Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 30/09/2014 - A185
Por esses dias, numa reunião com empresários, o gerente do Banco da Amazônia, sr. Márcio Coutinho, informou que cerca de meio bilhão de reais continuam disponíveis para aplicação em projetos econômicos aqui, no Amazonas, enquanto que em outras regiões os recursos do mesmo fundo de investimento já foram total e rapidamente utilizados. Essa constatação evidencia um quadro clínico ruim da saúde gerencial de quem precisa alavancar os negócios. Os problemas começam na falha dos projetos de viabilidade econômica e continuam na documentação desestruturada. Outro recorrente e gravíssimo motivo de tanta desaprovação está na falta de escrituração contábil. Tantos embaraços denunciam uma crise de gestão estabelecida no coração das nossas empresas. Há um caso emblemático que ilustra bem esse quadro calamitoso. A empresa possui R$ 90 milhões em contratos e não consegue dinheiro barato para financiar suas operações, sendo obrigada a contar com o serviço de agiotas. E tudo por falta de atenção aos assuntos administrativos. Essa mesma empresa está em vias de perder valiosos incentivos fiscais de redução de imposto de renda e ainda por cima foi colocada na mira da Receita Federal. Todo esse rebuliço se deve, principalmente, ao descaso contábil.
A
cultura empresarial predominante desconhece a importância da contabilidade,
tanto aquela exigida pelo fisco quanto a mais importante, que fornece
informações gerenciais ao administrador. Dessa forma, o amadorismo e o
despreparo costumam prevalecer nas atitudes e na mentalidade de quem toca seus
negócios aos trancos e barrancos. Outro problema muito sério está relacionado
com a forma de arquivo dos documentos, onde é possível verificar uma gama de
possibilidades criativas, com papéis acondicionados em pastas e caixas de
diferentes tipos, tamanhos e localizações diversas. Encontrar o que se precisa
é quase sempre uma epopeia. Daí, que, justamente, esse pessoal desorganizado é que
se dirige ao banco para pleitear recursos necessários ao atendimento de
expectativas expansionistas no seu mercado de atuação. Depois da negativa
começa toda uma onda de fofocas relacionada à falta de apoio público ao
desenvolvimento regional, como se a culpa fosse da entidade financeira.
Esse
comportamento anacrônico (facilmente detectado) não somente é danoso nos
momentos de perda de grandes oportunidades econômicas, como também em várias
outras atividades diárias. E ainda pesa na balança do amadorismo uma série de
riscos decorrente da má gestão fiscal e tributária. O descuido com o
gerenciamento dos cadastros de produtos, fornecedores, clientes etc., tem
produzido constantes e crescentes níveis de estresse, aborrecimentos e conflitos
entre colegas de trabalho, com reflexos negativos junto a clientes e
fornecedores. Isso, fora uma série de outros desajustes que permeiam toda a
estrutura organizacional.
Talvez
o motivo de tantos problemas esteja na negação da realidade presente em todos
os cantos do país. De fato, muita coisa mudou nos últimos anos. Vivemos uma era
tecnológica onde tudo está se conectando, tudo está acontecendo por meios
eletrônicos, tudo está sendo convertido para formatos digitais: comunicações de
massa, interações pessoais, operações comerciais etc. Ao mesmo tempo em que
tais fenômenos acontecem, o governo se vale de tudo quanto é meio disponível
para se entranhar nessa estrutura tecnológica que está engolindo o cidadão por
inteiro. Ou seja, se a operação utilizou algum meio eletrônico, então o Fisco
já fez o registro no seu banco de dados.
Tantas
variáveis se sobrepondo umas às outras pode deixar muita gente atordoada, mas,
infelizmente não dá para ignorar uma realidade opressiva que já tomou de conta
das nossas vidas. Sendo assim, a única solução possível passa pelo caminho da
profissionalização de funcionários e dirigentes. Nesse processo, é cabível e previdente
dar atenção especial à contabilidade da empresa. A escrituração contábil é
simplesmente o farol capaz de iluminar os caminhos escolhidos pela alta
administração. Sem informação contábil as decisões acabam sendo pautadas pelo
achismo equivocado ou pelo faro desregulado.
#GESTÃO
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