Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 7 / 8 / 2018 - A 339
A
complexidade normativa expande seus numerosos tentáculos burocráticos que
abraçam o contribuinte até matá-lo por asfixia. Quem administra uma empresa
sabe bem o que é isso. Daí, que a força motriz dos empreendedores acaba sendo
direcionada não para a expansão dos negócios e sim para a chuva de flechadas
recebida do Fisco. O relatório “Doing Business (2015)” do Banco Mundial posicionou
o Brasil no topo da ineficiência global com as suas 2.600 horas anuais
necessárias para a gestão da burocracia tributária. O mesmo documento mostra
que na Inglaterra esse dito índice é de somente 110 horas. Resumo da ópera: aos
olhos do mundo, somos uma aberração monstruosa que mata negócios, metralha a
geração de empregos, sufoca o espírito criativo, estimula a corrupção e fomenta
o parasitismo. A renda do trabalhador é quase que toda engolida pelo gigantismo
dos gastos públicos que cresce na forma de um câncer terminal. Resta-nos saber
quanto tempo ainda teremos de vida até que todos os frutos do nosso trabalho
sejam integralmente consumidos pelo funcionalismo. Resta-nos saber que tipo de
cenário pós-apocalíptico haverá depois da hecatombe arrecadatória. O pior de
tudo é que o abismo está diante de nós, mas ninguém toma uma atitude para frear
os auxílios moradia, os carros oficiais, as verbas de gabinete, os salários
astronômicos, as multiplicações de órgãos públicos, a criação de novos
municípios, as licitações fraudulentas, o aparelhamento do Judiciário, a
impunidade etc.
A
função primordial dos órgãos fazendários é arrecadar, arrecadar, arrecadar e
arrecadar infinitamente. E também sempre buscar caminhos para mais e mais
arrecadar, não importando os meios para tal, não importando a capacidade
contributiva das pessoas físicas e jurídicas. Um dos grandes trunfos do Fisco
foi o de ter conseguido criar o monstro normativo que tem uns 200 metros de
altura, cospe fogo e aniquila tudo por onde passa. A característica fundamental
dessa criatura dos infernos está na sua indecifrável linguagem. O truque do
legislador foi exatamente construir tanta regra que no final das contas regra
nenhuma funciona porque ninguém encontra objetividade na legislação. Esse comportamento
bestial sustenta a famosa indústria do contencioso fiscal que tufa os bolsos de
advogados, políticos, auditores, membros do CARF, burocratas e toda a
biodiversidade que se alimenta da lama burocrática. A confusão normativa deixa
as empresas atordoadas porque não conseguem cumprir a risca cada vírgula das
milhões de páginas legais. Essa maluquice desvairada confere um poder
gigantesco aos Auditores Fiscais e uma fabulosa receita de multas por descumprimento
de obrigações acessórias.
Como
se defender duma coisa que ninguém compreende?
Pois
é. Curiosamente, nenhum funcionário público conhece 100% do texto legal, mas o
Contribuinte é obrigado sim, saber de tudo. Tudinho; tintim por tintim. Outro
aspecto perverso desse jogo de desigualdades: O agente fiscal pode errar na
interpretação normativa que não acontece absolutamente nada com ele, mas o Contribuinte
é açoitado em praça pública por uma vírgula fora do lugar.
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