Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 4 / 10 / 2016 - A268
Timothy
Berners-Lee, criador da moderna internet (HTTP, HTML e WWW), declarou em 1999
que a web ideal era aquela onde os computadores seriam capazes de analisar o
conteúdo e entender as transações entre pessoas e máquinas. Diversos
experimentos tecnológicos atestam que a web semântica deixou o campo da ficção
científica para se juntar a outras realidades ainda mais revolucionárias. Claro,
obvio, o suprassumo de tantos avanços científicos é mantido sob o domínio das
grandes potências mundiais. O trabalho pioneiro do buscador Wolfram Alpha
inaugurou a categoria dos “mecanismos de conhecimento”, na medida em que buscou
sistematizar o conhecimento humano. Fez isso com ajuda de linguistas e
lexicógrafos munidos de dicionários que faziam correlações entre palavras e
enquadramentos conceituais para dar sentido a expressões mais usadas na
internet. O propósito era indexar tudo. Tudo, mesmo. Agora, imagine então uma
coisa dessas nas mãos do Fisco. Pois é. Não precisa imaginar.
Uma
recente publicação do Consultor Renato Matavelli alerta o contribuinte para o
aperfeiçoamento dos mecanismos de controle fiscal, onde técnicos e auditores
das secretarias de fazenda estão debruçados sobre estudos de alta performance
para processamento de Big Data. Equipes altamente capacitadas estão trabalhando
softwares de última geração para análise de dados via utilização de modelos
estatísticos e todos os demais recursos necessários para implementação do
projeto “Machine Learning”. Esse “Aprendizado de Máquina” trabalha os
princípios da inteligência artificial abastecendo o sistema com regras e
algoritmos de modo a capacitar o computador para tomar decisões baseadas na
interpretação de um universo de dados ao invés de seguir uma programação
objetiva. A tecnologia empregada nesse projeto permite que as máquinas aprendam
e também melhorem suas análises com a exposição a novos fatos.
Um
dos grandes objetivos do Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) é
justamente tornar mais célere a identificação de ilícitos tributários. Para
tanto, as administrações fazendárias vêm trabalhando intensamente na
racionalização do sistema tributário como um todo. O enrosco normativo ainda
vigente no país é o empecilho maior aos projetos de inteligência fiscal. A
Grande e insofismável estadista Margareth Tatcher disse certa vez que os
paraísos fiscais existem por causa dos infernos fiscais. Por estranho que possa
parecer, o nosso inferno fiscal acaba favorecendo a sonegação e outros crimes
mais graves. A sobreposição exacerbada de normas conflituosas dificulta a sua
transposição para sistemas lógicos e matemáticos. Daí que, desde a Emenda
Constitucional 42, passando pelo primeiro Encontro Nacional de Administradores
Tributários, na Bahia, e o colossal esforço em prol duma faxina normativa, o
Fisco vem trabalhando intensamente na organização dum modelo que encontre
ambiente propício ao advento definitivo da inteligência artificial.
Mesmo
com tantos empecilhos burocráticos desfavoráveis ao trabalho dos técnicos
fazendários, algumas experiências demonstraram eficácia animadora. Uma
determinada secretaria de fazenda montou uma equipe formada por especialistas
em informática, professores de linguística, estatísticos e tributaristas para
desenvolver um modelo de análise que relaciona produtos com suas respectivas
classificações fiscais. O objetivo era a identificação de inconsistências e
fraudes no ICMS. A experiência apresentou alto grau de assertividade pela
identificação de anormalidades relacionadas aos produtos estudados. Por
exemplo, o refrigerante transportado em caminhão de 15mil litros era na verdade
combustível.
A
SEFAZ baiana está utilizando informações do Google Street View e também a
identificação do IP de computadores no combate à sonegação. As operações ou
atividades suspeitas são alvos dessa nova empreitada, que é denominada de
“diligência remota”. Por exemplo, uma operação isenta, mas de grande volume
destinada a uma pessoa física revelou que a mercadoria seguiu para um grande
depósito de bebidas. Num outro caso de operação milionária o destinatário era
uma casa simples da periferia, indicando assim uma ação altamente suspeita. Os
técnicos fazendários estão vinculando os IP dos computadores que transmitem as
notas fiscais eletrônicas ao endereço físico do estabelecimento, fato esse, que
está ajudando e muito o trabalho de investigação e aplicação de autos de
infração.
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