Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 25/03/2014 - A163
Devemos
perseverar como nação ou morreremos agarrados aos nossos próprios interesses. Essa
frase está no mais recente “300”, superprodução do diretor israelense Noam
Murro. O contexto da fala envolve uma circunstância de extrema pressão vivida
pelo general Temístocles, dias antes da batalha de Salamina. Os acontecimentos
subsequentes mostram o fantástico resultado de uma vitória improvável, cujo
êxito foi consequência da firme determinação dos bravos guerreiros que estavam
em número infinitamente menor que seus adversários. A implacável determinação
do povo grego, de defender seu território e sua cultura, é apontada por alguns
estudiosos como um grande exemplo de poder patriótico, o qual pode multiplicar
a força de um exército e intimidar os adversários. Esse símbolo de coragem vem
atravessando os séculos sem perder o vigor.
Pena
que tanta bravura e determinação só aconteçam no cinema. Do lado de fora da
sala de exibição a realidade é outra, com todo mundo circunscrito à região do
próprio umbigo. As entidades representativas de classe existem, sim. Mas os
associados são desprovidos da fibra que unia o antigo povo grego. Geralmente, o
papel do associado é reclamar da associação a qual é filiado. Mesmo assim, há exceções.
Os mototaxistas deram um show e uma lição de cidadania para o resto da
sociedade quando foram pra frente da prefeitura e só saíram de lá depois que suas
reivindicações foram atendidas. Recentemente, os lixeiros do Rio de Janeiro
souberam agir em bloco para conseguir melhorias salariais.
Já,
nas entidades mais sofisticadas e poderosas não se consegue enxergar a coragem
e a determinação dos lixeiros e dos mototaxistas. O que se observa é uma gama
de falatórios extensos e pouco produtivos. E para piorar, os diretores costumam
se aproximar por demais daqueles a quem deveriam fazer certas exigências em prol
dos interesses dos seus pares. Alguns desses dirigentes defendem a diplomacia
como instrumento de negociação; outros, acreditam que faltam posicionamentos
mais enérgicos e efetivos. Mais ainda, faltam resultados em áreas de extrema
urgência e importância, como a fisco tributária.
Os
empresários convivem diariamente com uma extensa lista de dificuldades
relacionadas à pressão exercida pelos entes fazendários. As reclamações e
discussões são inesgotáveis. Enquanto meio mundo de gente vive a se desdobrar
em infindáveis reuniões sobre os excessos fiscais, o ente fazendário segue sua
vida alheio aos debates e reclamações. Quando o confronto acontece, o objetivo
das demandas meio que se perde devido a argumentações inconsistentes e
desconhecimento da legislação tributária. Ou seja, quem cobra não sabe cobrar.
Desse modo, o Fisco continua sua rotina e seus projetos de expansão e
capilarização da arrecadação da forma que bem lhe aprouver.
É
possível que os excessos do ente tributante sejam decorrentes da falta de
diálogo com o contribuinte (tecnicamente mal preparado). A contribuição
simbiótica do empresário esclarecido poderia melhorar a qualidade da gestão
fiscal e também da arrecadação. Esse tipo de postura poderia ser adotado junto
a várias esferas e instâncias do poder público, mediante um sistema de captação
de demandas da sociedade com posterior análise e encaminhamento aos canais
competentes, sejam eles assembleias estaduais, secretarias municipais,
ministérios, prefeituras, congresso etc. Mas, claro, tais demandas seriam antes
trabalhadas em profundidade por equipes tecnicamente bem preparadas.
O
ideal é que as entidades representativas do poder econômico mantivessem centros
de altos estudos sobre matérias tributárias, econômicas, mercadológicas,
contábeis, jurídicas etc. Tais núcleos investigativos seriam compostos pelos
melhores profissionais do país e até do exterior. As atribuições desses estudiosos
seriam, por exemplo, dispor de posicionamentos e pareceres sobre as mais
diversas demandas tributárias, cuja consistência e solidez técnica pudessem reduzir
em muito, as possibilidades de contestação. Um grupo de estudos desse nível
estaria preparado até mesmo para propor a reconstrução do nosso cipoal de
normas tributárias. Atualmente, o poder executivo é quem toma iniciativa nas
proposições dos assuntos mais diversos. E quase sempre sem a contribuição de
representantes da sociedade organizada.
A
realidade nossa de cada dia mostra que aquelas qualificações do gestor tão
presentes nos livros de administração não são facilmente encontradas na maioria
das empresas. Ou seja, habilidades essenciais como as relacionadas ao
conhecimento contábil e tributário não são objeto de interesse dos empresários.
Eles só se preocupam com o produzir, comprar, vender e receber. E muitos ainda
se agarram ao empirismo, recusando-se assim a fazer um curso de alta gestão ou
treinamento sobre uma matéria específica. A maioria entrega a contabilidade da
sua empresa a um determinado profissional sem nunca validar a qualidade do
serviço prestado ou avaliar a possibilidade de riscos fiscais e até mesmo
riscos societários ou jurídicos. Por isso é que excelentes comerciantes têm seus
argumentos desmontados nas reuniões com entes fazendários.
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