Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 21/05/2013 - A123
A
malha fina da pessoa jurídica já é uma realidade. O amadurecimento do projeto
SPED, em conjunto com a evolução dos recursos tecnológicos e humanos criaram as
condições necessárias para a Receita Federal desencadear uma onda
fiscalizatória que já está produzindo resultados grandiosos. O volume de
autuações aplicadas ano passado alcançou a cifra de R$ 115,8 bilhões e nesse
ano já ultrapassou R$ 148 bilhões. Claro, sabe-se que cabe defesa ao
contribuinte, mas a maioria das autuações de 2012 foi transformada em multa e o
mesmo deve acontecer neste ano. É um passivo doloroso para as empresas que
estiveram na linha de tiro do Fisco Federal. O Professor Dante Barini, cuja
palestra inspirou esse artigo, afirmou conhecer grandes empresas que fecharam
as portas porque contraíram um passivo fiscal exorbitante. Os comandantes de
tais empresas imaginaram que o rebuliço em torno do SPED era conversa para boi
dormir; acharam também que era dever dos seus contadores dar um jeito na coisa
torta. Para os que ainda não foram alvo de investidas do Fisco, cuidado!! Não
existe mais jeitinho. Hoje, o Fisco conhece mais a empresa do que o próprio dono.
Há
muito tempo, as empresas alimentam a estrutura de informações do Fisco através
de vários canais que estão se convergindo para um único grande repositório de
processamento de dados. Aquele badalado computador T-Rex, objeto de vários
e-mails circulados pelo país, foi aposentado. A opção mais inteligente
utilizada foi distribuição de servidores superpotentes em diversas localidades,
inclusive aqui, em Manaus. Para surpresa de alguns, encontra-se na capital
manauara a segunda mais avançada base do projeto SPED.
O
termo imperativo do momento chama-se Inteligência Fiscal por causa do
cruzamento de informações. Como havia diversas operações acontecendo fora da
órbita do SPED a Receita Federal criou o ContÁgil (Resolução 04/2012 CTI/RFB),
que segundo o consultor Roberto Dias Duarte, é um aplicativo de apoio às
atividades de fiscalização que tem como objetivo a análise e auditoria fiscal
de contribuintes a partir do cruzamento de informações oriundas de fontes
internas e externas e daquelas coletadas junto ao próprio contribuinte ou a
terceiros. O ContÁgil abraça uma série de controles fiscais de diversas
instâncias e esferas do poder público. Para completar o pacote, o sistema é
dotado de sofisticados recursos de inteligência artificial, possibilitando
assim a identificação de padrões e detecção de anomalias em atividades supostamente
fraudulentas. O ContÁgil está capacitando o corpo técnico e fortalecendo a
estrutura tecnológica das fazendas estaduais.
Dessa
forma, quando uma nota fiscal é emitida, ela passa automaticamente a girar na
nuvem da internet em canais de acesso restrito. O arquivo XML fica disponível
de imediato para os fiscos dos estados de origem e destino; para a Receita
Federal, para os postos de fiscalização, para os modais etc. Isso é chamado de
iFisco, em analogia ao iCloud, que armazena nos servidores da Apple os dados
dos usuários dos seus equipamentos. E é bom lembrar que está para entrar em
operação uma nova obrigatoriedade legal, que é a Manifestação do Destinatário,
cujo objetivo é consolidar cada operação comercial ocorrida no país.
Os
técnicos da Receita Federal dominam com maestria as tecnologias que transformam
o incomensurável volume de dados do SPED em multas. É o que se pode chamar de
Big Data, tema central da Revista Veja da semana retrasada, onde consta a
informação de que a empresa norte-americana Acxion processa anualmente 50
trilhões de informações de 500 milhões de consumidores do planeta. Isso lhe
permite conhecer os hábitos de consumo de cada uma dessas pessoas. Pelo exemplo
da Acxion, é possível imaginar o que a Receita Federal está fazendo nesse
momento. Para dar conta do serviço, a Acxion utiliza 23.000 servidores. Ou
seja, algoritmos, metadados, web semântica, data warehouse, data mining, OLTP,
inteligência artificial etc., são tecnologias plenamente dominadas Receita
Federal. Diante de todo esse aparato, pergunta-se: Quem está preparado para
desafiar o governo?
Conclui-se,
portanto, que a anunciada tempestade de autuações provocará um terremoto nas
empresas. Consequentemente, haverá um monte de gente correndo da sala pra
cozinha. Essa turbulência abrirá um imenso mercado para as firmas de auditoria
e consultoria.
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