Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 14 / 04 / 2020 - A396
Se
você já parou para pensar como as decisões do poder público afetam o seu
cotidiano, se você quer saber para onde vai o dinheiro dos impostos, então você
vai gostar do accountability. Esse termo pode significar controle social,
fiscalização, prestação de contas etc. O accountability, na verdade, vai além. Seu
significado nos remete a uma postura cultural onde as pessoas trazem para si a
responsabilidade de guiar e de tomar decisões que visam melhorar as condições
estruturais em que vivem. Essa prática é materializada por meio da prestação de
contas dos órgãos públicos e também pela fiscalização cerrada de toda a
sociedade.
O
morador da cidade grande ou pequena tem o dever de acompanhar tudo que envolve
o orçamento público, para verificar se os gastos estão alinhados com as suas opiniões
sobre o que é bom para o coletivo. Dessa forma, os grupos sociais discordantes
vão pressionar as autoridades públicas quando identificarem sinais de gestão perdulária
ou de orientações descabidas. A Lei de Acesso à Informação permite que o cidadão
comum possa fazer consultas não sigilosas das ações governamentais, incluindo
até documentos digitalizados. O Portal da Transparência é obrigado a
disponibilizar material suficiente sem fazer questionamentos.
Pois
é. Nesses dias de desmantelamento planetário estamos enxergando nas redes
sociais um arremedo do accountability, que se traduz nas críticas incisivas aos
desmandos promovidos com o dinheiro dos impostos. Agora, está todo mundo sentindo
na carne os efeitos da balbúrdia e da bagaceira feita com trilhões de reais nos
últimos anos. Enquanto a Inglaterra anunciou que pagará até o equivalente a R$
15.000 para quem ficar desempregado, no Brasil os tais R$ 600 é objeto de inúmeras
restrições concessivas. Enquanto os EUA se dispuseram a perdoar impostos e oferecer
bilhões em empréstimos a fundo perdido, a nossa Sefaz sequer adia o recolhimento
do ICMS. Por aqui, todas as medidas anunciadas são pífias e excessivamente
burocráticas, onde os efeitos práticos só existem nos discursos demagógicos (somente
a panelinha consegue recursos na AFEAM).
O
descaso do brasileiro com a roubalheira dos corruptos está cobrando o seu preço
agora. Empresas e seus empregados; autônomos e outros trabalhadores da
iniciativa privada mergulharam na completa escuridão de incertezas sobre o dia
de amanhã. Por outro lado, o funcionalismo vive num planeta sem crise. Resta
agora saber se a chuva de desgraças que está caindo na sociedade brasileira vai
ser capaz de abrir os olhos dum povo que nunca lutou contra a gestão
fraudulenta dos agentes públicos.
Será
que agora esse povo vai tolerar os salários milionários, onde um procurador concursado
já inicia a carreira com R$ 30.000? Será que o povo vai aceitar construções de
novos estádios de futebol? Será que o povo vai engolir o desaforo de ver o STF
soltando ladrões do dinheiro público todo dia? Será que o povo continua aceitando
25.000 funcionários no Congresso Nacional?
Outra
pergunta: Quais entidades representativas da sociedade se reúnem mensalmente
para analisar os gastos da prefeitura, da assembleia legislativa, do governo
estadual, das secretarias, agências, conselhos etc.? Quais entidades são
capazes de manter sentinelas 24 horas por dia nos parlamentos para monitorar todas
as ocorrências? Quais entidades compram horários na televisão ou enchem a cidade
de outdoors com denúncias da gastança pornográfica que estamos saturados de ver
nos jornais? Quais entidades são capazes de reunir cem mil pessoas na frente do
STF ou do Congresso Nacional ou do Palácio do Planalto, para exigir a eliminação
imediata de toda e qualquer mordomia?
Está
na hora das entidades empresariais, das associações comunitárias, das reuniões
de condomínios e de qualquer movimento social se voltarem para o accountability.
Se isso não acontecer agora, então é melhor que o país inteiro caia no
precipício e todos morram desgraçados pela bandidagem dos agentes públicos; que
então nos transformemos logo numa Venezuela.
Um
povo covarde não é digno de honra. Um povo que se esconde em vez de lutar
merece é muita chicotada no lombo. Esse povo leniente não merece a covid19, mas
merece sofrer todos os agravantes. Não fosse a roubalheira e a safadeza dos
agentes públicos, haveria condições de efetivo amparo às empresas e aos cidadãos,
como está acontecendo nos EUA e na Inglaterra. Curta e siga @doutorimposto
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua mensagem será publicada assim que for liberada. Grato.