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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 10/03/2015 - A203
Artigos publicados
Os governos
gastadores e corruptos baixam o cacete nos seus secretários de fazenda para que
eles deem seus pulos, se virem, e encontrem meios (legais ou ilegais) de
aumentar a arrecadação. A saída para a crise financeira é sempre a mesma:
aumentar impostos, cortar investimentos na saúde etc. A verdadeira fonte da
sangria dos cofres públicos se mantém intocada: mordomias, viagens, corrupção,
publicidade, estruturas burocráticas desnecessárias, cargos de confiança etc.
Somente na administração federal existem mais de 20 mil cargos de confiança,
enquanto que nos EUA são somente 5.500. A Alemanha inteira conta com somente
2.000. No nosso caso, se a conta envolver as administrações estaduais e
municipais os tais 20.000 são multiplicados pela quantidade de unidades estaduais
e municipais. São milhões de funcionários públicos sem concurso ganhando sem
trabalhar (salários altíssimos). Quanto à corrupção, essa não pára um minuto
sequer. Não há escândalo que impeça os funcionários públicos de continuarem
roubando descaradamente. Por isso é que as administrações fazendárias têm que
trabalhar dobrado para manter toda essa bandalheira. O problema é que o Fisco
perdeu sua legitimidade, uma vez que todos sabem para onde vai o dinheiro
arrecadado. E se não existe legitimidade, consequentemente já vivemos uma
tirania velada. E o Fisco há muito tempo sabe disso. Por esse motivo é que suas
ações são sempre carregadas de muita agressividade, ameaças, intimidações e
achaques. Quem passa o dia peregrinando nos plantões fiscais da vida sabe muito
bem o que é isso. Cada um desses descascadores de burocracia tem histórias
tenebrosas pra contar (histórias de abuso de autoridade do Fisco).
O
famoso escritor estadunidense Norman Mailer afirmou que nas democracias os
políticos exercem a força pela ética. Da mesma forma, o Estado impõe
determinações legítimas pela conduta imaculada dos seus membros. Ou seja, as
ações dos governos democráticos precisam ser legitimadas pelos seus cidadãos;
caso contrário, o regime se transforma em tirania, como por exemplo, Coreia do
Norte, Cuba, Venezuela ou Estado Islâmico. O governo brasileiro vive atualmente
uma seríssima crise de legitimidade. A corrupção, tão sabida de todos, mas ao
mesmo tempo amortecida por piadinhas de botequim, explodiu numa sequência
interminável de bombas que não param de estourar no país inteiro, como se tivéssemos
um réveillon de Copacabana pipocando 24 horas por dia em cima das nossas
cabeças. O brasileiro há muito tempo parou de se indignar com a bandalheira dos
homens públicos, não mais se incomodando com roubos, mentiras e impunidade. O
problema é que os fatos escabrosos se tornaram tão volumosos que não
conseguimos ter um pingo de sossego, por mais que tentemos fugir do bombardeio
midiático. Consequência desse estado calamitoso, o ente público, em todas as
suas facetas, instâncias e representações está inteirinho mergulhado na lama.
Tudo é visto com desconfiança; não acreditamos mais em nada. E o pior que todo
dia somos impactados com novas presepadas, como por exemplo, a malfadada Bolsa Patroa,
evidência insofismável de que o poço da esculhambação não tem fundo (sempre é
possível descer mais e mais).
Bem
no meio desse pântano apodrecido encontra-se o Fisco, com suas mirabolantes
engenharias confiscatórias prontas para ordenhar mais alguns litros de sangue
do já anêmico contribuinte. Isso, sem contar o louco e impraticável universo
das obrigações acessórias, cujas disparidades e profusões se expandem ao
infinito. Para completar o pacote de maldades, o Fisco aponta sua completa
artilharia na direção do pobre, deixando o rico livre dos impostos. Toda a monstruosidade
tecnológica dos controles fiscais tem como único alvo os tributos indiretos e daqui
a alguns meses, o trabalhador empregado através do eSocial. Os instrumentos
eficientes de arrecadação do imposto de renda estão todos direcionados para o
salário do trabalhador empregado; uma louvável eficiência de 100%. Quanto ao IR
das empresas, a coisa muda completamente de figura. A eficiência beira zero por
cento, uma vez que são infinitas as possibilidades de sonegação, ao mesmo tempo
em que a capacidade de fiscalização é minúscula por insuficiência de pessoal.
No caso dos empregados, cada patrão é um primoroso auditor da Receita Federal. Resumo
da ópera, o imposto do empregado é calculado direitinho. Quanto ao imposto
patronal, parte expressiva dos pequenos empreendimentos simplesmente não paga,
e as grandes organizações econômicas acionam advogados e lobistas para fugir da
tributação.
Enquanto
o SPED FISCAL tem mostrado uma impressionante eficiência, o conflito
Contabilidade Fiscal versus Contabilidade Societária vem se arrastando desde
2008 sem que as soluções propostas tenham mostrado um décimo da eficiência do
SPED FISCAL. Por último, a tal da ECF chega, trazendo a promessa de pacificar
tais dicotomias. O problema é que sistema nenhum vai impedir as grandes
corporações de sonegar monumentais quantias de impostos. O fato inquestionável
de que isso é verdadeiro está na composição do nosso bolo arrecadatório.
Enquanto no Canadá o imposto de renda participa com 47%, aqui no Brasil é
somente 21%, sendo que grande peso desse montante vem do bolso do assalariado.
Por outro lado, nos Estados Unidos os tributos sobre consumo participam com 18%
no bolo arrecadatório, enquanto que no Brasil a participação é de quase 50%. Ou
seja, o alvo do governo é o consumo em detrimento da renda. Precisamente, a
renda dos ricos. Quanto à renda do assalariado, essa é alvo de artilharia
pesada. Resumindo, o nosso sistema arrecadatório é regressivo, em contraposição
ao regime progressivo dos americanos. Trocando em miúdos, o favelado que compra
um pacote de biscoito suporta a mesma carga tributária do magnata. O pobre
sofre calado; o pobre não tem advogados caros. Por isso o governo prefere
atacar os pobres com seu sistema regressivo de tributação.
Pois
é... Com tanta podridão jorrando no ventilador, o Fisco faz cara de paisagem,
e, alheio aos acontecimentos sismológicos segue seu discurso de conferir
eficiência à máquina arrecadatória através de constantes e sistemáticos apertos
no cinto do contribuinte (o de fato). A última do governo foi a majoração
estratosférica do sistema de desoneração da folha de pagamento, instituído
justamente com a promessa de amenização da carga tributária. Como é sabido de
todos, o objetivo desse sistema foi combater o tal fenômeno da pejotização. Agora,
a intenção embusteira ficou escandalosamente evidenciada.
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