Reginaldo de Oliveira
Publicado no Jornal do Commercio dia 28/01/2014 - A155
Não
é novidade para ninguém que há muitos anos o governo vem adotando táticas
confiscatórias ardilosas para sangrar o bolso do contribuinte. O modus operandi
é sempre o mesmo: Primeiramente, é criado um artificioso clima de terror para
assustar a população. Em seguida, surge a proposta de criação de um tributo
provisório para atacar a causa do problema. Passado um tempo, alguma autoridade
diz em rede nacional que não pode abdicar da nova taxação porque tal procedimento
comprometeria determinados programas sociais e seus respectivos “bolsa isso”,
“bolsa aquilo”. Na realidade, o governo vive um eterno jogo de xadrez onde está
sempre avançando e empurrando o contribuinte contra a parede. Prova disso é a
curva ascendente da arrecadação. Daqui a pouco os números não vão mais caber no
painel do impostômetro. E o mais assustador é que tanto o inchaço da máquina
quanto a voracidade arrecadatória não param de crescer nem por um minuto.
Pois
bem. A quantidade de instrumentos disponibilizados pela legislação tributária é
fabulosa. É imposto, é contribuição, é taxação que não tem fim. O contribuinte
paga taxa para conservação de estradas, paga imposto para o financiamento da
educação, paga contribuição para custear a saúde etc. E depois paga pedágio,
paga conserto de pneu estourado no buraco, paga escola particular, paga plano
de saúde etc. Portanto, ninguém sabe o que foi feito com os quase dois trilhões
de reais arrecadados ano passado, porque só se vê reclamação do governo de que
não existe dinheiro para investimentos básicos.
O
fato mais perturbador na política tributária oficial é que o consumo é atacado
com uma virulência avassaladora, ao passo que a renda é deixada em segundo
plano (com exceção dos rendimentos do pobre assalariado). Ou seja, o Brasil
adota uma política inversa ao que é praticada nos países desenvolvidos onde o
consumo sofre pouca ou nenhuma tributação. Os grandes, os colossais
contribuintes brasileiros, devem horrores ao fisco, mas todos estão tranquilos,
passeando no caribe porque seus patrimônios estão protegidos pelo nosso sistema
jurídico, feito, exatamente, sob medida, para garantir que os ricos não sejam
incomodados. Conforme reclamação do presidente do Sindicato Nacional dos
Procuradores da Fazenda Nacional (Sinprofaz), senhor Heráclito Camargo,
publicada na ISTO É online, de 11/12/2013, o governo vem dificultando ao máximo
o trabalho dos procuradores, não lhes fornecendo sequer estrutura adequada de
informática. Por consequência, o montante de R$ 1,4 trilhão inscrito em dívida
ativa, mais a estimativa de R$ 400 bilhões sonegados deixam de ingressar nos
cofres públicos federais. Dessa forma, O governo prefere não mexer com os magnatas
ao direcionar todas as suas armas para o consumo, ficando evidente a constatação
de que musculosas forças sobrenaturais estão permanentemente agindo nos
bastidores.
Como
se não bastasse o paiol legislativo tributário entupido de munição, o governo
vem sorrateiramente investindo pesado em mais uma fonte de arrecadação.
Trata-se da chuva de autuações (mais precisamente uma tempestade) por
descumprimento de obrigações acessórias. Temos assistido ano após ano a um
crescente desfiamento de normas e redundância de normas, todas elas carregadas
de complexidades extremas. Tanto, que nenhum funcionário público compreende cem
por cento, aquilo que eles mesmos criam. Nenhum deles é capaz, por exemplo, de
conhecer cada vírgula de todo o projeto SPED, mas o contador da empresa, deve,
sim, saber tudo. A punição é aplicada e calculada por quantidade de erro. Ou
seja, cada erro, uma punição, como bem estabelecido está na Medida Provisória
627/2013. Dessa forma, um rio de dinheiro está desembocando nos cofres públicos.
Quando o governo percebeu essa fabulosa fonte de recursos, ele passou a concentrar
esforços na prolixidade das obrigações acessórias, justamente, porque sabe que
ninguém vai conseguir cumprir e assim, irá garantir mais uma fantástica receita
tributária. Pode se perceber isso pela estratosférica alavancagem do valor das multas,
visto que o SPED chegou acompanhado de penalidades exorbitantes. Mesmo as
pessoas correndo feito loucas de um lado para o outro para escapar das multas,
a maioria continua atolada no excesso de tecnicismo burocrático contido nos
manuais do SPED. O fato mais do que notório é que 99% das pessoas jurídicas não
estão absolutamente preparadas para todas as exigências do SPED. Não existe
cultura empresarial amadurecida na maioria das empresas brasileiras, sendo ainda
o improviso a marca mais evidente.
O
Amazonas, claro, não poderia ficar fora da festança. A Resolução GSEFAZ 37/2013
estabeleceu a obrigatoriedade do SPED fiscal para as microempresas. Os especialistas
sabem que nenhuma dessas empresas vai cumprir cem por cento essa nova obrigação
legal, visto que a maioria delas não possui estrutura de informática
minimamente adequada. O SPED exige um colossal investimento em pessoas e
processos, além de estrutura física e caríssimos sistemas informatizados de
gestão. O seu José, coitado, vai ter que vender o mercadinho para pagar as
multas decorrentes do descumprimento dessa nova obrigação criada pela SEFAZ. O
contador que recebe um salário mínimo de honorário não vai passar uma semana
nas dependências do cliente cadastrando NCM, CST, CFOP, alíquotas, origem,
códigos de IBGE, CEP etc., etc. A monstruosidade do SPED só criou a módica
quantia de quinze milhões de situações tributárias. E o seu José vai ter que
saber de cada uma delas. Um CFOP errado, uma multa.
O
pessoal da SEFAZ sabe muito bem o que está fazendo, mas mesmo assim está
fazendo. Curiosamente, aqueles que oficialmente são os aguerridos defensores da
pequena empresa, ou que assim deveriam ser; todo esse pessoal enfia a cabeça na
areia, se oculta e desliga o GPS do celular. Já, na mídia aparecem vistosos,
balbuciando os velhos clichês de sempre. No momento que são interpelados por
alguém esclarecido eles fogem para escapar de perguntas embaraçosas. Quanto ao
pequeno empresário, esse está órfão de pai e mãe.
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