Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 30 / 1 / 2018 - A 323
O
recente desembarque de uma distribuidora na capital amazonense suscitou a
necessidade de elaboração dum mapeamento fisco tributário da nossa estrutura
normativa, a qual se diferencia de todo o restante do país. A política de
incentivos fiscais em vigor é demasiado complexa e por isso mesmo demanda uma
análise meticulosa do alcance de cada desoneração; suas particularidades e seus
limites técnico/legais. O risco está na inobservância de alguns aspectos
sinuosos que podem convergir para um estado de ruína patrimonial, o que é
especialmente danoso para acionistas, empregados, fornecedores e demais
parceiros de negócios – incluindo a figura indigesta desse rol, que é o próprio
governo. O previdente contador da empresa tratou de estudar o regulamento
inteirinho do ICMS, bem como o código tributário estadual. Claro, obvio, todo
esse trabalho de pesquisa cumpre apenas uma parte de algo maior, que é a
construção da base de conhecimento necessário ao bom desempenho das atividades
diárias pelo quadro de funcionários.
A
razão de tantos cuidados está no alto grau de subjetividade que envolve o nosso
ambiente legal, o que incorre numa exagerada concentração de poder nas mãos de
agentes inescrupulosos. Vivenciamos um clima de ditatura interpretativa. E isso
é especialmente perverso devido à falta de clareza normativa e também porque tal
disfunção fragiliza aquele que não dispõe de musculatura suficiente para brigar
com o Fisco. A legislação tributária é cheia de contradições, sobreposições e
violações do ordenamento jurídico, o que acaba dando margem para inúmeras
contestações judiciais. Isto é, se por um lado os grandões encontram meios para
não pagar o que devem ao erário, por outro lado, os pequenos compensam o
desfalque financeiro com uma brutal sobrecarga de imposto e de excesso
burocrático. Na prática, o que funciona mesmo é o jeitão característico das
agências fazendárias. Daí, a vital importância do mapeamento fisco tributário,
justamente, porque ele compreende o aspecto normativo e a questão cultural
enraizada no comportamento dos funcionários públicos. O desafio está no sutil
equilíbrio entre uma coisa e outra, por causa da dosagem aplicada em cada item
pautado no dito mapeamento.
Consequentemente,
um projeto desse porte ganha volume porque cada item da pauta se desdobra numa
análise minuciosa, incluindo até, se necessário, soluções de consultas emitidas
por órgão fazendário. Infelizmente, a cultura e os procedimentos fiscais costumam
se desenvolver à revelia da norma escrita. Ou seja, o texto dificilmente esclarece
todas as possíveis dúvidas que surgem no processo de operacionalidade prática.
E para embolotar esse cenário de variáveis inconstantes, a máquina legislativa
trabalha num ritmo alucinado; todo dia, são páginas e páginas de volumosas
regras publicadas nos diários oficiais. A cada momento, é uma coisa nova que
nasce ou outra coisa velha que deixa de existir. Os próprios fiscais e atendentes
dos órgãos públicos ficam tão desorientados quanto os contribuintes. Não é
incomum encontrar várias dessas pessoas desatualizadas das normatizações
modificadas pelos seus colegas.
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