Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 20/10/2015 - A229
Desde
o início de agosto a SEFAZ AM vem investindo pesado na campanha Nota Fiscal
Amazonense. Dessa forma, o órgão tem se apresentado à população como uma
entidade simpática e cheia de virtudes que combate os vilões sonegadores. Do
modo como as coisas são colocadas, pode-se enxergar nos comerciantes um grupo
de entidades malignas que deixam de recolher ao erário o dinheiro que vai fazer
falta no posto de saúde. Eles até criaram um mascote no formato de herói dos
quadrinhos. E como sabemos nós, todo herói que se preza precisa de um vilão à
altura. O projeto Nota Fiscal Amazonense tem os seus méritos, na medida em que
equilibra a relação de forças num ambiente de competividade empresarial. Mas é
salutar que haja espaço para o contraditório, para o equilíbrio de interesses;
espaço para o exercício da dialética.
A
SEFAZ não diz para o consumidor que fica com 42% do valor da conta do telefone.
A SEFAZ não vai até um bairro de periferia contar para os pobres esfomeados que
ela tributa a cesta básica com a maior carga tributária do Brasil e que por
isso mesmo o trabalhador leva pouca comida pra casa. Não fosse o peso extorsivo
dos tributos o cidadão poderia comprar o dobro de coisas. A população dos
Estados Unidos e do Canadá não tolera taxação sobre alimentos porque isso é
considerado uma infâmia execrável. A SEFAZ não pensa duas vezes em maltratar os
mais pobres com uma pesadíssima carga de ICMS sobre os alimentos e outros
produtos básicos. Tem mais uma: A SEFAZ esconde a real carga tributária. De
modo embusteiro a alíquota do ICMS de 30% da ligação telefônica é na verdade
42%. Ardilosamente, a SEFAZ utiliza um artifício matemático que faz com que o
ICMS seja base dele mesmo; coisa que não existe em nenhum país sério do mundo. E
ela quer ser a boazinha da história.
Algumas
vozes peçonhentas teimam em propagar aos quatro ventos que todo empresário é
sonegador e bandido. Quem diz isso fecha os olhos para o fato de que a SEFAZ já
cobra praticamente tudo na compra da mercadoria. Com a explosão do alcance das
regras da substituição tributária para uma gama incomensurável de produtos a
SEFAZ já antecipa a arrecadação com um dos maiores agregados do país. A loja de
materiais de construção já paga tudo antecipadamente. E os poucos produtos que
sobram são taxados pela antecipação do ICMS. Ou seja, A SEFAZ já enche os
cofres sobre vendas que ainda não aconteceram, pervertendo dessa forma, os
princípios elementares da própria natureza do tributo, onde é preciso plantar e
somente entregar parte da produção ao senhor da terra depois da colheita. Houve
um tempo em que o prazo para recolhimento do PIS era de seis meses (Boletim IOB
26/1987), enquanto que os prazos atuais são tão espremidos que o comerciante é
obrigado a pagar sem ter antes recebido o dinheiro das vendas.
A
SEFAZ AM demoniza os empresários, mas é campeã nacional de cobranças indevidas
de ICMS (cobra indevidamente e não devolve de jeito nenhum aquilo que não é
seu). Para completar o pacote de maldades, a SEFAZ viola frontalmente a Emenda
Constitucional número 3 que assegura a imediata e preferencial restituição da
quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido da substituição
tributária. Imediato, para a SEFAZ, tem prazo mínimo de um ano. Imediato é um
ano. Quem quiser testar os limites da paciência humana é só dar entrada num
processo de restituição na SEFAZ, que vai quebrar todos os ossos do
contribuinte, um por um, num ritual que mais parece tortura chinesa. Há um
processo meu (Reginaldo) que há três anos é jogado pra cima e pra baixo, sem
nenhum horizonte de solução.
Dias
atrás, a Associação Comercial promoveu um debate sobre a recente e abrupta
majoração da alíquota do ICMS para 18%; tudo feito com uma velocidade espantosa
e atropelativa da normalidade regimental da Assembleia Legislativa. O
parlamento estadual, como sempre, serviu apenas de órgão avalizador do
procedimento legislativo preparado pela SEFAZ. Tudo feito sem discussão, sem
análise e na correria. Alguns deputados, que por vezes representam o papel de
ponderados e responsáveis, votaram cegamente em tudo que o governo estadual
mandou votar – uma decepção para a classe empresarial e para o povão, que vai
pagar o pato (principalmente o pobre lá, do cafundó da periferia mais carente).
Fatos da casa legislativa relatados por alguns convidados causaram embrulho no
estômago. Mesmo assim, ficou claro que o tempo de levar desaforo pra casa já
passou. A FIESP está trabalhando arduamente na campanha #NaoVouPagaroPato e os
presentes à reunião da ACA resolveram reagir objetivamente à mais essa
majoração tributária.
Problema
maior está no fato de que essa majoração de um por cento não vai erradicar o
mal crônico da péssima gestão pública, que coloca orçamentos milionários nas mãos
de apadrinhados tapados e com zero capacidade administrativa. Prova disso é que
empresa nenhuma teria coragem de contratar um ex-político para cuidar da sua tesouraria
(seria suicídio). Outra prova constrangedora do descalabro da nossa gestão
pública está no fato de que o Ministro da Ciência do Reino Unido é PhD na
Universidade de Cambridge e diretor da escola de medicina do Imperial College
London, enquanto que o grande mérito do nosso ministro da ciência é ser dono de
um boteco chamado Barganha. O novo ministro da saúde está com o registro de
médico cancelado. Tempos atrás, tivemos um ministro da pesca que não sabia
pescar. Infelizmente, a esculhambação é a marca mais ostensiva da nossa
administração pública.
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