, em 2018, de
um déficit de até R$ 161 bilhões. Na conta deficitária do Congresso entra,
principalmente, um vasto programa de bilionárias renúncias fiscais dirigidas a
grandes conglomerados econômicos. Para piorar a desgraceira sistematizada, os
parlamentares ainda querem criar cerca de 300 municípios e ainda aumentar os
próprios salários de 33 para 38 mil reais, o que, como de costume, produzirá um
efeito cascata em todo o funcionalismo. Se todo esse descalabro se concretizar,
o efeito bombástico será fatalmente convertido em aumento de impostos. Sendo
assim, já deveremos esperar por exponenciais majorações no preço dos
combustíveis, da energia elétrica, dos bens de consumo, serviços de comunicação
e, finalmente, elevação do imposto de renda (de 27,5% para 35%). Na sequência,
a Sefaz irá revolver o terreno das hipóteses de incidência para enquadrar meio
mundo de operações nas alíquotas mais altas ou então criar situações que irão sangrar
mais ainda o caixa das empresas. Claro, obvio, o alvo da Sefaz é sempre o lado
mais fraco da população empreendedora, e, como é de praxe, os eminentes potentados
amiguinhos do rei permanecerão longe do alcance do Fisco, protegidos pelos tais
Regimes Especiais que não são abertos para o TCE.
O
lado mais intrigante dessa história rocambolesca está na sua previsibilidade; é
algo que lembra o roteiro que recebemos ao entrar no teatro para assistir a uma
ópera. Mas o que mais impressiona é a regularidade de fatos que se repetem como
um cacoete institucional, tendo o pais inteiro como plateia. O espectador já
enxerga o início, o meio e o fim do enredo dramático e ainda chora a morte do
protagonista.
Somos
esse espectador que fica no seu cantinho escuro sussurrando críticas ao ouvido
do vizinho sem interromper o espetáculo. No palco, estão os políticos e o
funcionalismo construindo performances extravagantes sem o mínimo de pudor. Por
conta dessa passividade, o governo já tem esquadrinhado todos os detalhes das
majorações tributárias que servirão de lastro para suportar a famigerada
pauta-bomba que irá explodir logo à frente. Já tá pronto, inclusive, o discurso
que irá justificar o aumento da carga tributária.
Já
é perfeitamente esperado também, o nhem nhem nhem da classe empresarial, que
ficará meses envolvida em discussões vazias que resultará em nada (como
sempre). O poder econômico só se mexe (um pouquinho) depois do leite derramado.
Não existe ação profilática, não há coordenação nem atividade conjunta. Tudo
acaba resumido em blá blá blá e notinhas de jornal.
Se
a classe empresarial fosse de fato proativa, ela faria uma grande vaquinha para
escancarar na televisão toda a farra que os agentes públicos fazem com o
dinheiro dos impostos. Seriam umas 200 veiculações por dia, apontando os abusos
dos carros oficiais, pensões de filhas solteiras, auxílios moradias, cafezinhos
milionários, hordas de infinitos assessores, penduricalhos que levam os
salários para a estratosfera etc, etc, etc. As veiculações destrinchariam tudo
quanto é abuso financeiro de cada deputado, senador, governador, prefeito,
vereador, secretário etc, etc, etc. Esse movimento seria parecido com o AGRO É
TECH AGRO É POP AGRO É TUDO, só que 50 vezes mais intenso. Eu quero é ver, qual
agente público iria sobreviver a tamanho bombardeio!!
Curiosamente,
muitas denúncias correm soltas nas redes sociais enquanto que na televisão a
coisa toda é pasteurizada. Seria oportuno e didático transferir a linguagem da
internet para a publicidade televisiva. Mas alguma força sobrenatural impede o
empresariado de combater o aumento de imposto, cujas raízes majorativas estão
solidamente fincadas nos gastos públicos. Essa passividade sugere uma espécie
de alinhamento velado com o status quo. Se for assim, então, o melhor a fazer é
decretar a falência da nação e eleger Nicolás Maduro para presidente do Brasil.
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