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Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 17/03/2015 - A204
Artigos publicados
O show de horrores
que inunda os finais das tardes televisivas nada mais é do que uma caixa de
ressonância do que acontece nos altos escalões da política. Daí, o motivo dos
entes públicos não se interessarem efetivamente pelo combate ao câncer da
impunidade. É preciso concentrar esforços na desmoralização da instituição
policial com baixos salários e falta de recursos para trabalhar. É preciso que
o poder judiciário continue soltando bandidos para assim invalidar o esforço e
o sacrifício do trabalho das polícias militar e civil. É preciso também matar
de inanição as entidades penitenciárias com parcos recursos para que dessa
forma não haja meios de manter criminosos encarcerados. O bombardeio de
desmandos tem que ser intenso. Esse é o objetivo dos detentores do poder. Somente
uma população acostumada com a impunidade vai deixar o grande e verdadeiro ladrão
agir livremente. Isso é Brasil.
Jornalismo
em defesa da sociedade, o Blog na Boca do Povo noticiou a prisão do ladrão de
galinha Rafael dos Santos Cipriano no município pernambucano de Canhotinho. A
Polícia Militar fez um excelente trabalho, efetuando o flagrante e conduzindo o
ladrão, a vítima e a galinha para a Delegacia de Polícia. Conhecedores que
somos da nossa peculiar violência policial pode-se deduzir que esse bandidinho
pé de chinelo deve ter levado uma senhora surra temperada com muito xingamento por
ter cometido o hediondo crime de roubar uma galinha.
Terça-feira,
10 de março de 2015, o ex-gerente de Engenharia da Petrobras, Excelentíssimo Senhor
Pedro Barusco, chegou à reunião da CPI da Petrobras carregado de pompa e
circunstância. Pairava no ar um clima respeitoso e até mesmo reverencioso ao
depoente, como se o Papa Francisco estivesse ali, pronto para esclarecer as
dúvidas dos presentes. A tietagem foi tão ostensiva que o Relator e
interrogante, sr. Luiz Sérgio (PT-RJ), tomou um pito de um dos deputados da
comissão por não tratar o depoente de Vossa Senhoria. Para se ter noção do
cuidado e do melindre empregado no tratamento ao Excelentíssimo Senhor Pedro
Barusco, o Deputado Luiz Sérgio ficou claramente desconcertado e até nervoso
diante de tamanha celebridade, fato que o levou em determinados momentos a usar
o pronome “você” para em seguida o “Vossa Senhoria”; depois voltar para o
“você”, mais adiante alternar para o “Vossa Senhoria” etc., etc. Compreensível,
portanto. Uma vez que o foco de todas as atenções é um bandido posicionado
acima do grau máximo de qualquer sacerdote criminoso. Traduzindo: mestre dos
mestres da suprema arte da bandidagem. Daí, o motivo de tanta admiração e
reverência. Afinal de contas, quem dentre os presentes conseguiu roubar 97
milhões de dólares? Ahhh... se inveja matasse...!!!
Conhecedor
da cepa e do caráter dos inquisidores o senhor Pedro Barusco se sentiu
absolutamente confortável, não havendo assim, necessidade de externar nenhum
tipo de constrangimento. À sua frente, ninguém da plateia desse circo de
absurdos esboçou nenhum sentimento de indignação sobre o objeto da
investigação, tal qual seja, o roubo de mais de um terço de bilhão de reais dos
cofres da Petrobras. Os deputados provavelmente ficariam enojados se o caso
envolvesse a subtração de uma galinha ou de um pão da padaria. Aí, sim. É
provável que alguém chegasse até mesmo a vomitar. Pois, pois...
Voltando
às vacas magras, a atenção da deputalhada estava voltada exclusivamente para o
ataque ou a defesa do governo. Por isso o ladrão mor falou com a maior
naturalidade do mundo que começou a receber propina em 1997 (por iniciativa
própria). Depois de 2003 a roubalheira foi institucionalizada. Agora, imagine o
tamanho do rombo se um só quadrilheiro roubou o que roubou!! Não à toa (e até o
momento), o caso Petrolão é o maior esquema de corrupção da história
contemporânea. Mesmo assim, a única coisa que o meio político enxerga nessa
situação dantesca é a oportunidade de construir articulações demoníacas para
destruir o oponente e assim conseguir mais poder. Indignação fica na conta dos
idiotas que acreditam que honestidade vale alguma coisa num país de bandidos
engravatados.
Claro,
óbvio, do lado de cá, quem assistiu ao espetáculo de horrores pela televisão
ficou horrorizado com o tamanho da desfaçatez, do cinismo, do descaramento do
Excelentíssimo Senhor Pedro Barusco. Pena que o contingente de indignados
perfaz uma pequena parcela da sociedade, uma vez que a grande maioria permanece
alheia ao furacão que gira ao seu redor. Por conta desse estado de coisas, ao
que parece, chegamos todos nós ao fundo do poço. É o fim da picada. Tudo indica
que o governo e todos os homens públicos estão conseguindo fazer o que tanto
sonharam, que é anestesiar completamente a população brasileira, consolidando
assim um ambiente de completa e absoluta impunidade. Fato subsequente, logo,
logo será implantado por aqui o regime vigente na Venezuela. Vamos rezar para
que as manifestações de domingo surta algum efeito positivo.
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