Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 1 / 9 / 2020 - A410
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Em
meio ao turbilhão de discussões envolvendo reforma tributária, a PEC45 resplandece
impávida pela força dos seus idealizadores. Essa proposta nasceu no coração do
Centro de Cidadania Fiscal, cujos representantes maiores são três brilhantes e
poderosos articuladores da retórica fiscal: Nelson Machado, Eurico de Santi e Bernard
Appy. Este último, esgrima um conjunto de argumentos majoratórios com tal habilidade
que dificulta a contestação dos opositores bem informados e bagunça o raciocínio
dos ineptos. Todo esse poder foi construído ao longo dum processo de estudos e de
numerosos debates que permitiram dissecar o sistema tributário brasileiro. O
triunvirato se movimenta com destreza porque conhece a malícia e as idiossincrasias
que há por trás de tanta normatização enigmática. E como disse o icônico orador
Maurice Garçon, a arte da palavra é a mais enganadora de todas. Pois é. O pessoal
do CCIF está se valendo do prestígio adquirido para defender seus patrocinadores:
Ambev, Braskem, Carrefour, Coca-Cola, Huawei, Itaú, Natura, Raízen, Souza Cruz,
Vale e Votorantim. Essa turma endinheirada é contra o modelo progressivo, e por
tal razão manobra a fauna política para dourar a pílula amarga do brutal aumento
da carga sobre serviços. A ideia central é continuar protegendo os grandes
rendimentos que pagam somente 7% de IR, conforme estudo da Professora Maria
Helena Zockun (USP). Se houvesse um eficiente movimento para diminuir a brutal
carga do consumo, fatalmente, os magnatas teriam que pagar mais imposto de renda.
E é justamente isso que os patrocinadores do CCIF mais temem.
Na verdade, o CCIF joga o legítimo jogo democrático ao defender seus interesses
no ambiente apropriado, que é o Congresso Nacional. E onde está o problema? O
problema está nos grupos divergentes que não possuem a mesma capacidade de
organização. Os embaixadores do setor de serviços, por exemplo, não trabalharam
numa contraproposta com esmero semelhante ao do CCIF; o que fazem, muitas vezes,
é se deter em reclamações que são em grande parte desprovidas de estofo técnico.
As fragilidades, portanto, obscurecem pleitos legítimos de quem não sabe lidar
com tubarões experientes. Diversos outros posicionamentos das mais variadas
categorias econômicas figuram no palco da reforma tributária, mas poucos grupos
encaram o assunto com o profissionalismo do CCIF.
Pode parecer uma comparação leviana, mas a coisa de desenvolve da seguinte forma: Vamos imaginar que numa determinada reunião alguém diz que será preciso enviar uma equipe de astronautas para Marte, onde o colega sugere contratar o Seu Zé da esquina para fazer uma nave espacial rapidinho. Por incrível que pareça, é desse modo que funciona o cérebro de muita gente que encara tudo com uma simplicidade prosaica.
Em vez de apelar para discursos barulhentos, os grupos empresariais deveriam copiar o CCIF. Ou seja, as entidades unidas por interesses comuns deveriam possuir um robusto e potente centro de estudos tributários que fosse capaz de confrontar tubarões famintos para não morrer no tabuleiro de negociação. Com isso, os representantes empresariais andariam sempre municiados de potentes argumentos técnicos.
A Sefaz AM, por exemplo, fica mansinha quando discute pleitos com um empresário
bem informado. Inclusive, o dono de um grande atacarejo faz sucesso na Sefaz
pelos conhecimentos tributários que tornam suas reivindicações mais palatáveis.
Agora, quando o pleiteante transmite desconhecimento tributário, a Sefaz desfia
um corolário tecnicista que acaba neutralizando demandas justas e urgentes. Na
verdade, a Sefaz se diverte com situações rocambolescas.
Sabemos que o peso das responsabilidades suportado pelo empresário é muito grande. Por tal motivo, ele departamentaliza suas operações para conseguir focar no cerne do negócio. Mas, infelizmente, o assunto tributário requer profunda dedicação. Ainda mais agora, que só se fala em reforma tributária. O momento é de se alinhar com o contador, passar horas no Youtube e buscar outros meios de aprendizagem. Curta e siga @doutorimposto
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