Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 14/01/2014 - A153
Os
parasitas instalados no trato intestinal do indivíduo lombriguento consomem os
nutrientes ingeridos pelo hospedeiro de tal forma que no início da hospedagem
não provocam tantos incômodos, mas com o passar do tempo o estado de saúde do
enfermo vai sendo comprometido ao ponto de não conseguir mais ficar de pé. O
motivo do agravamento da doença é a expansão da população de vermes devoradores
de todos os recursos alimentícios. O estado terminal da enfermidade costuma ser
pavoroso, caso não seja administrada nenhuma medicação. Por conseguinte, o
corpo apodrece com lombrigas saindo por tudo quanto orifício. Parece que esse
estado pavoroso começou a desabrochar no Maranhão, visto que a quantidade gases
fedorentos é tão densa e volumosa que atravessou os oceanos, chegando assim às
narinas dos organismos internacionais de direitos humanos. Já os nossos
políticos não se incomodaram tanto porque o pântano em que habitam junto com os
caranguejos, sapos e lesmas é tão ou mais nojento.
Os
eventos que estão se desenvolvendo na terra dos marimbondos de fogo é mais do
que um sintoma de uma grave crise institucional (talvez até um apodrecimento do
tecido social). É um alerta para a nação brasileira sobre o efeito nefasto da
corrupção sistêmica. Há meio século no poder, a dinastia Sarney conseguiu
manter o corpo maranhense acomodado enquanto sugava o sangue da vassalagem. O
problema é que a expansão da população de ávidos corruptos chegou ao limite
extremo do suportável com a corrupção consumindo tudo e a todos.
Consequentemente, a administração pública perdeu as estribeiras numa espécie de
orgia ensandecida que jogou para o alto todos os pudores, não restando assim
uma só gota de decência.
O
Maranhão é um estado abandonado pelo poder público, com muitas quebradeiras de
coco babaçu que passam o dia inteiro trabalhando duro para a noitinha conseguir
comprar alguns gramas de açúcar e poucas colheres de óleo e talvez um pouco de
café, para repetir tudo no dia seguinte. Certa vez, um homem viajando de ônibus
numa estrada esburacada ouviu uma criança dizer: “Mamãe, já chegamos no
Maranhão. Olha só as taperinhas!!”. No período eleitoral os comícios se
apresentam como uma rara oportunidade de diversão, onde o povo se embriaga com o
belo e desconexo palavreado dos candidatos de sempre. O orgulho dos moradores
das taperinhas é ter a foto da governadora pendurada na sala.
No
Maranhão, como em outros estados da federação, governar é distribuir o mundaréu
de aliados políticos nos diversos escalões dos órgãos públicos. Por exemplo,
coloca-se um garoto bundão na vice-presidência de uma importante autarquia.
Afinal de contas, para que serve mesmo os órgãos públicos, senão para pendurar
um monte de tapados nos seus infinitos cabides? Assim, gente que nunca pescou
se transforma em ministro da pesca. Depois de empossado, o novo gestor que não
sabe bulhufas da sua pasta vai deixando a coisa acontecer por conta própria;
seus subordinados vão fazendo de conta que estão trabalhando e o usuário do
serviço público acaba aprendendo que tudo só funciona na base da propina. Se
ninguém está cuidando de nada e se tudo está entregue às moscas, consequentemente
algo ruim acaba se instalando. Ou seja, a inércia das autoridades aduba o
terreno onde prolifera todo tipo de desvio criminoso.
A
inércia e o descaso do governo maranhense diante de tantas advertências do
Conselho Nacional de Justiça só foram quebrados depois dos clamores oriundos do
exterior. E mesmo assim, muitos dias se passaram até que uma resposta destemperada
fosse proferida. O falatório tosco da governadora ecoou país afora como uma
constrangedora e grotesca ópera bufa, ficando evidente a péssima qualidade do
seu staff. Ficou evidente também o constrangimento do ministro Cardozo, cuja
expressão assustada não escapou da mira dos fotógrafos. A repercussão negativa
das atitudes da senhora Sarney parece ter provocado algum tipo de reflexão,
visto que posteriormente a televisão mostrou um ambiente mais equilibrado nas
imagens de outra reunião de autoridades para discutir a crise do sistema
carcerário de pedrinhas.
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