Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 08/05/2014 - A168
Já
se vão alguns anos desde que a nota fiscal eletrônica começou a se disseminar no
país até o Projeto SPED se transformar num caso de sucesso reconhecido
internacionalmente pela sua envergadura e engenhosidade. O mais interessante
(preocupante para alguns) é que o fisco amazonense vem se colocando na
vanguarda desse movimento. Para manter o ritmo regulamentatório e não aliviar a
pressão, a SEFAZ AM resolveu apertar mais ainda o torniquete para ver até onde
o contribuinte consegue resistir. A partir do próximo dia 20 o nosso ente
fazendário estadual irá bloquear os contribuintes que apresentarem divergência
de informações entre DAM e SPED Fiscal (EFD). Claro, sabe-se que esse aperto
irá quebrar os ossos da maioria das empresas enquadradas na obrigatoriedade da
EFD. Por isso é que algumas entidades de classe se mobilizaram para tentar
jogar essa obrigatoriedade lá pra frente. Conseguiram um pouco de fôlego, visto
que o prazo original era primeiro de maio.
A
realidade mostra que muita gente continua dando ao SPED o mesmo tratamento que
dava ao SINTEGRA, o qual era rodado, lá, de qualquer jeito, porque nunca
produzia consequências imediatas. Pois é. Essa recente determinação da SEFAZ AM
de bloquear os contribuintes é somente a ponta da primeira unha que o SPED
começa a mostrar. Muita, mas muita coisa vem pela frente. O repositório do SPED
é um colossal armazém de meta dados cujo processamento dependerá da evolução tecnológica
e humana dos entes fazendários. Tudo indica que as ações do fisco vêm acontecendo
de forma fatiada, visto que se ele resolvesse usar toda a munição guardada no
paiol do SPED metade das empresas quebraria duma hora para a outra. Mesmo
assim, o Palestrante da Alterdata, sr. Dante Barini comentou numa visita feita
a Manaus que muitas empresas no sul do país fecharam as portas devido a
passivos fiscais. A meta do governo é sempre trabalhar de forma intensiva para
manter um permanente clima de pânico generalizado, apostando assim no medo como
um grande inibidor da sonegação.
De
forma geral, as empresas ainda não estão plenamente preparadas para o SPED. O
motivo é muito simples e não está relacionado à complexidade da ferramenta
tecnológica, mas sim com o cipoal intrincado do nosso sistema tributário fiscal
alçado a uma escala burocrática sem paralelo na história mundial. Uma
assustadora e elucidativa matéria da revista Época Negócios mostrou que no
Brasil gasta-se em média 2.600 horas de trabalho por ano na administração da
burocracia fiscal, enquanto que nos países desenvolvidos o tempo é dez vezes
menor. As consequências dessa estupidez sistematizada, claro, é a oneração do
Custo Brasil e a repulsão dos investimentos internacionais sérios que ficam
chocados com o tamanho do monstro burocrático fiscal. Por isso é que os
estrangeiros aqui instalados cobram preços absurdamente mais altos do que nos
seus países de origem, justamente para compensar o Risco Brasil. Daí, que para
dominar o SPED é preciso antes digerir os milhões de detalhes fisco burocráticos.
Isso é demorado. Além do mais, esse processo digestivo atinge diretamente a
jugular das empresas sangrando seus parcos recursos financeiros. Por exemplo,
70 empregados da Natura trabalham somente com assuntos tributários. Diga-se de
passagem, 70 profissionais tecnicamente bem qualificados. E caros.
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