Publicado na revista Editor Fiscal - maio/2011 - pág. 34
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OUÇA A CANÇÃO
“É a verdade o que assombra; o descaso que condena; a estupidez, o que destrói. Eu vejo tudo que se foi e o que não existe mais...” Renato Russo canta essas palavras com sentimento de alerta misturado com lamento. De fato, raras são as pessoas que apreciam mudanças tempestuosas, principalmente o empresário aturdido com o impacto de tantas modificações fiscais ocorridas nos últimos anos. Foi-se o tempo da empresa que só se preocupava em vender e receber; tempo em que gestão contábil/fiscal era coisa de multinacional. A realidade agora é outra e sua teimosia ostensiva anda assombrando aqueles que insistem no velho modelo de negócio. Não basta somente vender, é preciso controlar os processos sistêmicos da empresa.
O empresariado brasileiro é historicamente averso a controles de processos internos. A maioria começou com um pequeno estabelecimento onde podiam utilizar o olhômetro para controlar tudo ao seu redor. Com o passar dos anos as estruturas se expandiram, com exceção de uma determinada região do cérebro desses empreendedores. Ou seja, por mais que o volume de operações se agigantasse, mantinha-se a mesma prática administrativa lá do tempo da lojinha. Quando surgia a necessidade de automatização de processos críticos do negócio, a opção escolhida era sempre a mais barata, não importando a qualidade da informação produzida e tampouco a capacitação profissional dos empregados.
Confúcio mencionou dois métodos para adquirir sabedoria. Primeiro, através da reflexão, que é o mais nobre; segundo, por meio da experiência, que é o mais amargo.
Apesar da onda de reclamação e resistência ao projeto SPED, pode ser que esse novo conjunto de obrigações impostas pelo governo provoque uma oportuna e necessária revolução na cultura empresarial brasileira. De forma geral, todos estão despertando e aprendendo, seja pela reflexão ou pela experiência. Até os anacrônicos estão se mexendo porque o bolso deu o alerta. Já os sensatos, além de estarem se municiando com recursos estratégicos para se adaptarem a esse novo ambiente, estão também visualizando as vantagens do SPED. A mais importante é que finalmente o computador deixará de ser um instrumento que encarece e complica processos manuais. Ao contrário do que muitos vaticinavam o computador não opera milagres. Ao invés disso, já causou muita confusão em empresas que funcionavam muito bem antes dele.
O sinal de alerta soou no caixa. Como fica cada vez mais difícil sonegar, todo centavo precisa ser economizado. Assim, muitos estão percebendo que o ralo do desperdício de dinheiro está no alto custo da enferrujada e ineficiente máquina administrativa – os processos são praticamente inexistentes, as pessoas são despreparadas, os recursos de informática são insuficientes, gestão estratégica é palavrão.
Quem saiu na frente já sincronizou seus processos comerciais com fornecedores e clientes, onde a comunicação é eletrônica e os resultados das operações é todo absorvido pelo sistema interno de informática, preservando assim a integridade da informação. Aqui, a palavra-chave é cadastro. Cadastro é o núcleo onde ao seu redor gravita uma série de operações. Cadastro eficiente requer inteligência, profissionalismo, atenção e muito capricho.
A automatização inteligente dos processos de compra, armazenamento, venda e recebimento produz conhecimento suficiente para alçar a empresa à níveis mais altos de controle, como por exemplo, gestão integrada de processos, prática orçamentária, gestão de risco, elaboração de cenários e análise estratégica do negócio. Para que essa linha seja percorrida o empresário precisará reinventar-se a si próprio e sair do estado de paralisia de paradigma. Alguma coisa deverá ser feita, mesmo que seja preciso bater a cabeça na parede até surgir uma faísca de iluminação.
O caminho é sem volta e a complexidade só aumenta a cada dia que passa. 2012 é anunciado com o ano em que os pequenos e médios empresários passarão pelo teste mais importante do SPED, que pouco tempo atrás sacudiu as grandes empresas. Não é absolutamente necessário tornar amarga essa travessia; é possível fazê-la de forma serena. Tudo é uma questão de escolha. O mercado dispõe de recursos e tecnologia para prover de subsídios aqueles que estão dispostos a encarar as mudanças de forma positiva. Há também entidades educacionais prontas para capacitar tanto empregados quanto patrões.
A canção tratada no início do texto termina da seguinte forma: “E nossa história não estará pelo avesso assim, sem final feliz. Teremos coisas bonitas pra contar. E até lá, vamos viver. Temos muito ainda por fazer. Não olhe pra trás; apenas começamos. O mundo começa agora. Apenas começamos”.
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