Publicado no Jornal do Commercio dia 18/09/2012 - A97
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Na
época dos computadores de 8 bits a informatização de processos acontecia de
forma metódica e sem as turbulências e convulsões hoje tão recorrentes nas
organizações. Um fenômeno curioso e paradoxal é que quanto mais avançadas se
tornam as tecnologias disponíveis, mais dores de cabeça, mas complicações e
mais custos elas trazem para as empresas. Os robustos mainframes de décadas
passadas centralizavam os controles de diversas operações de uma organização.
Essa centralização permitia manter o sistema de informações rigorosamente
alinhado com as diretrizes e normas estabelecidas. O advento dos milagrosos computadores
pessoais (PC) dispersou as informações promovendo o caos e a perda de controle,
visto que muitas automações de procedimentos se tornaram redundantes,
conflituosas e enigmáticas. Depois de anos de convulsões, aborrecimentos e
frustrações com as promessas milagrosas da informática, começaram a se
disseminar os Sistemas Integrados de Gestão Empresarial ou, em inglês, “Enterprise
Resource Planning” (ERP). Mais uma vez as empresas se viam seduzidas com a
promessa de integração total dos seus processos. O problema é que, teoricamente,
o conceito era excelente, mas a prática descortinava uma realidade turbulenta e
destrutiva. Tanto, que casos de falência motivados por desastrosas implantações
de
Sistemas
ERP são mais comuns do que se pode imaginar.
Apesar
do bombardeio constante de notícias sobre produtos tecnológicos revolucionários
e apesar das maravilhosas propostas de soluções avançadas oferecidas pelas
softwarehouses, o que se observa na rotina da maioria das empresas é um
absoluto descompasso com o tal mundo maravilhoso que só existe na propaganda.
Os casos de sucesso conhecidos são fruto de altíssimos investimentos, tanto em
sistemas ERP como em toda uma infraestrutura de gestão dos negócios. Empresas
com nível de profissionalismo insuficiente penam bastante na mão de analistas
inescrupulosos, justamente pela estreiteza da visão sobre o assunto. Essas
empresas querem chegar ao topo da escada sem ter que passar pelos degraus
intermediários. A mistura de miopia com ignorância torna muitos empresários presas
fáceis dos mercadores de Sistemas ERP. A tática dos vendedores é não contar
toda a história, visto que se fizer isso acabaria perdendo o cliente, que só terá
noção do tamanho da enrascada que se meteu quando o processo estiver bem
adiantado. Na etapa da negociação só se fala dos benefícios e das virtudes do
sistema, não ficando claro o custo necessário para obtenção de níveis razoáveis
de sucesso.
Uma
das características mais acentuadas no corpo técnico das empresas
comercializadoras de Sistemas ERP é o ostensivo e vergonhoso desconhecimento
daquilo que vendem. A impressão que essas empresas deixam é que abraçam uma
responsabilidade sem o mínimo preparo. A evidência desse fato pode ser
constatada numa infinidade de casos de analistas que se enroscam por inteiro
quando tentam corrigir um problema de funcionalidade ou atender demandas
específicas de clientes. Muitos desses profissionais deixam a coisa pior do que
encontram. E o mais revoltante é que cobram, cobram, cobram por cada detalhe,
por cada verificação, por cada análise. Tudo é cobrado e pouca coisa funciona.
Normalmente, os analistas locais pouco ou nada sabem do sistema em que “são
especializados”. É muita gente ruim espalhada por aí, enganando e irritando
usuários de sistemas ERP. Um adquirente de sistemas ERP que quiser alguma
funcionalidade terá que estar disposto a contratar profissionais caríssimos,
oriundos dos grandes centros de tecnologia do país.
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