Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 30/04/2013 - A120
Ao
dirigir um carro o motorista precisa ficar atento ao velocímetro, temperatura
do motor, nível de combustível, se a luz do óleo acendeu etc. Alguns veículos
ainda dispõem de computador de bordo, aparelho de GPS, dentre outros
dispositivos mais sofisticados. Sabemos também que alguns malucos rodam por aí
em calhambeques sem saber o volume de combustível disponível e muito menos a
velocidade. Agora, se o painel de instrumentos de um carro é tão importante
para orientar as decisões do condutor, imagine um Boeing 777 que cruza o
atlântico. Claro, a pilotagem de uma máquina com esse grau de complexidade
exige um rigoroso preparo que pode consumir muito tempo de estudo e dedicação.
O piloto precisa não somente monitorar consumo de combustível e velocidade, mas
também uma gama imensa de informações que o painel de instrumentos produz
intermitentemente durante toda a viagem. E se a aeronave decolou, voou e pousou
conforme condições estabelecidas e horário aceitável, então a missão foi bem
sucedida.
Há
quase vinte anos, a sra. Ana Medeiros, então com apenas 24 anos de idade, e que
tinha acabado de concluir o curso de Ciências Contábeis, foi empossada diretora
administrativa da empresa Taguatur, cujo quadro funcional contava com mais de
mil empregados, sendo que suas unidades estavam presentes em três estados da federação.
Uma das suas primeiras decisões foi implantar uma Contabilidade Gerencial com
alto nível de detalhamento, precisão e tempestividade dos registros dos fatos
patrimoniais. Ela adquiriu um moderno software de Contabilidade Gerencial e fez
com que o famoso “headhunter”, sr. Francisco Cardoso, procurasse um Contador
que reunisse as qualificações necessárias para operacionalizar o seu projeto,
visto que sabia que o contador tradicional tinha uma percepção deformada pelo
viés fiscal e que por esse motivo não era capaz de compartilhar sua ampla visão
de controle gerencial. O Contador foi identificado e convidado a morar em São
Luís do Maranhão. Após um tempo de implantação a Nova Contabilidade estava
rodando a pleno vapor. Numa época de parcos recursos tecnológicos, a sra. Ana
acompanhava diariamente na tela do seu computador o comportamento de uma série
de indicadores e dessa forma mantinha firme nas mãos as rédeas da administração
da sua empresa. Ou seja, não havia surpresas nem sobressaltos. O sólido e
preciso conjunto de informações contábeis à sua disposição permitia que ela
administrasse os negócios com a força dos fatos (“delay” de apenas um dia),
como fazia Alfred Sloan, o grande gênio da GM.
O
que a sra. Ana fez, foi primeiramente implantar um painel de instrumentos na
sua empresa semelhante ao do Boeing 777. Em seguida, contratou um profissional
capaz de fazer esse dito painel de instrumentos fornecer, das mais óbvias às
mais sutis informações sobre o desempenho da aeronave chamada Taguatur. E
finalmente, ela transformou o seu Contador num grande aliado, quando juntos
exploravam uma série de possibilidades de permanente e contínua melhoria da
qualidade das informações gerenciais. Não à toa, a empresa chegou a ter um ativo
circulante dez vezes maior que o passivo circulante.
Administradores
como a sra. Ana são (inexplicavelmente) raros. É impressionante a dificuldade
de convencer um dono de empresa a investir num sistema de Contabilidade
Gerencial. E ensinar o funcionamento das estruturas dos demonstrativos
contábeis, então, é um tormento. Infelizmente, o que ocorre com muita
frequência é a percepção distorcida da saúde dos negócios. Há um caso curioso
de uma pequena indústria prestes a fechar as portas. Os prejuízos crescentes
levaram o dono a contratar os serviços de uma Contabilidade Gerencial, que num
minucioso processo de registro das operações constatou que a lucratividade do
negócio era excelente e que o epicentro do problema estava na bolsa da esposa
do dono, que sumia com boa parte do dinheiro do caixa.
Há
outro caso de um grupo grande de empresas, também fadada ao fracasso e abarrotada
de problemas financeiros de todo tipo, onde a Contabilidade Gerencial apontou
um alto nível de lucratividade. Mas também descobriu que a causa dos problemas
era um sangramento do caixa via exaustivas retiradas dos muitos sócios e uma
lista grande de investimentos desnecessários. De posse dos dados contábeis
estruturados e organizados, os sócios tiveram elementos suficientes para
efetuar uma série de correções e adequações, e assim salvar a empresa.
Contabilidade
é isso. É esse maravilhoso painel de instrumentos capaz de demonstrar o
comportamento de vários aspectos do negócio e assim permitir respostas rápidas
do administrador. É um contrassenso, a ideia do Contador se dispor a convencer
administradores a apostar num sistema de Contabilidade Gerencial. Os
administradores é que deveriam procurar um bom Contador para fazer funcionar a
sua Contabilidade Gerencial, como fez a sra. Ana. Lamentavelmente, a sra. Ana é
um oásis em meio ao vasto deserto da ignorância administrativa.
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