Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 14 / 8 / 2018 - A 298
Eis
que o cliente pergunta ao garçom: – O que temos pra hoje? A resposta deixa o
estômago assustado. – Nosso cardápio especial contempla jiló empanado na banha
de caititu, sopa de rapadura defumada, chibé acebolado, maniçoba flambada no
corote e salada de urtiga agridoce. Para sobremesa, você pode saborear o nosso
delicioso picolé de chuchu diet ou experimentar a maravilhosa gelatina de quiabo.
Pois, pois... É esse o exótico cardápio político apresentado ao povo brasileiro,
que terá a enfadonha missão de fazer suas escolhas a partir da indigesta gororoba
eleitoral.
O
tempo passa, os escândalos pipocam na mídia, delatores rasgam a barriga do
submundo político, milhões de protestos fervilham nas redes sociais, mas o
caquético e anacrônico jogo político se mantém inabalável. É possível até que determinado
candidato seja uma excentricidade, por fugir do centro vicioso. Mas,
infelizmente, falta clareza do tino à grande massa de votantes, o que nos leva
a permanecer estacionados no vergonhoso atraso civilizatório da corrupção e do
descalabro administrativo. Gerações vêm e vão enquanto a política dos coronéis segue
negociando lotes de eleitores entre os diversos currais eleitorais. Nesse
sistema, os cargos públicos são definidos antes mesmo da campanha oficial, como
se não houvesse votação. Tal modus operandi assusta aquele observador mais
atento pelo forte cheiro de manipulação que paira no ar. Ainda mais, quando a
inviolabilidade da urna eletrônica é duramente questionada na internet.
Nada
de novo sob o sol.
Carrancas
deslavadas, vernáculo contaminado pelo descaramento, gestos mancos, teatralismo
desconcertante e justificativas embaraçosas. Esses são os elementos-chave que
estão pautando a largada da campanha para ocupar diversos cargos que serão
renovados em 2019. Impressiona o fato de ninguém apresentar uma proposta
inovadora – tudo é muito surrado e muito puído pela mesmice. Mas um detalhe importante
pode ser observado pelo espectador cauteloso: Trata-se duma persistente expressão
de constrangimento sutilmente estampada no semblante dos oradores. Isso é um
indicativo do poder das redes sociais. Significa que boa parte dos eleitores já
consegue enxergar além da máscara. Pena que a maioria continua mergulhada no
pântano da ignorância. Tragicamente, é esse povo sem discernimento que define
os rumos da nação brasileira. É pra eles que o político fala. Como diria John Donne, for whom the bell tolls.
A
razão do dito constrangimento está na completa demolição do sistema político.
Os ocupantes dos cargos públicos superiores vivem dias sombrios e cheios de
incertezas quanto ao modelo estabelecido. Isto é, não se sabe exatamente o que
virá depois do dilúvio de acusações que desaguam na mídia todo santo dia. A
operação Lava-Jato estabeleceu o paradigma da culpabilidade, que antes era uma
peça de ficção científica. É bom lembrar que até pouco tempo atrás o corrupto
tinha plena e absoluta certeza da impunidade, sendo que a moda agora é prender
corruptos e corruptores. Apesar do ínfimo percentual de bandoleiros hoje
encarcerados, as imagens de figurões algemados (Sergio Cabral, por exemplo) já
cria uma tênue esperança de moralização da coisa pública.
Apesar
do espetáculo midiático produzido pela Lava-Jato, infelizmente, sabemos todos
nós que nada disso suprimiu a compulsão delituosa do agente público, que
continua mais agitado e mais acelerado na prática da roubalheira. Ou seja, é justamente
agora que os milhões de corruptos intensificam desvios de dinheiro para
exterior porque sabem do risco de quebradeira generalizada do país. É um
salve-se quem puder: “Vamos fazer o pé-de-meia antes do apocalipse”. O fato é
que a corrupção continua sendo um bom negócio porque tem muita gente lucrando
com isso. Gente grande, gente de todas as instâncias, do mais baixo escalão até
o topo da pirâmide institucional. É a grande Máfia Brasil pulsando
energicamente e mostrando a sua cara na forma de decisões judiciais
escandalosas e também na forma de bilionários gastos públicos desnecessários
etc, etc.
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