terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

EVOLUÇÃO DO "COMPLIANCE"

Reginaldo de Oliveira

Os mais espertos da sala de aula podem vir a ser espertos demais no ambiente de trabalho. A supervalorização de manobras ousadas nas relações de negócio pode redundar em consequências desastrosas para a organização como um todo. A competitividade acirrada e a própria dinâmica do mercado acaba fomentando o surgimento de práticas que a princípio são recebidas com louvor, mas que tempos depois se revelam fraudulentas. Basta lembrar o caso Enron. Por isso, muita gente já percebeu que esperteza demais pode ser prejudicial para todo mundo e a consequência dessa percepção resultou na criação de entidades voltadas para o estudo e proposição de práticas sustentáveis de negócio, tendo como fundamentos a ética, responsabilidade social e construção de uma sociedade mais justa.

Vivemos num mundo incerto onde eventos e fenômenos surpreendentes desestabilizam o mais bem elaborado planejamento. São colapsos financeiros, ataques terroristas, catástrofes naturais, instabilidade política, convulsões sociais, desvios de conduta, fraudes etc. Aqui no Brasil ainda temos a famigerada insegurança jurídica, corrupção entranhada em todas as células sociais e uma estrutura tributária que se assemelha ao monstro Frankenstein. Lidar com variáveis tão diversas requer a adoção de políticas de gestão de risco e de blindagem patrimonial, com foco no fortalecimento dos controles internos. Por esses e outros motivos ganha força nas organizações a adoção das políticas de “compliance”, termo inglês que significa cumprir o que foi determinado. Tais procedimentos visam estabelecer uma cultura onde as pessoas pautem suas ações em conformidade com as normas estabelecidas. A empresa, por sua vez, também deve dar o exemplo através do cumprimento de regras fixadas por entidades regulatórias. É por demais importante que a via ética seja de mão dupla para que a mensagem vinda do topo não adquira coloração demagógica antes de chegar aos ouvidos da base operacional.

As políticas de “compliance” são parte importante do sistema de governança corporativa, cujo objetivo maior é zelar pela reputação e pelo valor da companhia, cujo alvo é o mercado; seus parceiros, consumidores e investidores. Há casos de entidades, por exemplo, que já estão utilizando o “compliance” como critério de desempate na escolha de empresas para investimento ou fechamento de acordos comerciais. Esse comportamento do mercado tem assim empurrado as empresas para o campo ético, onde condutas desleais, contrabando, sonegação, trabalho escravo, exploração infantil, não são mais tolerados. Claro e óbvio que a mudança deve acontecer de dentro para fora. Assim, o cerco vem se fechando em volta dos funcionários cuja esperteza foi longe demais. Para os interessados, há todo um conjunto de procedimentos prontos para a adoção do “compliance”, bastando apenas buscar um especialista no assunto.

Uma consequência curiosa e positiva da abertura do guarda-chuva ético é que as empresas entre si conseguem certo grau de uniformidade devido à própria pressão do mercado. Já outro elemento ostensivo e determinante no cenário econômico meio que se isola desse processo. Dessa forma, as entidades governamentais passam a ser alvo do movimento ético nascido nas empresas. Corrupção e desmandos já não tolerados no setor privado passam também a não ser tolerados no setor público. Empresas como a Siemens, EDP Energia, Walmart e Natura já orquestram um movimento que pressiona o Congresso pela aprovação de leis moralizadoras da máquina pública.

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