Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 14 / 5 / 2019 - A361
Analisando-se
a escalada dos preços ao longo da cadeia de produção/distribuição é possível constatar
o brutal impacto dos tributos indiretos sobre o bolso do consumidor. Por
exemplo, numa curta cadeia (indústria, atacadista, varejista, consumidor) uma
mercadoria nacional que sai da indústria paulista com o preço de R$100,00 destacado
no total da NF, chega ao consumidor manauara por R$448,01. Nesse caso, a carga
final embutida de impostos é de 40,32%. Separando-se imposto de produto, temos
uma carga real de 67,56%. Se nessa cadeia for acrescentada a figura do
distribuidor antes do atacadista, o consumidor terá que pagar R$866,84. Com isso,
a carga embutida sobe para 46,34% e carga real vai para 86,36%.
Num
cenário de total isenção dos tributos sobre consumo, o preço sem o distribuidor
ficaria em R$230,42. Na presença do distribuidor teríamos R$333,70. Resumo da
ópera: Com imposto R$866,84; sem imposto R$333,70. Ou então: Com imposto R$448,01;
sem imposto R$230,42.
Essa
política arrecadatória é mais perversa quando aplicada sem critério algum sobre
os alimentos. O Amazonas é a unidade federativa que mais tributa a cesta básica.
O pobre lascado de renda miserável que poderia gastar R$230,42 numa compra de
alimentos, acaba pagando R$448,01 por causa da tributação regressiva. Dessa
forma, a Sefaz/RFB retira metade da comida da boca das famílias pobres. Quem tem
rendimento mensal de R$30.000,00 pouco sofre com esse sistema tributário. Nos
EUA, nenhum tipo de alimento paga imposto algum.
Há
uma corrente doutrinária que defende a cobrança dos tributos sobre consumo
somente no final da cadeia de produção/distribuição, onde, de fato, ocorre o consumo.
Atualmente, os impostos sobre consumo incidem também na produção e na
distribuição. Vale ressaltar que os números aqui apresentados poderiam ser piores,
já que não se está considerando o tributo IPI que o consumidor amazonense paga
quando a mercadoria é importada. Se os tributos sobre consumo fossem cobrados
somente sobre o consumo, não haveriam alíquotas interestaduais de ICMS nem
repercussão tributária do produtor ao varejista.
Num
cenário de cobrança aplicada somente no final da cadeia de produção/distribuição,
o consumidor manauara pagaria R$340,61. Havendo participação do distribuidor, o
preço ficaria em R$493,29. Nesse cenário matemático, a carga final embutida
seria de 21,65% e a carga real (imposto separado do produto) ficaria em 27,50%.
Nessa
simulação matemática foram consideradas as seguintes premissas: 1) Regime IRPJ
Lucro Real para a indústria, o distribuidor e o atacadista; 2) Regime IRPJ
Lucro Presumido para o comércio varejista; 3) O estabelecimento que trouxe a
mercadoria de São Paulo só pode aproveitar crédito de ICMS; 4) Foi considerado
o custo operacional de 20% para todos os estabelecimentos comerciais; 5) Para
obtenção de 10% de lucro líquido, o atacadista e o distribuidor aplicou no
cálculo 15,15% de lucro bruto, enquanto que para o varejista foi utilizado o
percentual bruto de 13,08%; 6) Em todas as cadeias de distribuição foram utilizados
os créditos legais e ao mesmo tempo embutidos os impostos devidos. Os cálculos
estão numa planilha que pode ser baixada no site www.doutorimposto.com.br
Outra
característica medonha dos tributos indiretos é que, ao mesmo tempo em que são
calculados sobre o preço de venda, eles também compõem toda a formação desse
preço de venda. Daí, que ICMS, Pis e Cofins são base do ICMS; ICMS, Pis e Cofins
são base do Pis; ICMS, Pis e Cofins são base da Cofins. É o que se chama de
tributo sobre tributo. Lembrando, que o IPI é antes acrescentado ao custo de aquisição
quando a mercadoria é importada. Nas localidades que não possuem incentivos fiscais,
a incidência do IPI não segue essa particularidade da ZFM. Outra questão ainda
mais perturbadora tem a ver com a incidência de quatro tributos sobre uma mesma
base (bis in idem). Sendo assim, o consumidor paga IPI, Pis e Cofins para a
Receita Federal e depois paga mais ICMS para a Sefaz.
Essa
voracidade arrecadatória se traduz numa sociedade empobrecida pela extorsiva carga
tributária dos bens de consumo. Por isso é que tudo no Brasil é muito caro. O
brasileiro honesto trabalha dez vezes mais do que um americano para comprar o
mesmo objeto. É por conta de tantos impostos que observamos na internet a
brutal discrepância de preços entre o Brasil e os EUA. Curta e siga @doutorimposto
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