terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

CRÔNICA DO APOCALIPSE


 
Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio  dia  9 / 2 / 2021 - A420
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Num reduto feudal bem longe da Transilvânia habitava uma comunidade dividida por dois espécimes emblemáticos. No centro do território havia uma cidadela guarnecida por uma robusta muralha que conferia segurança e distinção aos privilegiados moradores, que, aliás, nutriam-se exclusivamente do sangue das pessoas que viviam do lado de fora da fortificação. O sangue dos pobres coitados fornecia energia e poder aos senhores feudais que criavam, executavam e julgavam as leis. As sanguessugas não plantavam nem colhiam nem fabricavam nem transportavam nem nada; suas atribuições eram focadas no inchaço da máquina burocrática para justificar a existência de tanta gente sugando o sangue dos verdadeiros trabalhadores. Esse pessoal no topo do poder institucional era ávido por mais e mais sangue. Eles estocavam sangue, desviavam sangue, desperdiçavam sangue, aumentando assim a demanda pela vitalidade retirada das pessoas que verdadeiramente trabalhavam nessa comunidade. Enquanto isso, o povo explorado era numeroso (vinte vezes maior) e esparramado por uma área gigantesca ao redor da fortaleza vampiresca. Semanalmente, cada morador adulto era obrigado a fornecer um litro de sangue para os senhores feudais. Essa era a lei.

A rotina seguia num ritmo sacrificante, mas suportável, até que um terremoto destruiu os casebres do entorno da cidadela, mas não provocou nenhum arranhão nas fortíssimas construções vampirescas. E para completar a desgraceira, uma densa chuva de granizo dizimou as plantações, acabando assim com toda fonte de sustento de muitas famílias. As sanguessugas sentiram o tremor e viram do alto das suas torres a população pobre gritando em meio ao desespero por tantas perdas. Como não comiam frutas, nem verduras, nem cereais nem nada de origem vegetal, os vampiros não se preocuparam com a catástrofe alimentar dos pobres escravizados. O governo parasita ignorou a fome dos servos vegetarianos e assim não diminuiu a demanda de sangue que deveria ingressar nos tanques (cofres) públicos. Ou seja, o povo pálido de fome continuou obrigado a retirar das veias o pouco de sangue que os mantinha vivos. Essa lei draconiana provocou um morticínio generalizado e, como resultado, o governador Wladvilçu exigiu que os sobreviventes compensassem o desfalque com mais sangue por habitante.

A parte mais estranha dessa história macabra é que os vampiros possuíam uma fragilidade notória. Ou seja, alho, crucifixo e água-benta dissolviam os vampiros e até mesmo os portões da cidadela. Mas, curiosamente, ninguém era capaz de organizar um levante popular que desse fim a tanto sofrimento. E os vampiros sabiam desse bloqueio psicológico dos explorados. Por tal motivo continuavam implacáveis nas extorsões sanguinárias (fiscais) para manter suas mordomias e suas depravações.

Pois é. Estamos no meio do furacão; no auge do apocalipse. E mesmo assim, o poder público por inteiro toca sua rotina completamente alheio à chuva de calamidades que desaba no setor privado. Enquanto pessoas morrem de fome impedidas de trabalhar pelo Ministério Público, esse mesmo Ministério Público exige que as empresas fechadas paguem extorsivos impostos para garantir seus astronômicos salários. Por exemplo, o salário do corregedor-geral do Ministério Público de Mato Grosso, Hélio Faust, é de R$ 173.703,94 e do procurador-geral de Justiça, José Antônio Borges, é de R$ 167.834,55 (Gazeta Digital 17/01/2020).

Enquanto 35% dos bares e restaurantes fecharam definitivamente no Brasil (Folha de São Paulo), o Poder Público segue sua gastança com leite condensado, chicletes, jatinhos e volumes colossais de gasolina numa época em que todo o serviço público está de licença remunerada (exceto o pessoal da saúde, segurança e cobradores de impostos). Somente o senador Izalci Lucas mantém 85 assessores. Agora, multiplique isso por cada parlamentar federal, estadual e municipal e veja o número pornográfico de dinheiro jogado no bolso desses aspones (somente no Senado Federal esse gasto é de R$ 388 milhões por ano). O que esse pessoal todo está fazendo nesse quase um ano de pandemia? Estão trabalhando em home office? O fato concreto é que o mundo está desmoronando em torno do setor público que permanece intacto e perdulário. Curta e siga @doutorimposto

 






























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