Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 07/10/2014 - A186
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Mais
de R$ 1 bilhão em fraudes no Seguro Desemprego e Abono Salarial; R$ 4 bilhões
lançados por conta de diferença entre Folha de Pagamento versus GFIP; R$ 2
bilhões levantados e/ou recolhidos de FGTS sob ação fiscal etc., etc. Tantos
números superlativos são mais do que suficientes para impulsionar o mais
ambicioso módulo do projeto SPED. Apesar de vários atropelos e adiamentos,
parece que finalmente temos uma data definitiva para início das operações do
eSocial, o qual pretende mudar radicalmente o modo de relacionamento entre
patrão e empregado. Sua arquitetura foi concebida de forma a relacionar uma
imensa quantidade de informações com o objetivo de detectar inconsistências
quanto à aplicação das normas legais vigentes. Ou seja, o eSocial não cria nada
de novo – visa apenas fazer cumprir o que já existe em termos de normatizações
trabalhistas e previdenciárias.
O
colaborador da Receita Federal nesse projeto, sr. Dante Barini, disse há poucos
meses que 95% das empresas erram na aplicação das normas trabalhistas e
previdenciárias. O leque de opções equivocadas se abre para infinitas
possibilidades, dependendo somente da criatividade dos gestores de recursos
humanos. Os casos mais corriqueiros e recorrentes estão relacionados com a
regularização da documentação do empregado em momento posterior a sua
contratação. Outra prática muito comum é retroagir a data do aviso de férias
para um funcionário que vai se afastar de uma hora para a outra. Ou então o
empregado é “demitido” somente para sacar o dinheiro do FGTS. Isso, fora os
acordos relacionados a Seguro Desemprego etc. Também, é muito comum as tais
regularizações de emergência daquele funcionário sem registro em CTPS que sofre
um acidente de trabalho. O eSocial pretende, inclusive, acabar com uma rotina amplamente disseminada nas empresas, que é o
fechamento da folha de pagamento antes do último dia do mês. Tudo isso tende a
desaparecer. E o motivo está na engenhosidade tecnológica e na sincronização
dos fluxos de dados trafegados entre a empresa e a base do SPED. Não haverá PVA
nem TXT. Cada evento será transformado num arquivo XML e imediatamente
transmitido e organizado numa ordem de fatos cronológicos. Assim, no momento da
recepção de um recibo de férias, por exemplo, o sistema verificará se um mês
antes houve registro de aviso dessas mesmas férias.
Na
realidade, o eSocial pretende organizar uma bagunça criada pelo próprio governo
e suas leis malucas. Sabemos todos nós que o pior do pior em termos normativos
está no Brasil. Conforme dados do Banco Mundial, em dez anos, 180 países
reduziram a complexidade e o custo regulatório, como condição necessária ao
desenvolvimento econômico e social. Quanto a nossa realidade tupiniquim, o
próprio presidente do Tribunal Superior do Trabalho, ministro João Oreste
Dalazen, disse que a legislação trabalhista é excessivamente detalhista e
confusa, o que gera insegurança jurídica. Consequentemente, suas disposições
não são cumpridas, concorrendo assim para o colossal volume de ações que
tramita na Justiça. Disse ainda que a CLT cumpriu um importante papel no
período em que foi editada, mas hoje deixa muito a desejar. Resumindo, nossa
burocracia é nove vezes maior do que a média mundial. E o eSocial tem como meta
conferir lógica e racionalidade a toda essa montanha de entulho burocrático.
Por isso é que a implementação desse projeto ambicioso está sendo tão difícil.
O governo está mais perdido do que cego em tiroteio; e as empresas continuam
atordoadas sem saber direito o que está acontecendo. Essa é a realidade do
eSocial.
Como
de costume, o governo conta com a preciosa colaboração das software houses e
das consultorias especializadas que veem no projeto eSocial um fabuloso meio de
ganhar muito dinheiro com soluções tecnológicas e gerenciais. Para esse pessoal
tudo é muito fácil: basta ter disposição e muito dinheiro a ser investido numa
gastança monumental com radicais mudanças nas estruturas de gerenciamento dos
recursos humanos. Afinal de contas, o eSocial é lindo, maravilhoso e
revolucionário até a coisa pipocar pra tudo quanto é lado, com gente correndo
pra cima e pra baixo em meio ao lamaçal burocrático extremamente fedorento.
De
qualquer forma, o eSocial tem suas virtudes. Uma delas é justamente esquadrinhar
o emaranhado cipoal de normas trabalhistas, obrigando todo mundo a olhar com
mais atenção para os desmandos e excessos de um sistema legal perverso que mais
destrói do que protege o trabalhador – na medida em que traz um gigantesco
custo com encargos, burocracia e gastos judiciais. Tanto dinheiro jogado no
ralo da insanidade burocrática bem que poderia engordar os salários dos
empregados. Outra virtude tem a ver com a organização dos processos internos
das empresas. É possível que após o período crítico de implantação, o eSocial
ajude a desenvolver modelos de gestão mais eficientes, assim como aconteceu com
a nota fiscal eletrônica e com o SPED Fiscal. É bom lembrar que a realidade dos
fatos se avizinha e, portanto, a decisão mais sensata é se preparar da melhor forma
possível para essa nova obrigatoriedade. Não há outra opção.
#eSocial
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