Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 24/12/2013 - A150
2013
será para sempre lembrado como o ano em que o gigante pela própria natureza
despertou do berço esplêndido. O Brasil tem hoje outra cara e outra
mentalidade. Toda aquela efervescência de junho passado não se dissipou como
fumaça ao vento. Pelo contrário, a onda de vigorosos protestos foi forte o
suficiente para marcar a alma do povo brasileiro, e enérgica o bastante para
influenciar as decisões dos detentores do poder. Na realidade, o Brasil estava
no caminho da revolucionária onda de choque desencadeada na Líbia pelo
desempregado Mohammed Bouazizi, que se imolou em ato desesperado contra as
injustiças do seu governo. Desde então esse terremoto sacudiu meio mundo até
chegar aqui, abalando as nossas estruturas sociais. O fenômeno da agitação
popular provou que o cidadão brasileiro não é tão domesticado como muitos
julgavam, e que, quando foi chamado ele se apresentou à responsabilidade de
defender seu país. E o que mais assustou a politicada corrupta foi a força
avassaladora das ruas e dos movimentos convulsivos a promover muito barulho e
depredação. E o pior, parece que ainda está por vir, visto que 2014 é um ano de
copa do mundo e de eleições, onde a massa populacional impedida de participar
da festa por conta dos altos preços dos ingressos ficará ainda mais revoltada
ao saber que a causa do péssimo serviço de transporte, saúde, educação etc.,
está no dinheiro desviado para a construção de arenas e estádios Brasil afora.
Um
fato curioso a se observar é que no mês que eclodiu a onda de protestos foi
também a data que entrou em vigor a lei da conscientização tributária (Lei
12.741/2012), a qual obriga o comerciante a informar ao consumidor o peso da
carga tributária embutida nos produtos e serviços. Sabemos que o motivo
principal das insurgências foram os tais vinte centavos, mas essa coincidência
não deixa de ser perturbadora. Outro fenômeno curioso é que o governo, no mês
dos protestos, resolveu adiar por um ano a obrigatoriedade das disposições da
Lei 12.741, como se quisesse contar com o desleixo e a desorganização da classe
comerciante para manter o povo na ignorância tributária. Só, que várias
empresas não atenderam ao governo e dessa forma, fazem questão de informar a
carga tributária embutida nos produtos que oferece aos seus consumidores.
Aqueles que ainda se esquivam de adotar tal procedimento não percebem que isso
é uma das maiores armas de combate à espoliação desmedida do ente tributante. E
também pode vir a ser um dos mais potentes instrumentos de controle social, visto
que um povo esclarecido é o pior dos pesadelos que um político pode
experimentar.
Mesmo
com pouca informação boa parte da sociedade já sabe que a dinheirama
desperdiçada pela incompetência e pela corrupção do governo sai do seu bolso. E
justamente aquele dinheirinho que falta para comprar o leite das crianças é o
mesmo que está servindo de estofamento das cuecas dos corruptos. É esse estado
de descaramento da nossa classe política que precisa ser combatido com
informação e esclarecimento do trabalhador a quem tudo é negado.
Os
governos das várias esferas começam a perceber o estado crescente de
insatisfação e revolta que incha no peito da população massacrada de tantos
impostos e péssimos serviços. Por isso, alguns comandantes do poder público já
estão adotando cuidado redobrado nas nomeações para cargos relevantes da
administração pública ao empossar gestores habilitados. Um bom termômetro dessa
postura administrativa é a pesquisa do IBOPE (13/12/2013) que avaliou o
Governador Omar Aziz como o melhor do Brasil, enquanto que no outro extremo
ficou o governo potiguar de Rosalba Ciarlini. Ou seja, o povo está mais atento
às ações dos seus governantes.
O
povo aprendeu e tomou gosto pelos protestos. Agora, por tudo se faz um
protesto. E é bom que esse comportamento torne-se uma prática corriqueira. A
população brasileira acordará no dia primeiro do próximo ano mais consciente do
seu papel social. A favor das mudanças positivas está o imenso contingente de
cidadãos conectados no Facebook e nas notícias que pipocam na internet. Na
contramão desse processo ainda continuam mergulhados nas escuras profundezas da
ignorância a gigantesca massa de miseráveis esquecida pelo mundo e amparada
pelos programas sociais do governo. Tais pessoas irão votar em quem lhes deu um
pouco de alento.
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