Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 25/06/2014 - A175
O
estabelecimento comercial do centro da capital paraense fatura em média R$ um
milhão por mês. Seu quadro funcional é composto de 40 empregados, sendo metade
vendedores. Os demais são repositores, estoquistas, operadores de caixa e
seguranças. No escritório trabalham três pessoas. Duas delas alimentam o
sistema ERP Sankhya com dados de mercadorias que chegam a todo o momento. A terceira
pessoa é a contadora, responsável pelos controles contábeis, tributários,
trabalhistas e gerenciamento geral da loja. As atividades financeiras, de compras,
de informática, além dos assuntos mais relevantes são de competência do próprio
dono do negócio. Mesmo dispondo de uma estrutura enxuta os dirigentes alcançaram
um nível extremado de qualidade do seu controle interno. Os 26 mil itens do
estoque estão com suas situações tributárias rigorosamente parametrizadas.
Tanto, que o arquivo eletrônico da EFD Contribuições é validado com sucesso no
PVA, logo na primeira tentativa. A estupenda qualidade obtida no gerenciamento
dos controles fiscais chamou a atenção da Secretaria de Fazenda do Pará, que
escolheu essa empresa para ser a primeira no estado a emitir a nota fiscal
eletrônica do consumidor.
Já
outra empresa, também comercial, de faturamento mensal inferior a R$ um milhão/mês
possui 20 funcionários com funções administrativas de retaguarda. Mesmo com
toda essa gente, a escrituração contábil da empresa está um ano atrasada e seus
controles fisco tributários são desastrosos. O ERP utilizado é todo
desmantelado e o cadastro de produtos simplesmente não existe. Os funcionários
consomem a maior parte das horas de trabalho consertando erros do passado e
apagando intermináveis incêndios. Consequentemente, o rumo e o propósito do empreendimento
foram perdidos em meio ao furacão de problemas decorrente da ingerência do
negócio.
A
primeira empresa possui uma gestão progressista e sintonizada com os avanços
tecnológicos e com as mudanças conjunturais do mercado. Sintonizada também com
as pressões regulatórias do poder público. A segunda empresa se manteve
agarrada aos paradigmas existentes lá no início da sua fundação. Ou seja, o
tempo passou, o mercado virou de ponta-cabeça, o governo criou mecanismo
avançados de controle fiscal e nada disso foi motivo suficiente para debelar o
anacronismo entranhado na alma dos diretores.
O
tempo passa, a conjuntura muda, o mercado se modifica e a tecnologia avança
como um tsunami por cima das empresas e das pessoas. Os últimos anos vêm sendo
marcados por profundas modificações na gestão tributária e contábil das
empresas. Quem não percebeu isso vai morrer sem saber de onde veio o tiro.
Aliás, muitos já morreram e outros estão agonizando nesse exato momento. Tal
fenômeno vem se manifestando mais acentuadamente nas firmas de contabilidade
desalinhadas com os rumos que as coisas estão tomando. E se elas não estão
conseguindo fazer a transição tecnológica, menos ainda estão preparadas para ajudar seus clientes a lidar com o espinhoso desafio de profissionalizar suas
equipes de trabalho.
A
era do papel acabou, faz um bom tempo. Mesmo assim, muita gente não consegue se
livrar do hábito de receber mensalmente no seu escritório, pacotes e pacotes de
documentos embaralhados para serem posteriormente decifrados e transformados em
registros contábeis. O resultado desse hábito é um mingau grosso e encaroçado. Essa
prática antiquada causa muito desgaste e atritos frequentes entre o prestador
de serviços contábeis e a sua clientela. A “culpa” de tudo isso é da máquina
fiscalizatória governamental que vem aprimorando seus instrumentos de controle
e assim dificultando sobremaneira a vida do sonegador bagunçado.
Cada
vez mais acuado devido a tantos chacais no seu encalço, o único caminho que
resta ao empresário é o da profissionalização do negócio. Essa premissa é
válida para todo mundo, grande ou pequeno: ou se adota um padrão mínimo de
gestão empresarial ou fica-se largado nos descaminhos da vida.
Quanto
aos prestadores de serviços contábeis, estes precisam se adequar a essa nova
era tecnológica através de pesados investimentos em modernos sistemas
informatizados de gestão contábil; e também no desenvolvimento de modelos
eficientes de prestação de serviço, além, claro, da capacitação intensiva dos
seus recursos humanos. Ou seja, é impossível fazer uma omelete sem antes
quebrar os ovos.
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