Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 13/05/2014 - A169
O
empresário Barney Rouble aproveita o raro momento de descontração numa festa de
amigos para interpelar o concorrente Frederico Flinststone. O objeto da
conversa é pagamento de impostos; mais precisamente a quantidade excessiva de
tributos pagos pelo interpelado. O senhor Rouble atinge o senhor Flinststone
com palavras duras, como se tencionasse ridicularizar a insana atitude de
alguém que resolve cumprir plenamente a legislação fisco tributária. Em meio a
tanto barulho, o senhor Rouble diz que daqui a cinco anos ele terá uma poupança
de sete milhões de reais referentes a impostos sonegados, enquanto que o tolo terá
entregado o mesmo valor para o governo torrar nos esquemas de corrupção.
Infelizmente,
o sonegador Barney está certo quanto ao destino do dinheiro dos impostos. Esse
é um lado da moeda. O problema é que o governo corrupto é também um tirano
forte e impiedoso, que possui um arsenal bélico pronto para combater aqueles
que sonegam ou que clamam por justiça fiscal. O governo tem o poder; o governo
manda; o governo intimida; o governo pinta e borda. Ou seja, é perfeitamente
justo lutar contras as forças destruidoras de empresas. A questão é desenvolver
uma estratégia viável e inteligente de luta. Por exemplo, não pagar imposto
nenhum é colocar a “retaguarda” na janela, ficando-se por demais exposto a todo
tipo de intempérie e a “outras situações” constrangedoras. Dessa forma, quem
tem nas mãos a responsabilidade de manutenção dum negócio corre o risco de ser
devorado pela decisão errada.
O
outro lado da moeda consiste na disposição de promover uma brutal e penosa
reengenharia na estrutura do negócio. Sabe-se que poucos estão dispostos a
enfrentar esse desafio. Comerciantes tradicionais e cansados dos anos de luta têm
sérias dificuldades de se reinventar. E é justamente isso que o SPED exige das
empresas: uma substancial revolução nos processos operacionais. Apesar do custo
e da complexidade burocrática, algumas empresas contam com núcleos de
excelência fisco-tributária e assim estão conseguindo trabalhar de modo
sustentável.
Fala-se
muito sobre SPED, mas poucos mergulharam nas suas entranhas. A arquitetura
lógica do SPED Fiscal (EFD), por exemplo, é um primor da engenharia de
sistemas, visto que interliga uma imensa gama de processos até formar uma
espécie de equação matemática. Na realidade, o SPED é uma inteligência que relata
de modo detalhado os fenômenos fiscais ocorridos num determinado período de
tempo. E faz isso de tal forma que conversa com aquele que sabe sua linguagem. Por
desconhecer a característica sorrateira dessa tecnologia é que as empresas
estão exibindo todo mês as suas “retaguardas” para o Fisco fazer o que quiser.
Por enquanto o Fisco não está fazendo muita coisa. Por enquanto...!!
Uma
característica curiosa do SPED é que ele foi tão bem projetado que o erro de
uma empresa é denunciado por outra. Tal fato ocorre sem que nenhum dos envolvidos
tenha ciência da denúncia. Exemplo: O comerciante Ípsilon comprou um lote de mercadorias
do distribuidor Xis pelo valor de R$ 20.000,00. Na nota fiscal que acompanha a
entrega da mercadoria consta o valor de R$ 8.000,00. A empresa Ípsilon faz a
devolução da nota fiscal subfaturada e exige outra nota fiscal com o preço
“cheio”. O distribuidor Xis encaminha outra nota fiscal com o preço correto.
Pois bem. Toda essa história é contada direitinho para o Fisco através do
arquivo SPED da empresa Ípsilon. E o mais curioso (temeroso) é que o programa
de validação fornecido pelo governo (PVA) não detecta esse tipo de coisa. Como
também não detecta uma série de outros erros fiscais cometidos pelas empresas.
Isso significa que muita gente está entregando de bandeja para o governo as
suas falhas operacionais “y otras cositas más”. Ou seja, o SPED é um
grandessíssimo alcaguete. Ele dedura tanto os próprios erros quanto os erros
dos parceiros de negócios.
Talvez
o Fisco ainda não tenha entrado de sola na escrituração das empresas de forma
massiva porque isso quebraria meio mundo de gente e também porque o próprio
ente fazendário ainda não domina plenamente o processo de auditoria eletrônica.
Mesmo assim, investe pesado na capacitação do seu quadro de auditores e
analistas fiscais e outros funcionários envolvidos com o assunto.
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