Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 24 / 01 / 2025 - A498
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A
confusão em torno do pix gerou debates acalorados sobre o imposto de renda.
Muitos especialistas defendem a função da Receita Federal de caçar sonegadores.
E o alto volume de críticas sobre monitoramento financeiro deixa uma impressão
de estímulo à sonegação tributária. Ou seja, existe um grande contingente de
cidadãos que deveriam ser tributados, mas não pagam imposto de renda, tipo,
feirantes, pedreiros, pipoqueiros, diaristas, ou então aquela senhora
assalariada que vende bolos para complementar a renda. Nesse caso, a soma do
salário mais o ganho extra gera obrigação do imposto de renda. O monitoramento
da Receita Federal tem por objetivo tributar toda a movimentação financeira,
sem considerar os custos de fabricação dos bolos. Para evitar uma possível ação
criminal, a opção menos onerosa está na constituição duma pessoa jurídica de
micro empreendedor individual. A parte lamentável dessa história, é que as duas
remunerações mal cobrem as despesas com aluguel, transporte, alimentação etc.,
e mesmo assim, haverá um custo tributário extra. E apesar da cansativa luta
pela sobrevivência, a Receita Federal enxerga na senhora dos bolos uma
sonegadora criminosa. Mas será mesmo que essa senhora não paga imposto nenhum?
Sendo
assalariada, ela gera um custo ao seu patrão que gira em torno de R$ 4.000
mensal, mas o valor bruto do contracheque é de R$ 2.000. Ou seja, se não
houvesse registro em carteira, o patrão poderia entregar R$ 4.000 à sua
empregada. Mas, a condição de formalidade legal gera um custo igual ao salário
contratual, com altos encargos tributários e gastos extras. Sendo assim, o
governo arrecada uma grana alta nessa etapa do processo. Vamos ao próximo passo
da saga arrecadatória.
O
governo novamente abocanha uma parte do salário, fazendo com que a empregada
receba bem menos que os R$ 2.000. Quando o saldo recebido é utilizado para
comprar produtos para a família, acontece uma taxação média de 50%, que estão
embutidos nos preços. Ou seja, se os produtos fossem isentos, seria possível
comprar o dobro de coisas com o mesmo dinheiro. Sendo assim, o governo,
novamente, mete a mão no bolso da pobre coitada da senhora. Detalhe importante:
Existem altos impostos escondidos nos insumos utilizados para preparar os bolos
que geram renda complementar. Mesmo assim, e com tantas facadas nas costas,
diversos especialistas de araque afirmam que essa senhora é uma sonegadora de
imposto porque seu ganho total está muito acima da faixa de isenção do imposto
de renda.
O
Brasil fez uma péssima escolha sobre a fonte principal de arrecadação, que está
no consumo. É o que se chama de sistema regressivo. Por consequência, as
pessoas de baixa renda são as mais prejudicadas. Para ilustrar essa injustiça,
tomemos o caso do forno micro-ondas no valor de R$ 700, cuja taxação embutida é
de 66%. O consumidor então paga R$ 238 pelo produto e paga também R$ 462 ao
governo. Desse modo, uma pessoa com renda de R$ 1.650 é taxada em 28%. Quem
ganha R$ 5.775 paga 8% de imposto. E aquele que possui renda de R$ 23.100 sofre
taxação de 2%. Por tal motivo, os ricos não querem mudança na regressividade.
Tanto é, que esse sistema foi mantido na reforma tributária. A mídia em geral
alardeou a notícia de que os pobres farão resgate de parte do imposto sobre
consumo. Isso é mentira, porque faz o pobre assalariado acreditar que será
beneficiado. Na verdade, somente o pessoal do Bolsa Família terá direito ao
cashback. Sendo assim, o empregado de salário mínimo é considerado rico.
Infelizmente, e lamentavelmente, o governo se junta com a mídia para tratar o
país inteiro como idiotas tapados.
O
nosso imposto de renda é repleto de falhas tenebrosas. Por exemplo, no Brasil,
existe regressividade dentro da progressividade, uma vez que os maiores
rendimentos do país pagam somente 7% de imposto de renda, enquanto que o
assalariado de R$ 5.000 está na faixa de 27,5%. Esse percentual diminui após
deduções, mas mesmo assim fica bem acima de 7%. Existe outro problema muito
sério, que está nas super limitadas possibilidades de dedução. Isto é, de todos
os gastos da família, só uma parte diminuta pode ser deduzida. As parcelas de
dedução da tabela do imposto de renda podem ser uma forma de compensar uma
série de custos da família, mas a informação não fica clara para o
contribuinte. Enquanto isso, na Suécia, por exemplo, o contribuinte faz uma
verdadeira contabilidade dos gastos pessoais, tributando ao final somente o que
sobra após inúmeras deduções. A taxação da Suécia gira em torno de 50%, mas o
retorno à população é duzentas vezes melhor que o brasileiro. Consequentemente,
a qualidade de vida é incomparavelmente melhor que a realidade empobrecida dos
brasileiros. Outra coisa: Mesmo com alíquota elevada, é possível que na Suécia,
o custo tributário fique menor que no Brasil, por causa das confusas e
limitadas regras de dedução da Receita Federal. Para finalizar, os 7% acima
mencionados é resultado dum estudo da Professora Maria Helena Zockun (USP). Curta
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