Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 27 / 02 / 2024 - A490
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Nas
culturas antigas o imposto era tido como penalidade de guerra. Ou seja, pagava
imposto quem tombava no campo de batalha, quem era incapaz de vencer ou de
fugir da espoliação. Talvez por isso, fomos destinados a viver numa luta
incessante contra a mão pesada do agente fazendário. Somos naturalmente aversos
a qualquer taxação; parece que isso está gravado no nosso DNA. E não é por
menos. Afinal de contas, o imposto, por si próprio, carrega uma sucessão de
fatos sangrentos que trituraram milhões de vidas para garantir a opulência dos
poderosos. A História também registra inúmeros episódios de insurgências afloradas
da revolta e da indignação, quando fome e desespero falaram mais alto. Ou seja,
tudo tem um limite. E no Brasil, a gastança governamental desenfreada testa
diariamente o limite do contribuinte. Somos testados pela pressão confiscatória
que alimenta a ganância do alto funcionalismo. Além disso, engolimos um sapo
cururu a cada corrupto protegido pelo sistema judicial. E assim, e apesar do
verniz ideológico, repetimos o modelo tirânico vigente nas eras passadas.
O
processo de independência dos EUA foi longo e doloroso. E talvez, o sofrimento
e o custo para escapar da faminta coroa inglesa tenha contribuído para a
construção do senso de responsabilidade sobre a máquina pública. Os
estadunidenses são especialmente atentos ao dinheiro entregue para o poder
público; eles cobram; eles se organizam num encadeamento de entidades
fiscalizadoras para monitorar tudo que se refere aos órgãos públicos. Por outro
lado, os agentes públicos, sabedores dessa permanente vigilância, se esmeram na
gestão dos recursos que abastecem o erário. Pode-se chamar isso de
accountability ou de controle social. Desse modo, o funcionário público
americano não se preocupa tanto se determinado projeto é justo ou injusto, mas,
acima de tudo, pesa sempre a opinião do contribuinte. Por exemplo, as pessoas
resgatadas pelo governo americano na Faixa de Gaza se comprometeram formalmente
a pagar os custos do transporte. Já, o governo brasileiro arcou com gastos
imensos na mesma operação sem cogitar a possibilidade de ressarcimento.
Na
visão do agente público brasileiro, não existe onipresença do contribuinte. O
funcionário público concursado, por exemplo, acredita que foi ungido ao passar
num concurso seletivo. Sendo assim, é digno de todos os privilégios,
reverências e imunidades, onde os demais devem se matar para bancar seu padrão
nababesco. Por exemplo, na pandemia, o patrimônio de milhões de pessoas foi
destruído para manter intacto, o alto custo do funcionalismo. Enquanto as
pessoas faliam ou morriam por falta de renda, o governador baixava o cacete nas
cobranças tributárias. Isso mostra que não existe no poder estatal, o efetivo
conceito de “servidor público”.
Quanto
aos políticos que administram o erário, fica claro a total desatenção ao
pagador de impostos. O presidente, o governador, o deputado etc., vão criando
projetos frenéticos disso e daquilo que são alimentados com o suor do
contribuinte. E todo dia ouvimos notícias sobre aumento de imposto para financiar
pé-de-meia estudantil, projetos culturais, auxílio-reclusão, bolsa atleta,
auxílio gás etc. A lista dos programas sociais é gigantesca, o que fomenta uma
cultura de dependência, como se houvesse uma fonte mágica que jorra dinheiro (Se
o governo paga tudo, pra que trabalhar?).
O
fato mais curioso de tantos projetos assistencialistas, é que até podem ser
justos, porém, os promotores da justiça social, em nenhum momento, consideram a
opinião de quem paga a conta. O contribuinte brasileiro é um dos mais
desrespeitados do mundo. E também um dos mais letárgicos e acomodados, já que
sofre calado em meio aos açoites tributários que arrancam seu couro. Precisamos
aprender com os agricultores franceses como se negocia com um governo
autoritário. A cena de esterco jorrando nas portas dos órgãos públicos
franceses é uma das coisas mais lindas já documentadas pela mídia em geral.
Quem sabe, um dia acordaremos do berço esplêndido. Curta e siga @doutorimposto.
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