Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 14/05/2013 - A122
Na
semana passada a classe contábil manauara foi brindada com a excelente palestra
“Não caia na malha fina”, proferida pelo Professor Dante Barini. O evento foi
promovido pela software house Alterdata em parceria com o Conselho Regional de
Contabilidade.
O
momento exige que tanto profissionais da contabilidade quanto seus clientes tomem
ciência do que está acontecendo hoje com relação ao Fisco Digital. O SPED
(sistema público de escrituração digital) é um caminho sem volta. Diferentemente
do Sintegra (sistema integrado de informações sobre operações interestaduais
com mercadorias e serviços), que ninguém levava a sério, o SPED está fazendo
seus efeitos danosos serem sentidos no bolso do contribuinte. Daí, o motivo de
contadores e administradores agendarem com urgência uma conversa séria para
definir estratégias de lidar com essa situação de perigo real e imediato.
O
SPED pariu primeiramente a nota fiscal eletrônica. Em seguida veio um magote de
irmãos, como a EFD ICMS/IPI (escrituração fiscal digital do ICMS e do IPI), a
ECD (escrituração contábil digital), a EFD Contribuições (escrituração fiscal
digital das contribuições PIS/Cofins) etc. De início, a implementação desses
controles eletrônicos foi turbulenta; surgiram dificuldades, prorrogações foram
feitas até que o novo conjunto de obrigações acessórias finalmente se
estabeleceu. O cerco do SPED é gradual. É como se fôssemos abraçados pela deusa
Durga. Primeiramente, dois braços começaram com um afago que foi ficando forte
até se se transformar num abraço de urso. Em seguida vieram mais e mais abraços
até ficarmos sem fôlego. E o melhor (pior) ainda está por chegar, visto que a
Receita Federal gostou da brincadeira e por isso não descansará até obter o
controle pleno e absoluto de tudo e de todos. A nota fiscal eletrônica já
alcançou todo mundo. A EFD ICMS, quase. A EFD Contribuições já abraçou as
empresas do lucro presumido. No momento, a Receita Federal trabalha
intensamente a modificação da ECD, de modo que esta venha substituir uma série
de obrigações acessórias hoje em vigor, incluindo a declaração de imposto de
renda das pessoas jurídicas. Ou seja, em 2015 quem fará a DIPJ (base 2014) será
a Receita Federal.
A
consequência dessa orquestração de tantos dispositivos de controle fiscal será
uma malha tão fina que identificará até mesmo o mais ínfimo dos erros. A precaução
hoje tão cristalizada na cabeça do brasileiro para não cair na malha fina
pessoa física será estendida para as pessoas jurídicas. Por exemplo, o médico já
há muito tempo aprendeu a ter cautela com a emissão de cada recibo de serviço
prestado porque sabe que qualquer deslize pode resultar em imensos
aborrecimentos com a Receita Federal. O mesmo comportamento ainda não é comum
nas empresas, as quais continuam fazendo estripulias de toda ordem com receitas
e despesas sem nenhum cuidado com a coerência das suas operações.
A
coisa mudou. Segundo o Professor Barini, a Receita Federal está de posse de
mais de cem mil notificações que estão sendo disparadas agora em maio, visto
que o prazo para retificação da ECD dos anos 2011/2012 expirou mês passado.
Quem não cuidou da regularização de erros cairá na malha fina, não importando
onde esteja: se perto ou longe; capital ou interior; ou nos rincões da
Amazônia. Todos irão receber suas notificações.
Esse
quadro preocupante nos diz que hoje em dia não há espaço para nenhum tipo de
erro. No modelo convencional (impresso), quando o contador detectava um erro na
escrituração contábil já fechada, torcia para que a empresa não fosse alvo da
fiscalização. E mesmo quando fiscalizada, torcia para que o auditor não
encontrasse o erro no Livro Diário. Contava a favor do profissional da
contabilidade a improvável possibilidade de análise detalhada do altíssimo
volume de registros contábeis. O problema é que o fiscal de carne e osso foi
substituído por outro, de bits e bytes. Agora, quem fiscaliza é um sistema que
roda em poderosos computadores que detectam até incongruências nos históricos.
E multam por isso.
Portanto,
administradores e contadores, acordem e comecem a trabalhar estratégias de
proteção e blindagem patrimonial. O pipoco começará já em 2013 e se
intensificará nos anos seguintes.
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