Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 12 / 02 / 2019 - A353
O
grande mal do nosso sistema tributário está na falta de objetividade. O enrosco
burocrático é mais perverso do que o peso esmagador dos impostos. Não por
acaso, algumas empresas mantém contrato com duas ou três assessorias jurídicas
especializadas em questões espinhosas. E ao mesmo tempo contam com auditorias
técnicas para averiguar o cumprimento de normas legais. Tantos eventos
paranoicos são perfeitamente justificáveis quando se vive num ambiente de
extremada insegurança jurídica, significando assim que nada do que está escrito
merece confiança. Em meio a esse caldo de atrocidades legislativas, a
normatização tributária se destaca pelo seu alto grau de letalidade. Em outras
palavras, quando se pensa em tributo a imagem que vem à cabeça é a do próprio
inferno ardendo em chamas. Quanto ao contingente de capetas, todo mundo conhece
a identidade e onde estão alocados.
Em
terras brasileiras, é impossível escapar das autuações fiscais. Impossível. Não
há contador nem administrador nem advogado que consiga implantar um sistema de
controle imune a investidas dos agentes fazendários. O motivo de tamanho
descalabro reside na labiríntica profusão de regulamentações que se colidem
umas com as outras. O efeito prático dessa maçaroca encaroçada explode numa
miríade de dúvidas sobre procedimentos e ritos técnicos vinculados a diversos
processos operacionais. Resumo da ópera: trabalha-se no escuro com fabricação
de dinamite. Mas cedo ou mais tarde o patrimônio vai pelos ares.
A
Receita Federal vem há décadas aprimorando seus esforços para facilitar a
compreensão das suas normatizações. Primeiramente, com as reiteradas edições do
seu manual de perguntas e respostas e mais recentemente com a produção de
vídeos instrutivos. Desse modo, os tributos federais geram dez vezes menos
insegurança do que o tenebroso ICMS. A regulamentação do imposto sobre
circulação de mercadorias é uma verdadeira fábrica de atrocidades; parece que
tudo é feito para atormentar o contribuinte. A razão de tanta nebulosidade está
na corrupção. Grupos fortes precisam manter seu poder e influência sobre o
empresariado, e, para tanto, se utilizam da subjetividade para achacar esse
empresariado. Por essas e outras é que a grande cruzada deveria ter como alvo
prioritário, o enrosco burocrático. É preciso quebrar a espinha dorsal dos
bandidos travestidos de funcionários públicos. É preciso acabar com a indústria
das autuações fiscais que tufa os bolsos daqueles que se alimentam da lama
burocrática. O caminho está na simplificação do sistema.
Infelizmente,
não podemos contar com a boa vontade dos agentes públicos para reduzir a
burocracia porque eles jamais fariam isso. Se, por exemplo, fosse extinto o
regime da não cumulatividade, a Sefaz teria que demitir metade do seu quadro
funcional por falta do que fazer. Aquela montoeira de gente vive eternamente
debruçada sobre questões envolvendo débito versus crédito de ICMS. A mesma
redução aconteceria nos setores administrativos das empresas. No dia que o ICMS
for pago no início ou no fim da cadeia de produção/distribuição, ou então
passar a ser cumulativo, teremos um brutal enxugamento da burocracia
fiscal.
Enquanto
o caminho para o paraíso não sai do papel, o jeito é tentar se proteger das
labaredas e dos tridentes pontiagudos. A FIEAM mantém um núcleo de altos estudos
tributários que fornece soluções fisco tributárias para seus afiliados. Essas
tais soluções são construídas a partir duma intensa e competente interlocução com
vários órgãos fazendários. É um trabalho árduo e cansativo, mas que confere
grande estabilidade nas relações do setor industrial com o Fisco. Uma proposta
de copiar esse modelo foi apresentada à Federação do Comércio numa reunião de
duas horas e meia em fevereiro de 2016, mas que, infelizmente, foi rejeitada.
Como resultado, temos uma permanente e intensa peregrinação de contadores do
comércio pelos corredores da Sefaz, sendo que muitos deles carregam a mesma
dúvida. Seria muito mais inteligente que um setor especializado da Fecomércio
fizesse a ponte entre o agente fazendário e seus afiliados para solucionar
conflitos e estabelecer procedimentos objetivos relacionados a normatizações
obscuras. Em tempos de escassez da contribuição sindical, isso seria um ótimo
meio de fortalecer a entidade. Curta e siga @doutorimposto
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