reginaldo@reginaldo.cnt.br Publicado no Jornal do Commercio Manaus/AM 10/05/2011
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De que matéria-prima é feita uma nação? Monteiro Lobato disse que uma nação se faz com homens e livros. Um agricultor habilidoso separa as melhores espigas para semente. Dessa forma, ele trabalha com o intuito de aprimorar constantemente a qualidade da sua colheita. Providencialmente, Finlândia e Coréia do Sul fazem algo semelhante no seu processo educacional, onde os melhores alunos são convidados a ingressar na docência. Não é à toa que esses países ostentam altíssimos níveis de desenvolvimento científico e tecnológico. Daí, que ano após ano repetem a façanha de mostrar ao mundo a razão da sua grandiosidade, tal qual seja, o seu material humano.
A ululância candente do óbvio salta aos olhos e mesmo assim aturamos uma série de subterfúgios, teorias e infindáveis debates que mais parecem aliterações cacofônicas (um cachorro correndo atrás do próprio rabo). Trocando em miúdos, em vez de muita gente se debruçar em exaustivas discussões filosóficas acerca da melhoria da qualidade educacional, esse pessoal deveria simplesmente planejar formas de conferir dignidade ao Educador oferecendo-lhe uma carreira promissora e bem remunerada. O problema é que muitos buscam uma fórmula algorítmica que produza alunos brilhantes a partir de professores medianos.
O sucesso de alguns países no campo educacional parece não nos servir de modelo a ser seguido. O foco dessas nações avançadas é uma liturgia em torno da figura emblemática do professor – sentimento compartilhado por toda a sociedade. No Brasil, o professor é despido dessa aura divina, atuando apenas como um apagado figurante no teatro social, sendo que muitas vezes é esquecido nos bastidores da vida. Mesmo assim, alardeiam-se nos vários segmentos da mídia as nossas intenções de ingresso no grupo dos países do primeiro mundo. Certamente, faremos história se conquistarmos essa proeza à revelia da valorização do professor.
É impressionante como o gigantismo da máquina estatal derrama rios de dinheiro no poço sem fundo da burocracia, da ineficiência, do fisiologismo, dos esquemas diversos, da corrupção etc. E mesmo assim não sobra verba para oferecer uma remuneração decente ao professor. O governo dispõe de caixa para pagar dez mil reais a um assessor parlamentar e não pode pagar mais que um salário mínimo para muitos professores dos rincões desse nosso Brasil. O tal assessor pode até ser analfabeto, mas o professor deve reunir uma infinidade de qualificações que lhe permita forjar a massa crítica que acaba por fim definindo a face da nação brasileira. Tal realidade é algo que angustia e revolta.
Atualmente, um clima de desilusão permeia a mente de muitos alunos em relação à carreira de professor, onde acompanham diariamente as agruras da vida dos seus mestres. Por isso ambicionam profissões menos sacrificantes e mais rentáveis. Isso acontece até mesmo nos cursos de pedagogia – uma tragédia para as próximas gerações. Outro aspecto curioso a se considerar é que os alunos egressos dos cursos de pedagogia são majoritariamente oriundos das classes sociais menos abastadas, pessoas de difíceis condições sociais que escolheram um curso mais simples e mais barato – uma antítese à prática da Finlândia e da Coréia. Por isso é que o futuro professor já começa desmotivado com o que lhe espera depois de formado. Somente aqueles com forte espírito messiânico conseguem angariar entusiasmo para abraçar resignadamente a nobre causa da educação. Assim, há que se pensar na sorte dos alunos quanto ao tipo de professor que terão em sala de aula, se os engajados ou os conformados.
Que tipo de cidadão será constituído por um professor despreparado e mal remunerado? Assusta-nos o fato de que quanto mais nova a criança, pior a qualidade do ensino. Sem base, o aluno segue descompensado através das várias etapas da sua escolaridade. É fato recorrente nas salas de aula a presença de alunos absolutamente deslocados por falta de conhecimento que deveriam ter obtido nas séries anteriores. As mensalidades mais altas das escolas particulares de referência estão justamente no complexo processo de formação educacional da criança bem novinha. Mas isso é privilégio de uma classe social muito restrita, cujos filhos irão morar no exterior assim que estiverem prontos para a vida.
Como o Sr. menciona, "A ululância candente do óbvio salta aos olhos e mesmo assim aturamos uma série de subterfúgios ...", isto bem resume o que acontece aqui no país. Sabe-se o que tem de ser feito, mas enrola-se para implementar. Na verdade, mais afirmo que não existe vontade política para reverter este cenário educacional. É mais fácil criar ações cujo resultado seja ainda no mesmo mandato, do que ações na área de ensino que surtirão efeitos concretos após alguns anos.
ResponderExcluirÓtimo artigo. Parabéns.
Obrigada por este artigo!
ResponderExcluirSimplesmente fantástico!
Tenho 59 anos de idade, quase 60 e 37 anos de magistério, sempre em escola pública.
Tenho esperança, por ingenuidade ou teimosia, mas tenho esperança. Espero qua a categoria grite, pressione, lute e mude este panorama sinistro. Só podemos contar conosco, ninguém vai fazer por nós. Compartilhar ideias é um excelente caminho. Grata professor! Um abraço.
Maria Helena- Porto Alegre-RS