Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 18/09/2013 - A138
Um
olhar minucioso ao tema corrupção nos faz perceber que suas raízes são muito
mais profundas e capilarizadas do que o senso comum possa imaginar. Estamos tão
entorpecidos de graves perversões morais que só enxergamos os casos folclóricos
e midiáticos de corrupção. Na realidade, essa doença se transformou num
sinônimo de política, como se fatos correspondentes ocorridos no cotidiano de
pessoas comuns fossem deslizes inconsequentes. Dessa forma, a esperteza, tão glamourizada e “tão necessária” para a garantia do sucesso
profissional acaba frequentemente ultrapassando as fronteiras do tolerável. E
como nunca se pergunta ao vencedor se ele trapaceou no jogo, mais e mais
pessoas vão deixando pelo caminho alguns princípios éticos que não encontram
lugar na vida prática. E assim a epidemia da corrupção se alastra de forma
virulenta. Claro, sabemos que tudo isso só nos enfraquece como nação e nos
condena a um atraso crônico. Muitas empresas já se conscientizaram das consequências
nefastas da corrupção e seus impactos danosos ao patrimônio de qualquer
negócio. Daí, o crescente interesse pelos programas de compliance e de governança corporativa.
Na quarta-feira passada a novela Amor à
Vida ilustrou de forma didática como a corrupção está entranhada na vida do
povo brasileiro e como ela corrói o bolso dos que pagam impostos. Numa reunião
de prestação de contas da auditoria convidada para analisar contratos
superfaturados, o personagem Félix foi identificado como responsável por vários
casos de extorsão aos fornecedores da empresa do pai. Depois muita discussão e
baixaria a personagem Vega interferiu na polêmica ao afirmar que a corrupção é
algo comum nesse país; não só na política como também nas empresas, e que
funcionários do setor de compras costumam “levar um por fora” para escolher
esse ou aquele produto. O Félix complementou o assunto dizendo que os médicos
também cobram o “por fora” dos pacientes e que assim ele só fez o que todo
mundo faz. Daí sua revolta. Por que só ele deveria ser crucificado? Em outra
cena, Félix reconheceu o erro, mas disse que não roubou; só superfaturou
alguns contratos para aplicar o dinheiro desviado na constituição da própria
empresa. Sua avó então perguntou qual era a diferença entre uma coisa e outra.
Várias e várias respeitadas empresas
são fruto da “árdua dedicação” de pessoas “honradas” que no passado trabalharam
no setor de compras dos seus antigos patrões. O tempo passou, os negócios
prosperaram e a origem “daquele” capital inicial que antes incomodava, agora é
visto como uma esperta manobra do vencedor, que hoje é um ferrenho defensor da
ética empresarial. Os compradores das empresas são normalmente pessoas
distintas dos demais e alvo da inveja de colegas porque prosperam muito rapidamente.
Alguns têm o desplante de ostentar pompa e fausto sem a mínima preocupação com
a opinião alheia. Mas, curiosamente, seus pares se derramam em elogios ao
sucesso conquistado. Claro, quem não deve achar graça em nada disso é o patrão.
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