Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 16/04/2013 - A118
Não
faz muito tempo, o conceito de “contador bom” era relacionado ao profissional
capaz de dar um jeito legal a todo tipo de estripulia da direção da empresa. O
administrador só lembrava-se do contador em momentos muito específicos de
problemas fiscais ou societários. Fora isso, a contabilidade ia acontecendo lá,
meio que à revelia da administração. Existe um chavão bem batido que diz que
contabilidade é um mal necessário e que o contador é um funcionário público
pago pela empresa privada. Ou seja, se a empresa fosse atravessando os anos sem
traumas ou abalos oriundos de fiscalizações tributárias, isso era sinal de que
o pessoal da contabilidade estava fazendo o seu trabalho corretamente. Esse
dito “trabalhar corretamente” incluía verdadeiras engenharias e malabarismos
numéricos para transformar operações desencontradas em registros harmoniosos e
em conformidade com as normas legais. O contador tinha que ser antes de tudo um
bom contador de histórias. Inclusive, circulou em alguns meios escritos o termo
“contabilidade criativa”, para o qual muitos torciam o nariz por parecer
sinônimo de gambiarra.
Felizmente,
muita coisa mudou de uns tempos para cá. E o SPED tem tido um papel fundamental
nesse processo de moralização dos procedimentos fiscais e contábeis. O cerco
implacável do governo através dos seus instrumentos tecnológicos de controle
eletrônico vem de certa forma educando a classe empresarial. Isso, porque o
SPED só funciona adequadamente se os processos operacionais estiverem
razoavelmente desenhados. Aquela dita engenharia malabarística vem gradualmente
sendo substituída pela dedicação a estudos de alto nível técnico de informática,
economia e administração, além dos IAS/IFRS/CPC. Isso significa que o espaço ocupado
pelo “jeitinho” vem diminuindo rapidamente, visto que o governo tem as notas de
compra, tem as notas de venda, tem acesso à parte da movimentação financeira,
tem acesso à contabilidade etc. Na realidade, o governo está engolindo as
empresas. Muitas, já estão inteiramente no seu estômago, sendo digeridas com
sucos amargos. Aquela máxima bíblica do capítulo XV, do Livro de Provérbios que
diz “Os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons”
foi reescrita pela Receita Federal. Agora, a paranoia está tomando conta dos
empresários, visto que “os olhos do SPED estão em todo lugar, contemplando os
bons e principalmente os maus contribuintes”.
A
necessidade de atendimento das normas do SPED, acompanhada do próprio
amadurecimento do mercado, expansão da classe média e aumento do nível
educacional da sociedade, vem contribuindo sobremaneira para a implementação de
práticas modernas de gestão. Esse movimento está sendo traduzido em aumento da
demanda por profissionais melhor qualificados. E obviamente, o contador não
poderia escapar dessa situação. O cerco ferrenho do SPED está obrigando as
empresas a se voltarem para a melhoria dos seus processos operacionais, como
única saída para se manterem no mercado. Ou seja, o rio de dinheiro que desemboca
nos cofres do erário está fazendo com que o diretor tenha que rebolar bastante
para administrar os poucos recursos que sobram. É nesse momento que surge a
imperiosa necessidade de efetiva gestão financeira, fiscal, contábil e
administrativa, onde somente os profissionais de alto nível técnico estão
preparados para encarar tais desafios.
Por
tudo isso é que chegou a vez do Contador (agora, com “C” maiúsculo). Ninguém
como ele, possui a visão ampla e profunda dos processos operacionais de uma
empresa. Ele é capaz de visualizar o funcionamento da estrutura inteira no seu
cérebro. E saber dos fluxos e contra-fluxos; gargalos e obstruções. Inclusive,
o próprio processo de convergência às normas internacionais de contabilidade
(Lei 11.638/2007) vem provocando uma revolução no universo da contabilidade. O
pensar contábil mudou radicalmente; o efeito IFRS derrubou fronteiras e
expandiu bruscamente a jurisdição do Contador. Ele passou a ser também
economista, engenheiro, administrador etc. Ou seja, para ser possível traduzir
toda a complexidade de uma organização em demonstrativos contábeis é necessário
também utilizar instrumentos conceituais igualmente complexos. Os
administradores já estão tomando ciência dessa ebulição e logo estarão prontos
para cobranças mais duras junto ao seu Contador.
Assim,
pode-se dizer que finalmente aquele profissional da contabilidade que no
passado era preterido por querer ser muito certinho, já começa a ver os
espertinhos pelo retrovisor. E aqueles empresários tão acostumados a navegar no
mar sereno das manipulações contábeis, agora sentem a tempestade jogar o navio
de um lado para o outro. Os tais “jeitinhos” contábeis estão sendo debulhados
pelo Fisco com uma facilidade nunca imaginada. E a saída para garantir um nível
aceitável de segurança do próprio negócio é contar com a parceria de um
profissional contábil preparado para atuar nesse novo ambiente de
instabilidades e complexidades técnicas e legais.
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